Educação Física
Missão da Educação Física
A Educação Física visa a formação integral dos alunos, embora se realize através de processos próprios e maioritariamente associados ao exercício físico.
A Educação Física estrutura-se segundo quatro finalidades (EF de Qualidade, UNESCO):
- Longevidade: Formação em habilidades para a vida e participação em atividades físicas ao longo da vida. Reforça a compreensão e o gosto pela prática regular das Atividades Físicas ao Longo da Vida (AFLV), enquanto fator de saúde, bem-estar, sociabilidade e componente da cultura. A AFLV pode ser conceptualizada como tendo quatro dimensões: Recreacional, Funcional, Saúde e Bem-estar e Performance.
- Recreacional: enquanto lazer, a qual para muitos, é uma atividade com orientação social.
- Funcional: responde às exigências das tarefas diárias, sejam profissionais ou domésticas.
- Saúde: relacionada com a aptidão física, bem-estar e/ou reabilitação.
- Performance: relacionada com a auto-superação e/ou sucesso em ambientes exigentes (adversidades) e/ou competitivos.
- Estilo de Vida Ativo (Cidadania): Apoio aos jovens para se tornarem cidadãos responsáveis e ativos (Georges Hébert: Ser Forte para Ser Útil”). Promove a melhora da aptidão física.
- Literacia Física: Formar alunos fisicamente literados com o conhecimento e a autoconfiança necessários para o sucesso académico. Favorece a compreensão e aplicação dos princípios, processos e problemas de organização e participação nos diferentes tipos de atividades físicas. Competência Física: desenvolvimento das habilidades motoras básicas; Confiança e motivação: para participar em atividades físicas; Conhecimento e compreensão: como e quando é importante o movimento e como participar em AF em segurança; Envolvimento ao Longo da Vida: criar hábitos de atividade física que perdurem.
- Valores: Desenvolver as competências e os valores para os desafios do século XXI. Consciência Social Plena – Educação para a Paz.

Dimensão – Performance
Qual a relação entre a Cultura da performance e a Educação para a paz?
A dimensão da performance inclui uma interpretação cultural da atividade física a qual é organizada segundo a perspetiva da interdependência negativa (oposição/competição). Esta interpretação da Cultura Física designou-se por desporto e atualmente é a dimensão mais expressiva das Aprendizagens Essenciais na Educação Física. Esta interpretação está intimamente associada ao Movimento Olímpico, promovida no contexto da Educação Física quando se aborda os fenómenos sociais extra-escolares. O Movimento Olímpico, na sua Carta Olímpica assume-se como uma Filosofia de Vida que alia o desporto à cultura e educação, promovendo um estilo de vida fundado no prazer do esforço, no valor educativo do bom exemplo, na responsabilidade social e no respeito pelos princípios éticos fundamentais universais. Ou seja, o Movimento Olímpico pretende (declaração de intenção) colocar o desporto ao serviço do desenvolvimento harmonioso da pessoa humana com o intuito de promover uma sociedade pacífica preocupada com a perseverança da dignidade humana. Acredita que consegue construir um mundo melhor através do desporto promovendo valores tais como a excelência o respeito e a amizade. Como tal, disseminou este sistema de crenças junto da sociedade com foco nos jovens em idade escolar nomeadamente através da disciplina de EF.
O espírito olímpico sempre impressionou profundamente o imaginário coletivo, tanto na Grécia antiga como nos Jogos Olímpicos modernos, após o seu renascimento pelo Barão Pierre de Coubertin em 1896. O Desporto enquanto instituição personifica os valores olímpicos e tem uma grande responsabilidade social. O Desporto pode ser considerado um Fenómeno Social Total segundo a perspetiva de Georges Gurvitch em A vocação atual da sociologia.
O desporto tem uma influencia profunda como modelo social o qual guia e dirige as condutas e a vida mental coletiva e individual. Os atletas assumem o papel de modelos sociais influenciando as condutas coletivas através do ato heroico desportivo da auto-superação e da superação dos outros (adversários). Tornam-se verdadeiros símbolos sociais representando uma imagem de sucesso.
