

Soma
A palavra soma foi reinventada por Thomas Hanna, professor do Método Feldenkrais e editor da revista Somatics, que distingue os conceitos de corpo e soma:
- Soma é o corpo subjetivo, ou seja, o corpo percebido do ponto de vista do indivíduo.
- Quando um ser humano é observado de fora, por exemplo, do ponto de vista de uma 3ª pessoa, nesse caso é o corpo que é percebido (Este é o corpo da Educação Física).
Débora Pereira Bolsanello A Educação Somática e 0 contemporâneo profissional da dança. Acredita-se que termos como consciência corporal, esquema corporal, esquema postural, perceção corporal (…) imagem do corpo, noção do corpo (…) não fazem parte de uma estrutura léxica coerente ou que permitam uma linguagem uniforme ou como padrão entre os profissionais que têm por objeto de estudo o Homem e a sua motricidade. Todos os métodos de Educação Somática orientam-se por características comuns na forma como o professor aborda o movimento do corpo dos seus alunos no contexto das aulas:
- Diminuição do Ritmo: o professor propõe que o aluno faça os movimentos de forma mais lenta do que habitualmente a fim que possa perceber as estruturas musculo-esqueléticas implicadas quando executa o movimento. É o primeiro passo para a tomada de consciência de como se executa um movimento de forma correta.
- A respiração como suporte do movimento: o professor não dita um ritmo expiratório para a execução do movimento, mas pede ao aluno que se use o seu próprio ritmo respiratório como suporte do movimento.
- A interpretação da diretriz verbal: o professor não demonstra o movimento ao aluno para que ele não se torne um modelo. O aluno é levado a interpretar as comandas(1) segundo a perceção que tem do seu corpo, dos seus limites e potencial.
- A auto-pesquisa do movimento: As comandas não dirigem o aluno à mera execução de uma sequência de movimentos, nem a um aperfeiçoamento dessa sequência. Trata-se de incitar o aluno a explorar, através do movimento, conexões entre partes do corpo aparentemente desconexas.
- A auto-massagem: Através do uso de objetos auxiliares (bolas, bastões, etc), o aluno é levado a massagear-se e a reativar o sistema propriocetivo.
- A procura do esforço certo: O professor pede ao aluno que procure o tónus ótimo para a realização do movimento proposto a fim de que o aluno comece a distinguir as variações do seu tónus e comece a integrar a capacidade a regular o seu tónus de acordo com a situação e com o objetivo da tarefa a ser feita.
- O alongamento fino e preciso: Uma parte dos movimentos propostos visa o alongamento de músculos da postura e tendões.
- O aumento do vocabulário gestual: Muitos dos movimentos propostos são movimentos que não são usados no quotidiano. Estes movimentos muitas vezes causam estranheza ao aluno, porém, têm por objetivo a gradual desconstrução de padrões motores inconscientes nocivos à estrutura psicofísica do individuo na medida que favorecem o aparecimento de LERs. Por outro lado, os movimentos inusitados e lúdicos formam novas conexões neuronais e o estabelecimento de padrões motores mais eficazes.
- Aprendizagem “leiga”: Diferentemente da Yoga e do Tai Chi, cujas práticas são fundamentadas nos Vedas e no Taoísmo, filosofias espirituais da Índia e da China, os métodos de Educação Somática não estão associados a um sistema de crenças religiosas.
(1) “Comando” é um substantivo masculino, porém, no contexto de formulação de conceitos próprios ao campo da Educação Somática insisto em usar “comanda” como substantivo feminino para reforçar o fato de que o professor de Educação Somática não está no “comando” do exercício, mas ele faz uma encomenda ao aluno.
A identidade do campo da Educação Somática subdivide-se em três conceitos:
- Descondicionamento gestual:
- Autenticidade somática:
- Tecnologia Interna:

