Jogo Psicodramático
Rosa Cukier (2002) Palavras de Jacob Levy Moreno, aborda a educação e sociodrama e menciona que todas as escolas, desde o primeiro ciclo até ao universitário devem possuir um palco de psicodrama como laboratório de orientação que trace diretrizes para os seus problemas cotidianos. Muitos problemas que não podem ser resolvidos na sala de aula podem ser apresentados e ajustados entre o fórum Psicodramático, especialmente concebido para essas tarefas. O problema de um currículo para as escolas lúdicas tem de reconsiderar três elementos:
- O atual hábito de cercar a criança com brinquedos acabados ou com materiais para a montagem de brinquedos encoraja na criança a conceção de um universo mecânico, do qual ela é o único e desinibido senhor; a falta de ligação com a natureza deve-se a uma prolongada ocupação e relação com objetos inanimados e sobretudo com a falta de contacto com a natureza.
- O currículo deve também ser experimentado de forma vivencial.
- Têm de ser inventadas técnicas de ensino dessas matérias de acordo com os princípios de espontaneidade.
Escolástica Puttini e Luzia Lima (1997), Ações educativas, vivências com psicodrama na prática pedagógica, esclarece que a espontaneidade não é fazer qualquer coisa em qualquer momento, em qualquer lugar, de qualquer maneira e com qualquer pessoa, o que seria uma espontaneidade patológica. Em psicodrama, ser espontâneo é fazer o oportuno no momento necessário. É a resposta boa a uma situação geralmente nova, e por isto mesmo difícil. Deve ser uma resposta pessoal, integrada, e não uma repetição ou uma citação inerte, separada da sua origem e do seu contexto. O psicodrama é uma técnica que revela a importância corporal como ponto fundamental para o desenvolvimento espontâneo de uma dramatização, e por que não dizer, do ser humano. A importância da espontaneidade nas técnicas terapêuticas determina que em todas elas sejam usadas, inicialmente, exercícios físicos ou mentais (…). Esses exercícios têm por finalidade mover a pessoa a agir espontaneamente sem preconceitos nem amarras.
O objetivo essencial do psicodrama é trabalhar o homem e as suas relações sociais. Com as suas teorias e técnicas metodológicas próprias, o psicodrama recorre a jogos dramáticos e dramatizações. Permite aos participantes a satisfação de partilhar e expressar opiniões e os seus sentimentos com a intenção de os reintegrar de um modo novo, diferente e transformá-los em novas experiências.
Escolástica F. Puttini e Luzia M. S. Lima (1997) no seu livro Ações educativas, vivências com psicodrama na prática pedagógica afirma que, sendo o homem um ser complexo, torna-se difícil apontar qual é a maneira ideal ou a melhor postura, enquanto educador, para trabalhar com ele. Acredito que uma delas é o não-comodismo, é a busca constante de novos meios que possam fazer da escola uma continuação da vida, algo que pulsa junto com a sociedade; alguma coisa que faça com que os educandos a busquem com satisfação… Nós, educadores, na angústia das nossas dúvidas, dedicamo-nos à tarefa de pesquisar novas possibilidades para os problemas de aprendizagem e procuramos o indivíduo como um todo, em busca de novas técnicas educativas a serem aplicadas nas salas de aula. Moreno chegou à compreensão do homem como um se ilimitado, espontâneo e rico em criatividade. Privá-lo de pôr em prática o que tem de natural, que brota da sua verdade intrínseca é o mesmo que coloca-lo numa prisão, na qual qualquer manifesto do seu Eu interior é considerado como anormal ou doente, numa sociedade que, quase sempre, segue as regras cegamente, sem se dar conta de que elas são contra a verdadeira essência do homem.
Zoran Duric e colaboradores (2005) no seu livro psicodrama em HQ, iniciação à teoria e à técnica refere que pode participar no psicodrama: vêm o psicodrama crianças e adultos, garotas e rapazes, homens e mulheres, quem esteja disposto a trabalhar os seus conflitos ou a transformar as suas relações com os outros. Os grupos são constituídos por pessoas com a mesma idade aproximada e que sofrem de angústias parecidas.
Os grupos podem funcionar como:
- Terapêuticos;
- Educativos – proporcionam treino a quem se prepara para se tornar facilitador;
- Experimentais.