Rubio K. no artigo intitulado Os jogos olímpicos como hierofania: rito e ritual, uma tradição, mais que um campeonato publicado no Olimpianos, Journal of Olympic Studies, refere que os Jogos Olímpicos fazem parte da cultura helénica seja na condição de mito (e as suas múltiplas interpretações) ou como fato histórico cujo início remonta a 776 a.C., momento em que são registados os nomes dos vencedores das provas atléticas na porta do estádio no Templo de Zeus, em Olímpia. Ou seja, a marca daquela celebração era a disputa entre homens habilidosos que se apresentavam publicamente, demonstrando a sua potência no pentatlo, nas corridas, nos saltos, arremessos e lançamentos, bem como nas lutas e na condução de carros puxados por animais.
Olímpia era considerada um centro político e religioso e favoreceu, sob forma de associação, a agregação de várias outras cidades, para a realização dos jogos, entre elas Esparta. A base dessa federação foi o reconhecimento de Zeus como protetor comum e os jogos como uma festa em sua homenagem, que segundo exigência do oráculo de Delfos deveria ser celebrada de 4 em 4 anos, no dia da Lua cheia após o solstício de verão. Os Jogos Olímpicos marcaram de tal forma o modo de vida grego que durante sua realização era decretada a trégua, ou seja, três meses antes do início desse acontecimento eram suspensas todas as guerras, os soldados eram proibidos de pegar em armas ou participar de conflitos armados, mesmo contra povos invasores, para que atletas e espetadores pudessem chegar a Olímpia sem sofrer qualquer tipo de ataque. Heródoto conta que essa dedicação aos Jogos era o resultado de uma nobre educação física praticada por amor a si e em honra aos deuses. Ele conta que em 480 a. C., o rei Xerxes conduziu os exércitos do Oriente através do Helesponto, conquistou a Tesalia, abriu por traição o paço marítimo das Termópilas e entrou na Grécia, que estava, ao que parecia, desprevenida e indefesa. Ao interrogar uns desertores famintos da Arcádia, perguntou-lhes sobre o que faziam os gregos naqueles momentos cruciais. A inesperada resposta foi: “Estão a celebrar as Olimpíadas” (75ª Olimpíada). O rei Xerxes continuou indagando: “Qual é o prémio das competições?” “Uma coroa de ramos de oliveiras” foi a resposta. Então, um dos comandantes persas disse pensativamente ao general Mardónios: “Temo por nós, se nos levam a combater contra homens que não lutam por ouro e prata, mas por virtudes viris!”.
É a condição ritualística que marca a existência dos Jogos Olímpicos. A história grega está diretamente associada à história do desporto, que se confunde com o mito, os deuses e os heróis. Os Jogos para os gregos tinham um caráter sagrado, o que equivale dizer que os Jogos levam os seres humanos a se relacionar com o mesmo deus, razão pela qual se celebram os certames nos lugares sagrados, protegidos pelo deus daquele local: Olímpia – Jogos Olímpicos – Zeus, Delfos – Jogos Píticos – Apolo, Nemeia – Jogos Nemeus – Héracles, Corintio – Jogos Ístmicos – Poseidon. Por sua vez, os Jogos atléticos ou gímnicos, são considerados apenas uma forma de competição, que somado a manifestações artísticas como a música e a poesia, completavam os estádios como um ambiente sagrado, tanto quanto os altares e templos, onde o ritual era celebrado.
Desde o princípio os Jogos Olímpicos afirmaram-se como um ritual épico que durou aproximadamente dez séculos até que um decreto de Teodósio 1º baniu os Jogos Antigos, em 393 d.C. por serem considerados uma festa pagã num mundo dominado pela Igreja Católica. Nesse momento da história os Jogos Olímpicos já estavam desfigurados da condição de rito de séculos passados, já não representavam uma grande celebração a Zeus, nem se preservavam os valores morais de atletas e da competição em si, transformada apenas num espetáculo.
A competição, para os gregos, era considerada um princípio vital, não apenas pelo rendimento ambicionado, mas em si mesma com independência de todo objetivo. O homem crescia e desenvolvia-se dentro de um espírito criador, um competidor à sua maneira, um “agonista”. A agonística significa luta, disputa atlética, e prende-se a agon, “assembleia, reunião” e, em seguida, “reunião dos helenos para os grandes jogos nacionais”. Assim, a rivalidade fazia parte da essência da vida, não apenas em situações onde é fácil a determinação da vitória ou da derrota, mas também em situações imponderáveis como a criação artística. Para o grego, a dignidade e o valor de uma competição não residiam nos resultados . O fator determinante era o brilho e o ardor que penetrava nos corpos e espíritos durante o jogo das possibilidades, dominando o instante supremo.