BIBLIOGRAFIA:
- Marcia Strazzaxappa. Educação Somática: seus princípios e possíveis desdobramentos: PDF
- Umberto Cerasoli (2015). Resumos do Seminário de Pesquisas em andamento PPGAC/USP. Vol.3.1: PDF
Esta proposta, fundamenta-se na “Unidade Mente-Corpo (Body-Mind), e também contempla não só o estímulo metabólico sobre-elevado, que promove um balanço energético negativo, mas também estímulos hipometabólicos, para aquietar os hiperativos centros emocionais e mentais, devido à ansiedade e medo provocados por um modelo escolar que ativa os mecanismos de defesa das crianças e jovens (modelo SCARF).
- Megan M. Foret et col. Integrating a relaxation response-based curriculum into a public high school in Massachusetts. Journal of Adolescence 35 (2012) 325–332: PDF
- Anna Urbanska et col. Relaxation Techniques Interventions during physical exercise classes and coping with stress. Human Movement 2018; 19(3): 38-47: PDF

A introdução dos Estados Hipometabólicos numa prática corrente da Disciplina de EF tem como objetivo ajudar os alunos a entrarem em contacto consigo próprios (meditação), para depois recuperar a sensação de segurança, ou seja, acalmar os sobreexcitados circuitos emocionais. Para se aquietar a mente é importante aquietar o corpo. Intuitivamente os Mestres ZEN diagnosticaram um problema humano básico: as nossas redes associativas cerebrais estão abarrotadas com pensamentos discriminativos. Este facto reverbera com os circuitos afetivos e viscerais ancestrais, de atitudes impressas desde a infância com noções fortemente matizadas do certo e do errado, James H. Austin (1999).

O medo, ansiedade e emoções incoerentes, vividas pelos alunos, somatizam-se sobre a forma de couraças musculares (tónus muscular), podendo muitas vezes condensar-se em problemas de saúde. (Descarregue o livro de Edmund Jacobson, “You must relax” PDF)
Relaxamento muscular progressivo é uma técnica de relaxamento criada pelo médico e fisiólogo americano Edmund Jacobson, um médico Americano de medicina interna, psicólogo e assistente em fisiologia. Em 1921, introduziu os princípios psicológicos para a prática médica que mais tarde foram chamados de medicina psicossomática. Jacobson foi capaz de provar a ligação entre a tensão muscular excessiva e diferentes distúrbios do corpo e psique. Descobriu que a tensão e esforço eram sempre acompanhados por um encurtamento das fibras musculares e que a diminuição do tónus muscular inibe a actividade do sistema nervoso central. O relaxamento contraria estes estados de excitação e quando bem adaptada, funciona de forma profilaxia prevenindo os distúrbios psicossomáticos.


Yoga Nidra:
O Yoga Nidra significa Sono do Yoga. É um estado de relaxamento total do corpo, onde os alunos se tornam cada vez mais conscientes do mundo interior ao seguir um conjunto de instruções. Esta técnica é ligeiramente diferente da meditação. É considerado um estado modificado de consciência mais profundo que o simples relaxamento localizando-se na zona da hipovigília (estado meditativo).

Ondas Teta: Ocorrem na sua maioria em sono mas também são dominantes nos estados mais profundos de meditação (corpo a dormir/mente acordada) e pensamento (portal para a aprendizagem, memória). No estado teta, os nossos sentidos são desligados do mundo exterior e são focados na paisagem mental interna originando sinais. É aquele estado crepuscular que normalmente nós experimentamos fugazmente à medida que emergimos das profundezas do estado delta até acordarmos ou cairmos no sono. No estado teta estamos no chamado sonho acordado; imageria vivida pisca perante os olhos da mente e estamos recetivos a informação que transcende a nossa consciência vigil. A meditação teta aumenta a criatividade, aumenta a aprendizagem, reduz o stress e desperta a intuição e outras capacidades adormecidas.

