
Nas aulas de EF, as atividades rítmicas e expressivas contribuem para o desenvolvimento harmonioso do aluno na medida em que estimulam a sua imaginação, atenção, coordenação de movimentos, educação estética, ao mesmo tempo que lhe permitem conhecer melhor o seu corpo, usando-o como meio de comunicação. O movimento humano apresenta três características singulares:
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- Plasticidade.
- Expressão.
- Ritmo.
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Plasticidade: A possibilidade de realizar uma grande diversidade de movimentos, tais como posturas, equilíbrios, saltos, voltas, passos, deslocamentos, etc., utilizando as técnicas corporais básicas – correr, saltar, puxar e empurrar, rolar, trepar, parar e arrancar, mudar de direção, traduz o caráter plástico do movimento. Podemos dizer que, tal como existe um vocabulário que permite escrever, há também um vocabulário corporal que possibilita a realização, em sequência, de movimentos variados.
Expressão: À possibilidade de realizar grande número de movimentos, junta-se a capacidade expressiva do corpo, isto é, podemos mostrar, através do movimento, os nosso sentimentos e ideias. Por isso se diz que o corpo fala.
Ritmo: Os movimentos corporais podem ser realizados, seguindo o ritmo marcado pela voz, pelo batimento das mãos ou pés, por instrumentos de percussão ou pela música. Com efeito, o som constitui-se como um estímulo significativo a que o corpo responde com naturalidade.
É possível usar o corpo para representar ideias e personagens, expressando o aspetos fundamentais que as caracterizam. Para tal, é necessário possuir um bom domínio corporal e ser um bom observador. É muito importante que a aprendizagem da linguagem corporal seja introduzida nas aulas de EF porque as crianças e jovens precisam aprender a reconhecer e utilizar corretamente a sua expressão corporal para que haja uma sintonia entre o que se pretende transmitir e as mensagens do corpo. A Expressão Corporal recorre a uma combinação de diferentes elementos do movimento, organizados em 3 grandes vertentes:
- Corpo no espaço:
- Níveis
- Trajetórias
- Direções
- Planos
- Dinâmica do movimento:
- Ritmos
- Qualidade do movimento
- Expressão
- Relação entre os participantes (Ações):
- Deslocamentos
- Posturas
- Equilíbrios
- Gestos
- Passos
- Saltos
- Voltas
- Quedas
- Contactos
A dança é uma das atividades que melhor explora o potencial plástico, expressivo e rítmico do movimento, em íntima ligação com a composição musical que lhe dá suporte. mas é também, fundamentalmente, o resultado da combinação dos diferentes elementos do movimento, organizados em três grandes vertentes.
- a utilização do corpo no espaço.
- a dinâmica do movimento.
- as relações entre os participantes.
Eloisa Domenici destaca a sinergia entre a educação somática e a dança como um subespaço de produção de conhecimento qualificado sobre o corpo. Considera que as práticas de educação somática possibilitaram novos caminhos de investigação e criação, alterando profundamente os modos de fazer dança, para além da clássica epistemologia mecanicista em que se pauta o treino corporal tradicional. A educação somática é um campo emergente de conhecimento de natureza interdisciplinar que surgiu no século XX, protagonizado por profissionais das áreas da saúde, da arte e da educação. (…) O campo compreende diversos métodos de trabalho corporal, na sua maioria criados na Europa e nos EUA no início do século XX, propondo novas abordagens do movimento, a partir de pressupostos que divergem da visão mecanicista do corpo. Os seus criadores, muitos deles motivados pelo desejo de se curarem, rejeitaram as respostas oferecidas pela ciência dominante, passaram a investigar o movimento nos seus próprios corpos. Assim, esses pioneiros, Moshe Feldenkrais (Método Feldenkrais), Ingmar Bartenieff (Método Bartenieff), Gerda Alexander (Eutonia), Mathias Alexander (Técnica de Alexander), Ida Rolf (Rolfing), Mabel Todd (Ideokinesis), Bonnie Bainbridge-Cohen (Body-Mind Centering), entre outros, criaram as suas teorias baseadas nas suas próprias experiências. Os seus métodos mostraram-se eficientes e, por esses motivo, disseminaram-se nas décadas seguintes.
Estes pioneiro formularam algumas questões para as quais procuraram respostas inovadoras:
- Como se dá o movimento no corpo?
- Quais as relações entre corpo e mente?
- O que é a perceção e como é que ela opera?
- Quais as relações entre a perceção e o movimento no corpo?