Os Jogos Olímpicos da Era Moderna nasceram a partir do interesse de Pierre de Coubertin pelos estudos clássicos, além das descobertas de sítios arqueológicos que permitiam desvendar acontecimentos relacionados aos Jogos Olímpicos da Antiguidade. Produto da sociedade industrial do século XIX, o desporto desenvolveu-se como uma prática pautada na cultura corporal de movimento nas escolas inglesas, cujo modelo competitivo inspirou Pierre de Coubertin, a estruturar a competição olímpica, uma vez que o imaginário dos Jogos Olímpicos seria importado da cultura grega.
Palavras Chave:
- Hierofania – pode ser definido como o ato de manifestação do sagrado. Homenagem a Zeus. Condição ritualista que marca a existência dos JO. Os jogos para os Gregos tinham um caráter sagrado e eram realizados em lugares considerados sagrados. Festa pagã.
- Provas atléticas – uma forma de competição. Disputa entre homens habilidosos que se dispunham a se apresentar publicamente demonstrando assim sua potência no pentatlo, nas corridas, nos saltos, arremessos e lançamentos, bem como nas lutas e na condução de carros puxados por animais.
- Prémio das competições – uma coroa de ramos de oliveiras.
- Nobre educação física praticada por amor a si e em honra aos deuses (panteão Grego).
- Trégua – suspensas todas as guerras, os soldados eram proibidos de pegar em armas ou participar de conflitos armados, mesmo contra povos invasores (Paz exterior e efémera). O Movimento Olímpico, na era moderna, surgiu para ser uma alternativa para a paz, uma linguagem de entendimento universal por meio do desporto.
- Rivalidade – fazia parte da essência da vida.
Colocam-se algumas questões importantes que irão orientar esta análise:
- Toda a agitação que rodeia o desporto é promotor de uma sociedade pacífica (Educação para a Paz)?
- O desporto tem contribuído para o desenvolvimento harmonioso da pessoa humana e para a promoção de uma sociedade mais pacífica?
- Serão os valores Olímpicos, aqueles que queremos promover na atual Educação Física?
- Será este o modelo de Sociedade pacífica?
O Gene Desportivo
David Epstein, na sua apresentação no TED Talk baseada no seu livro “O Gene do Desporto” coloca a seguinte questão: estrelas como Usain Bolt, Michael Phelps e Serena William são aberrações genéticas colocadas na Terra para dominar os respetivos desportos ou são simplesmente pessoas normais que superaram os seus limites por pura força de vontade e treino obsessivo?

Possuir o físico certo para determinado desporto é um grande ponto de partida. Com a explosão a nível do conhecimento genético, existe atualmente uma procura, não apenas pelo físico apropriado, mas também pelos “genes da performance”. Os atuais atletas de elite são procurados pelas suas características fisiológicas e biomecânicas anormais extremas que potenciam o desempenho.
A procura do sucesso desportivo afasta o movimento olímpico dos seus princípios fundamentais explícitos na carta olímpica, sobretudo no que diz respeito ao desenvolvimento harmonioso da pessoa humana. Este testemunho mostra claramente que os campeões olímpicos possuem um desenvolvimento completamente desarmonioso:
- Os altos tornaram-se cada vez mais altos (basquetebol)
- Os atletas pequenos tornaram-se cada vez mais pequenos (ginástica)
- Os atletas estranhos tornaram-se cada vez mais estranhos (natação).

Educação para a Paz
Pierre Weil no seu livro A Arte de Viver em paz, por uma nova consciência e educação (1990) afirma que durante várias décadas foram realizadas várias investigações sobre a origem da guerra e os meios para se estabelecer a paz no mundo. Inspirada nestas conclusões e nos trabalhos de órgãos internacionais, uma Pedagogia da Paz emergiu. Em todo o lugar, há educadores, cientistas e especialistas de diversas áreas a trabalhar neste projeto porque sentem uma insatisfação muito grande relativamente às formas tradicionais de pensar, sentir e relacionar-se. São indivíduos que rejeitam a fragmentação da vida que nos foi imposta ao longo de cinco séculos de império absoluto da razão. Nasceu uma nova perceção das coisas que procura restituir a unidade do conhecimento, com o objetivo de atingir a sabedoria e a plena consciência. Esta nova perceção é também chamada de “Visão Holística“.