Ondas Delta: É aquela com maior amplitude mas a mais lenta. São produzidas em estados de profunda meditação e sono sem sonho. As ondas delta conferem a suspensão da existência externa e fornecem os sentimentos mais profundos de paz. Somando, certas frequências dentro do intervalo delta despoletam a libertação de hormona do crescimento a qual é benéfica para a cura e regeneração.
- Heather Eastman-Mueller et col. iRest Yoga-Nidra on the College Campus: Changes in Stress, Depression, Worry, and Mindfulness. International Journal of Yoga Therapy — No. 23 (2) 2013: PDF
- Esther N. Moszeik et col. Effectiveness of a short Yoga Nidra meditation on stress, sleep, and well-being in a large and diverse sample. Current Psychology. PDF
A educação somática é um campo emergente de conhecimento de natureza interdisciplinar que surgiu no século XX, protagonizado por profissionais das áreas da saúde, da arte e da educação. (…) O campo compreende diversos métodos de trabalho corporal, na sua maioria criados na Europa e nos EUA no início do século XX, propondo novas abordagens do movimento, a partir de pressupostos que divergem da visão mecanicista do corpo. Os seus criadores, muitos deles motivados pelo desejo de se curarem, rejeitaram as respostas oferecidas pela ciência dominante, passaram a investigar o movimento nos seus próprios corpos. Assim, esses pioneiros, Moshe Feldenkrais (Método Feldenkrais), Ingmar Bartenieff (Método Bartenieff), Gerda Alexander (Eutonia), Mathias Alexander (Técnica de Alexander), Ida Rolf (Rolfing), Mabel Todd (Ideokinesis), Bonnie Bainbridge-Cohen (Body-Mind Centering), entre outros, criaram as saus teorias baseadas nas suas próprias experiências. Os seus métodos mostraram-se eficientes e, por esses motivo, disseminaram-se nas décadas seguintes.
Estes pioneiro formularam algumas questões para as quais procuraram respostas inovadoras:
- Como se dá o movimento no corpo?
- Quais as relações entre corpo e mente?
- O que é a perceção e como é que ela opera?
- Quais as relações entre a perceção e o movimento no corpo?
- Qual a importância das emoções neste circuito?
O encontro com a educação somática deu-se num momento muito especial em que ocorria uma saturação dos modelos da dança moderna e do preciosismo da forma. Este encontro provocou importantes mudanças na maneira de pensar o corpo na dança: reivindicou o respeito pelos limites anatómicos do corpo, estimulou a exploração de novos padrões de movimento e questionou modelos e conceções bastante firmadas pela tradição acerca do treino corporal. (…) Esta nova filosofia do movimento entendia que o corpo deveria ser livre e compreendido em relação com os seus próprios mecanismos explorando os territórios do imaginário e do sensível (…).
A experimentação e improvisação interessavam como método para investigar novos padrões de movimento, novos reportórios (…). O corpo está diretamente implicado no conhecimento do mundo – a maneira como se experiencia o mundo interfere determinantemente no que se conhece. Então, uma vez que a experiência é algo individual, que pode ser apenas parcialmente partilhada, é impossível uniformizar o conhecimento de cada corpo diante do mesmo objeto ou evento. O corpo não é um ambiente passivo que reage ao mundo de maneira sempre previsível, é um ambiente ativo que constrói novos conhecimentos e comportamentos na interação com o mundo, em tempo real.
EUTONIA: O aluno consciencializa os aspetos da anatomia emocional na primeira pessoa através da exploração do tónus muscular e das tensões no seu corpo. O aluno aprende a reconhecer os mecanismos da motilidade enquanto expansão e contração, alongamento e encolhimento, distenção e recolhimento. É o fluxo interno, diferente do movimento que reporta aos músculos esqueléticos, a uma ação destinada às funções de parar e avançar. O aluno aprende a anatomia como auto-identidade, como processo cinético e emocional dinâmico. O estudo da forma humana revela a sua hitória genética e emocional. A forma reflete a natureza dos desafios individuais e como afetam o organismo humano.
A estratificação emocional do organismo pode ser comparada aos anéis de uma árvore, cada um deles revelando uma idade e uma experiência. Por exemplo, rebeldia e orgulho podem encobrir medo e tristeza, os quais, por sua vez, encobrem timidez e ansiedade em relação a um possível abandono. Cada uma dessa configurações é somáticamente estruturada. A camada externa pode ser dura e rígida para encobrir retraimento e contracção, os quais ajudam a encobrir a expectativa inflada de uma criança abandonada que tem medo do colapso. Esses impulsos ilustram a complexidade da realidade somática. Na vida real, a realidade somática combina camadas e segmentos para adquirir lógica emocional para um determinado indivíduo. Cada um de nós responde de um modo único às agressões e desafios que temos de enfrentar em diferentes períodos da nossa vida.
Os terapeutas Corporais e Profissionais do Movimento modernos (Psicomotricidade) estão conscientes que TRAUMAS ACUMULADOS podem causar um gradual desalinhamento (Linha de Gravidade) do corpo relativamente à sua vertical (James L.OSCHMAN, 2000. Energy Medicine –The Scientific Basis. Churchill Livingstone).
- Qualquer trauma é gravado no corpo sob a forma de alterações nas estruturas internas;
- Estas estruturas podem recuperar a sua posição original, mas com algum dano;
- Mesmos os desvios mais pequenos possuem efeitos cumulativos e a longo prazo, sobretudo se existe uma alteração na forma como o peso é transportado (ALTERAÇÃO EM RELAÇÃO Á GRAVIDADE);
- Qualquer alteração local provoca alterações compensações em todo o corpo;
Numa perspectiva neurobiológica a musculatura estriada constitui uma sede de espasmos permanentes que provocam uma ARMADURA MUSCULAR. Esta, reflecte uma EVOLUÇÃO HISTÓRICA de um ser face a um desenvolvimento. Todas as trocas com o meio passam pela musculatura estriada de relação e é por ela que o ser humano estrutura a sua corticalidade. TODO O CONFLITO SUSCITA UMA REACÇÃO MUSCULAR DE DEFESA. Há entre uma tensão nervosa e uma tensão muscular uma relação de equivalência entre uma tensão nervosa e uma tensão muscular, Victor Fonseca (1989), citando Wilhem Reich. O corpo humano, muitas vezes perde a sua integridade tensional relativamente à sua linha da gravidade (Sistema gravitacional), ou seja, os músculos, tecidos conectivos ou coberturas miofasciais e as suas ligações aos tendões, ossos, ligamentos e cartilagens que nos suportam neste campo gravitacional e nos permitem mover e agir no nosso ambiente, acabam por dar lugar a desvios do ráquis.