O termo psicodrama tem a sua origem etimológica na palavra psyche (alma ou mente) e drama (representação teatral). O psicodramatista é um terapeuta de grupo que lida com a dramatização de eventos psíquicos do protagonisma, sendo auxiliado pelos membros do grupo.
Escolástica F. Puttini e Luzia M. S. Lima (1997) descrevem uma das atividades de aplicação do jogo socio-dramático numa aula de Português poderia ser numa aula de Educação Física (Educação para a Saúde):
- Os alunos assistiram a um filme sobre drogas (assunto a ser discutido) e analisaram em turma, numa mesa redonda.
- O centro da sala de aula tornou-se o espaço cénico e as carteiras em volta delimitavam-no, formando o auditório.
- Alguns alunos voluntariaram-se de forma espontânea para dramatizar três cenas escolhidas por eles como as mais marcantes do filme.
- No papel de direção, a professor conversou com cada grupo separadamente, pois a fantasia estava a ser criada no espaço cénico, já como atores.
- Os grupos retiraram-se do espaço cénico e comentaram com o auditório o que sentiram ao desempenhar os seus papeis.
- O auditório pronunciou-se.
O resultado foi fantástico. Eles perceberam a problemática das drogas, trouxeram as suas vivências com espontaneidade e criatividade. Toda a classe participou, emocionou-se, vibrou e divertiu-se muito com a técnica usada para lhes mostrar as consequências do vício.
Algumas fases marcantes ficaram gravadas:
- Professora, eu nunca vou me esquecer do que aprendi aqui hoje.
- Como sofre uma mãe com um filho viciado.
- Como é mais fácil tirar o corpo fora do que tentar fazer algo [tratando dos professores do filme cientes do problema]
- Que tristeza ser um jovem assim.
- A gente deveria usar essa técnica sempre. Eu aprendi muito mais do que se fosse uma campanha contra drogas. Isso marcou-me muito.
- A gente grava muito mais com esse tipo de atividade do que com palestras.
Escolástica F. Puttini e Luzia M. S. Lima (1997) afirmaram que qualquer professor se sentiria realizado com tal resultado. Continuo o meu curso de formação do psicodrama e, a cada aula, surgem novos horizontes para a aplicação de técnicas pedagógicas.
O que é um Jogo Dramático
Lúlia Motta e colaboradores no seu livro O jogo no psicodrama (1995), explicam que o jogo dramático é toda a atividade que propicia ao indivíduo a possibilidade de expressar livremente as criações do seu mundo interno, realizando-as na forma de representação de um papel, pela produção mental de uma fantasia, ou por uma determinada atividade corporal. O jogo dramático deve, de alguma forma, comover, ou seja, envolver emocionalmente o participante na atividade de expressar as criações do seu mundo interno (o que é criado na sua subjetividade). O Jogo dramático permite uma transformação do jogador. O facto de ocorrer um insight no jogador, que possibilite a mudança e crescimento, é o que o define como jogo dramático e não jogo de perceção, de iniciação ou de improviso. Técnicas de aquecimento bem-conduzidas favorecem o aparecimento da espontaneidade necessária, e este deve ser o objetivo do diretor do psicodrama: uma dramatização de uma cena do mundo interno, num jogo dramático ou num sociodrama, procura o desempenho espontâneo dos papeis. Toda a ação espontânea traz em si transformação. A experiência expontânea é algo prazeroso porque envolve uma sensação de liberdade, de força interior e de criatividade.
Etapas dos jogos:
- Aquecimento – preparação do grupo para a nova situação, alcançando um ponto ótimo de tensão: não tão alta que desestruture o grupo, nem tão baixa que as pessoas permaneçam em estado de não-compromisso com a proposta.
- Jogo – deve conter uma proposta que atenda a necessidade de simbolização de um conflito do grupo e, ao mesmo tempo, facilite a realização do projeto do grupo. A partir de qualquer facto ou situação pode-se criar um jogo. O jogo dramático divide-se em 3 momentos.
- Eu comigo: voltar-se para si mesmo: como estou, como sou, o que sinto, o que preciso agora. Toda a proposta que lide com aspetos emocionais deve partir da autoperceção para que o indivíduo se centre e se respeite. Jogos de introspeção (eu comigo);
- Eu com o outro: voltar-se par ao outro, para fora de si: quem está por perto, o que sinto por ele, que reação ele causa em mim. Jogos de perceção do outro dão mais importância ao eu com o outro.