Mas para que ultrapassemos o estágio atual, é preciso formar já os Mestres da nova época ou, por outras palavras, a Educação deve começar pelos próprios Professores.
Normoses Culturais
Esta verdade Cristalina é frequentemente ignorada pela cultura da fragmentação. Assim, é interessante observar como o sujeito e o objeto, nesta visão do real, estão sempre irremediavelmente separados, do mesmo modo que a causa e efeito.

Crise de Fragmentação:
Na sua mente o ser humano separa-se do universo e cria a fantasia da separatividade. A sua mente também o separa da sociedade e da natureza. A sua mente esquece-se que o planeta, a sociedade e o indivíduo são indissociáveis. A consciência individual acha-se separada da Consciência Universal (Transcendência | Absoluto | “Força”). Dentro dele mesmo, a sua mente (informática) separa-se das emoções (vida) e do corpo (matéria). A consciência individual acha-se separada da Consciência Universal. Pelo facto de se sentir separado de tudo o Homem gera emoções destrutivas no plano da vida, mais particularmente o apego e a possessividade de coisas, pessoas e ideias que lhe dão prazer. Este desenraizamento como lhe chama Bruce K. Alexander no livro The Globalization of Addiction, a study in poverty of the spirit, ou fragmentação cria um vazio existencial que leva as pessoas a procurar substitutos para esta falta de ligação consigo próprios, com os outros e com a natureza. A este comportamento chamamos de co-dependências e Terry Kellogg no seu livro Broken Toys, Broken Dreams, refere que o exercício físico e o desporto podem tornar-se obsessões (vigorexia¹).
1 – A vigorexia é uma condição em que a pessoa apresenta insatisfação constante com o corpo, vendo-se muito magra e fraca quando na verdade é forte e possui músculos bem desenvolvidos. Esse transtorno é mais comum de acontecer em homens entre 18 e 35 anos e leva à pratica exaustiva de exercícios físicos, sempre com aumento de carga, além de preocupação excessiva com a alimentação e uso de anabolizantes, que podem trazer riscos para a saúde.
O exercício pode produzir o “pico” que as drogas produzem mas internas, designadas por endorfinas. Refere que tinha um amigo que começou a correr e aliciou-o a correr. Ele estava em tratamento devido a dependência química e depois do tratamento começou a correr. Porém, levou ao limite e tornou-se obcecado, correndo maratonas, até que foi operado aos joelhos. Antes da primeira operação estava a preparar-se para a próxima maratona. Quando não podia correr, sentia-se impaciente, zangado, aborrecido, deprimido e de difícil trato. Reiniciou os treinos antes da total recuperação e a corrida tornou-se na sua nova dependência.
A competição é uma forma de alimentar as codependências e a disfuncionalidade socio-emocional nas nossas escolas e na nossa sociedade. A competição funciona como um medicamento para o co-dependente, alivia momentaneamente os sintomas da sua baixa auto-estima e auto-conceito (necessidade de reconhecimento, de se sentir superior), mas não resolve o problema nuclear.
A base da competição é a comparação social que pode levar à rivalidade. Se para os Gregos a rivalidade fazia parte da essência da vida, passados vários séculos de suposta evolução civilizacional, está na altura de dar um salto qualitativo na forma como encaramos a relação entre os homens e amadurecer esta visão. A rivalidade competitiva tem que dar lugar ao Auxílio Cooperativo, humanista-altruista.
Quando não temos consciência da nossa verdadeira identidade e do nosso propósito na vida, apenas nos consideramos felizes ou infelizes através da comparação com os outros e nasce daqui uma certa tendência para se conseguir um certo valor pelo reconhecimento na opinião de outrém, sobretudo para acalentarmos um sentimento de igualdade. Na verdade, numa sociedade onde a medida do nosso valor depende da comparação com os outros, tendemos a não atribuir a ninguém superioridade sobre nós próprios, ao mesmo tempo que se receia constantemente que os outros a ambicionem, resultando pouco a pouco o desejo “injusto” de o adquirir para si sobre os outros. A partir daí, sobre a inveja e a rivalidade podem instalar-se os maiores vícios de hostilidades secretas e patentes contra todos aqueles que nós consideramos como estranhos para nós. Estes sentimentos surgem do temor que temos que os outros procurem adquirir sobre nós uma superioridade que nos causa desconforto, por vezes ressentimento e no seu extremo ódio. Estas inclinações têm por fim garantir-nos, por razão de segurança, a superioridade sobre outrém, como medida de precaução.