Tal como a biomecânica a eutonia preocupa-se com a economia do movimento porém, a abordagem segue caminhos distintos. Enquanto a biomecânica analisa o corpo numa perspetiva exterior e instrumental, a eutonia ajuda o indivíduo a consciencializar as forças e tensões corporais de dentro para fora. Se falarmos em termos de economia do movimento, esta é um dos problemas fundamentais não resolvidos nas ciências do desporto. Muitos autores demonstraram que pode existir até 30% de diferenças entre indivíduos em forma no domínio do custo energético da locomoção, mesmo quando é expresso em kilogramas de peso corporal por minuto.
- Peter R. Cavanagh. Biomechanics: a bridge builder among the sport sciences. Medicine and science in sports and exercise. 1990. Vol. 22. Nº 5. pp 546-557: PDF
Vítor da Fonseca (1986), “Temas de psicomotricidade”, refere que a “função práxica tem a ver com a capacidade de programar o movimento como produto final, tendo atrás de si imensos processos internos de elaboração. A praxia envolve um plano e uma execução. O plano é uma função psicológica”, emocional e espiritual, “a execução é uma função motora, ou seja, a expressão da riqueza dessa organização” (psicológica, emocional e espiritual). Daí a importância de estudarmos os vários componentes psicomotores, e como é que eles se organizam para produzirem o movimento Belo, Simples, Económico e Harmonioso
A Eutonia como pedagogia pode levar a pessoa a perceber e ter consciência de sua realidade somática (totalidade), como terapia pode ampliar o conhecimento sobre si e como arte liberar seu potencial criativo. Nesse procedimento, cada um é responsável por seu próprio processo de educação e reabilitação. Trata-se de um método de investigação e observação do corpo em que a pessoa é, simultaneamente, o sujeito e objeto de sua própria experiência. A investigação na busca do contato consciente com o corpo centra-se na atenção dirigida às partes e ao corpo em conjunto. A escuta do corpo e o estado de presença alcançado por esta escuta são fundamentais para compreensão de um corpo consciente. Desenvolver a capacidade de atenção é um dos objetivos da Eutonia.
Um de seus aspetos centrais, como pedagogia e terapia, é o trabalho sobre o tónus muscular. Reporta-se à estimulação da sensibilidade proprioceptiva, o qual repercute em toda a personalidade e atuação social. A Eutonia não segue modelos nem propõe padrões, mas através da ênfase na atenção e mobilização física e do lugar dialético de objeto-sujeito, procura partir da instância física (mental) para a dimensão social.