- Qual a importância das emoções neste circuito?
O encontro com a educação somática deu-se num momento muito especial em que ocorria uma saturação dos modelos da dança moderna e do preciosismo da forma. Este encontro provocou importantes mudanças na maneira de pensar o corpo na dança: reivindicou o respeito pelos limites anatómicos do corpo, estimulou a exploração de novos padrões de movimento e questionou modelos e conceções bastante firmadas pela tradição acerca do treino corporal. (…) Esta nova filosofia do movimento entendia que o corpo deveria ser livre e compreendido em relação com os seus próprios mecanismos explorando os territórios do imaginário e do sensível (…).
A experimentação e improvisação interessavam como método para investigar novos padrões de movimento, novos reportórios (…). O corpo está diretamente implicado no conhecimento do mundo – a maneira como se experiência o mundo interfere determinantemente no que se conhece. Então, uma vez que a experiência é algo individual, que pode ser apenas parcialmente partilhada, é impossível uniformizar o conhecimento de cada corpo diante do mesmo objeto ou evento. O corpo não é um ambiente passivo que reage ao mundo de maneira sempre previsível, é um ambiente ativo que constrói novos conhecimentos e comportamentos na interação com o mundo, em tempo real.
Proposta para abordar a dança na aula de Educação Física:
Mónica Teixeira orientou esta oficina de dança (10.º CNEF) numa perspetiva que me encantou em particular porque evoluiu segundo o modelo de uma educação física heurística. A Professora Mónica Teixeira abordou a dança na escola segundo uma proposta metodológica baseada nas 9 ações motoras de Luís Xarez Rodrigues.
A observação e análise sistemática do comportamento motor em dança revela-nos as seguintes nove categorias comportamentais: posturas, equilíbrios, saltos, voltas, deslocamentos, passos, gestos, quedas e contactos, tendo sido utilizados como critérios diferenciadores o tipo de apoio e os traços identificadores de grupos de movimentos associados por características comuns.
- Posturas: incluem-se nesta categoria todos os momentos de imobilidade definida, englobando as posições de partida e outras figuras típicas, excluindo-se as que se realizam sobre apoio reduzido. Critério-chave: ausência de movimentos.
- Equilíbrios: incluem-se nesta categoria todos os momentos de imobilidade definida, realizados sobre apoio reduzido. Critério-chave: apoio reduzido.
- Gestos: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos de transporte do corpo, realizados com três ou mais apoios similares. Cirtério-chave: apoio cíclico.
- Deslocamentos: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos de transporte do corpo, realizados com três ou mais apoios similares. Critério-chave: apoio cíclico.
- Passos: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos relacionados por típicas transferências de peso realizados entre os apoios. Critério-chave: transferência de peso.
- Saltos: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos caracterizados pela presença de uma fase intermédia de total ausência de apoio. Critério-chave: ausência de apoio.
- Voltas: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos caracterizados pela existência de uma mudança de direção, com rotação igual ou superior a noventa graus. Critério-chave: mudança de direção.
- Quedas: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos caracterizados por perda momentânea de estabilidade e a sua recuperação de modo controlado, com transferência de peso específica ao nível do apoio. Critério-chave: perda de estabilidade.
- Contactos: incluem-se nesta categoria todos os grupos de movimentos caracterizados pelo contacto físico com pessoas ou objetos, em que o aspeto relacional é determinante para a execução dessas ações. Critério-chave: contacto.
Gostei muito desta abordagem que me fez sentir livre na forma de abordar o movimento, o corpo e o ritmo expressivo…
Bibliografia:
- Luís Xarez Rodrigues, “Dança na escola: proposta metodológica com base nas ações motoras”: PDF
- Formação Dança Criativa: PDF
Bibliografia complementar:
- José António de Oliveira Lima (2010); “Educação somática: limites e abrangências”; Pro-Posições, Campinas; Vol. 21; n.º 2(62); maio-agosto 2010; pp. 51-68: PDF
- Marcílio Souza Vieira (2015); “Abordagens Somáticas do Corpo na Dança”; Revista Brasileira Estudos Presença; Vol. 5; n.º 1; jan-abril 2015; pp. 127-147: PDF
- (…); “A importância da dança no processo Ensino Aprendizagem – a dança aprimorando as habilidades básicas, dos padrões fundamentais do movimento”: PDF
- Adriana Di Marco Neves; “Dança e Psicomotricidade: Propostas do ensino da Dança na escola”: PDF