Judith B. White e colaboradores no artigo Frequent Social Comparisons and Destructive Emotions and Behaviors: The Dark Side of Social Comparisons, referem que as comparações sociais podem parecer servir várias funções positivas, incluindo a auto-valorização. No entanto, as comparações sociais frequentes têm um lado negro.
O nosso modelo de organização social e os seus valores, na forma como estão concebidos mantêm as pessoas numa constante luta pela sobrevivência. Tal como afirma Wilkinson & Pickett, The Spirit Level (2009): “Portugal é dos países que apresentam maiores desigualdades sociais as quais estão muito correlacionadas com problemas de saúde e problemas sociais. As desigualdades sociais constituem um divisor social poderoso afetando a nossa capacidade para identificar e empatizar com outras pessoas. Quanto maiores são as desigualdades sociais (stresse) tanto maior é a falta de confiança entre as pessoas”. As sociedades competitivas reforçam esta polarização social acentuam as desigualdades sociais (stresse) e aumentam a falta de confiança entre as pessoas porque se comparam constantemente em termos sociais. Podemos verificar que a causa deste caos social está profundamente associado ao “modelo competitivo e às lutas pelo poder“.

Muitas pessoas dizem que se estão constantemente a comparar com os outros e tendem a dizer que são infelizes. De acordo com a teoria clássica da comparação social, as pessoas que fazem comparações sociais frequentes devem ser felizes, se acreditarem que são ou estão melhor do que as pessoas com quem se comparam. Neste estudo os autores verificaram que as pessoas que fazem espontaneamente comparações sociais frequentes experimentam emoções e comportamentos mais destrutivos. As pessoas infelizes, e não as pessoas felizes, podem ser as que fazem comparações sociais espontâneas e frequentes. Num estudo realizado, as pessoas felizes e tristes tiveram a oportunidade de se compararem com outra, melhor ou pior. As pessoas tristes sentiam-se pior quando emparelhadas com uma pessoa com melhor desempenho, e melhor quando emparelhadas com uma pessoa com pior desempenho. As pessoas felizes tinham menos vulnerabilidade afetiva à informação de comparação social disponível, simplesmente não prestavam tanta atenção ao desempenho dos outros.
Alguns autores descobriram que as pessoas infelizes fazem comparações sociais mais frequentes, e que as pessoas ligeiramente deprimidas fazem comparações sociais mais frequentes. A tendência para procurar informações de comparação social está correlacionada com baixa autoestima, depressão e neuroticismo. Isto sugere que as pessoas que fazem comparações sociais frequentes não só são suscetíveis de serem infelizes, como também são mais vulneráveis a uma resposta afetiva – mais afeto positivo quando fazem uma comparação social descendente (comparar com inferiores), mas também, mais afeto negativo quando fazem uma comparação social ascendente (Comparar com superiores).
As pessoas fazem comparações sociais quando precisam de reduzir a incerteza sobre as suas capacidades, desempenho e outros atributos socialmente definidos, e quando precisam de confiar num padrão externo para se julgarem a si próprias. A implicação é que as pessoas que não têm a certeza da sua auto-estima, que não têm padrões internos claros, envolver-se-ão em comparações sociais frequentes. Embora se tenha verificado que a autoestima se correlaciona com aspetos positivos do bem-estar, existem alguns indícios de que a clareza do auto-conceito é um fator importante para o bem-estar. Há algumas provas de que a clareza do auto-conceito, mais do que a auto-estima elevada em si, contribui para o bem-estar. A auto-estima pode não ser tão boa preditora dos aspetos negativos do bem-estar como a frequência das comparações sociais.
Se a base da competição é a comparação do valor com os outros, podemos inferir que as pessoas que sentem necessidade de competir, procuram de alguma forma uma compensação para o seu baixo auto-conceito o que as leva a envolver-se mais frequentemente em comparações sociais. Terry kellogg no seu livro Broken Toys, Broken Dreams, understanding & healing codependency, compulsive behaviours e family, refere que Ser Competitivo, julgar e comparar-nos são dois dos vários traços individuais de co-dependência:
- Competir: temos que bater os outros para nos sentirmos bem connosco próprios. Não basta fazer o melhor que conseguimos, temos que ganhar.