- Eu com todos: é a interação do indivíduo com o grupo e a sua interação como elemento participante. Todos realizam alguma atividade juntos. Jogos de integração (eu com todos).
- Partilhar – após a ação conjunta ocorre a integração por parte do grupo, através da partilha pela palavra da vivência e onde se abordam as dificuldades e os momentos ou situações de prazer.
Propostas e exemplos:
- Jogos de integração.
- Jogos de pesquisa do ambiente.
- Jogos de reconhecimento do eu.
- Jogos utilizando um objeto intermediário.
- Jogos de reconhecimento do outro.
- Jogos de personagem.
Avaliação Sociométrica.
Sociodrama:
Rosa Cukier (2002) no seu livro Palavras de Jacob Levy Moreno define sociodrama como o método profundo de ação que trata de relações intergrupais e de ideologias coletivas. O vocábulo sociodrama tem duas raízes: socius que significa o sócio, o outro indivíduo e drama, que significa ação. Sociodrama significa a ação em benefício do outro indivíduo, de outra pessoa. O verdadeiro sujeito de um sociodrama é o grupo. Não está limitado por um número especial de indivíduos; pode consistir em tantas pessoas quantos os seres humanos que vivem em qualquer lugar ou, pelo menos, quantos pertençam à mesma cultura.
AUTO-AVALIAÇÃO SOCIOMÉTRICA E DE PROJEÇÃO: baseia-se na suposição que cada indivíduo tem, intuitivamente, uma opinião e/ou perceção da posição que ocupa no grupo relativamente à sua prestação numa determinada atividade, relativamente a um determinado comportamento ou à perceção que tem relativamente a seu valor, etc. Normalmente usa-se esta técnica para fazer a autoavaliação dos alunos ou a apreciação do seu empenho numa determinada atividade. Por exemplo o professor pergunta aos alunos para se avaliarem relativamente ao seu empenho no jogo: qual é a posição que adotam, (na escala de 1 a 5) relativamente à sua prestação. Pode também questionar os alunos relativamente à sua perceção da qualidade do desempenho. Ou seja, o professor explica quais os aspetos que os alunos devem concentrar a sua atenção e depois pede-lhes que se posicionem numa escala que pode ser delimitada por cones (sinalizadores).

Pode modificar a configuração da escala e adotar um referencial dicotómico para saber se a satisfação geral no jogo lhes criou emoções coerentes (satisfação, gosto, alegria) ou pelo contrário, se sentiram emoções incoerentes (insatisfação, frustração, zanga). Neste caso explora-se as razões pedindo a cada aluno que exprima os seus sentimentos e descreva o, ou os motivos da sua satisfação ou insatisfação geral no jogo (neste caso pode-se usar o modelo Circumplex© ou o Mood-Meter© (RULER©).

Roda das emoções de Plutchik. Teoria psicoevolucionária das emoções.
Desta forma podemos perceber o motivo e promover modificações positivas para que consigam integrar os alunos que se sentiram ou excluídos, não integrados, ou que não compreenderam algum aspeto ou não se sentem competentes, etc…Também se pode utilizar a mesma escala dicotómica para os questionar sobre um tema ou assunto abordado para verificar se compreenderam os conteúdos.


A escala pode assumir tantas configurações quanto a criatividade do professor e/ou alunos em função daquilo que pretendem saber sobre a sua atividade, sentimentos, expetativas, prestações, etc… Trata-se de uma forma muito interativa que facilita o diálogo construtivo (dialógico) e o envolvimento de todos os alunos na aula permitindo, em tempo real, ajustar qualquer aspeto que se pretenda envolvendo todo o grupo. Os alunos participam nestes momentos dando a sua opinião, fazendo sugestões e recriando o ambiente de aprendizagem.
Jogos típicos da adolescência:
- Jogos com corpo, imagem corporal e sexualidade.
- Jogos que trabalham o projeto de vida futura.
- Jogos que trabalham a sociometria.
- Jogos para temas angustiantes: violência, drogas, abandono…
- Podemos explorar qualquer tema. O tema pode surgir na fase de aquecimento e proposto por qualquer elemento do grupo/turma.