- Julgar e Comparar: julgamos as crianças comparando-as com outras crianças. Julgamos a nossa casa comparando-a com outras casas, as coisas que vemos nas revistas, na TV ou nos meios de comunicação social. Julgamos por comparação os nossos relacionamentos pela forma como vemos os relacionamentos dos outros. Julgamo-nos sem piedade.
Quando não estamos no caminho de nos tornar-mos nós próprios, podemos deambular por sítios escuros e sombrios. Na ausência de uma atitude nutridora e afirmativa, tornamo-nos reféns emocionais dos nossos próprios demónios; sentimentos e pensamentos que criam dor e medo. A codependência possui muitas faces, usa muitas máscaras mas a verdadeira codependência é o facto de não sabermos o que está por trás da máscara, qual é a nossa verdadeira face – Quem Sou Eu?
Terry Kellogg, Broken Toys, Broken Dreams.
Terry Kellogg refere que o espetadorismo também se pode tornar num comportamento aditivo. Os adeptos dos desportos como o futebol podem até filiar-se em claques organizadas assumindo por vezes um comportamento tribal. Também é frequente o espetadorismo através da televisão onde o dependente observa ininterruptamente (sempre que tem oportunidade) os outros a jogar apoiando a sua equipa. Normalmente este tipo de indivíduos sente-se emocionalmente envolvido num determinado jogo ou equipa ao ponto de perder o controlo, manifestar picos de euforia quando a equipa ganha, ou profunda depressão e raiva quando perde. Esta depressão pode conduzir a alterações de humor maníaco-depressivas graves correlacionadas com o sucesso ou insucesso da equipa.
A codependência é como um prisma, um cristal de 6 lados e cada um dos lados representa um mecanismo defensivo.

Negação:
A Negação é a força que sustenta a codependência, seja através da:
- Negação do problema.
- Negação dos sentimentos relativos ao problema.
- Negação da profundidade do impacto do problema nas nossas vidas.
Na nossa cultura existem muitos problemas mas apenas uma disfunção. Competitividade, comparação social, negligência, depressão, abuso, são tudo sintomas que encontramos nas famílias porém, o que cria a disfunção é a negação. A Negação elimina a possibilidade e a oportunidade para resolver o problema ou lidar com os sentimentos associados aos problema. Também elimina as alternativas e oportunidades para se procurar a recuperação do problema. O problema controla-nos. A maior parte da terapia diz respeito ao processo de quebrar a negação, retirando o véu e tornar a causa explícita. O véu corresponde às questões enterradas que controlam a nossa vida. Assim que tornarmos o véu explícito passamos a ter escolhas. A liberdade depende da possibilidade para se escolher e enquanto persistir uma atitude de negação, não existe liberdade. A competição social ou desportiva não é uma escolha livre, é a negação da resolução do problema, mantendo a sociedade refém da polarização que estes comportamentos promovem. Enquanto as pessoas competirem umas com as outras não investem tempo para serem livres e perceber que a essência do ser humano é o Instinto Social Gregário e cooperativo. A competição é uma falsa crença, uma normose como lhe chama Pierre Weil.
Uma normose são um conjunto de valores, atitudes e comportamentos habituais, que levam ao sofrimento físico ou moral, à doença ou à morte. Além disso, esse conjunto ou sistema é reforçado por um consenso social, que o coloca na categoria da normalidade.
Comité Olímpico, Desporto e Crescimento Económico:
E esse é o papel do Comité Olímpico, construir uma narrativa embelezada daquilo que é uma normose, investindo milhões na promoção de uma imagem moral e ética que não existe, é uma ilusão, uma mera declaração de intenção. O Olimpismo é uma indústria financeira altamente lucrativa e nada tem a ver com o desenvolvimento harmonioso da pessoa humana!… Aliás, não é por acaso que o COP define como desígnio: Desporto, crescimento económico e emprego:
- Implicação política 1: o desporto é um setor económico importante.
- Implicação política 2: o desporto representa uma indústria de trabalho intensivo em crescimento.
- Implicação política 3: o desporto pode promover a convergência em torno dos Estados Membros da UE.
- Implicação Política 4: o desporto tem vantagens de especialização que favorecem o crescimento.
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Comité Olímpico de Portugal. Desporto, crescimento económico e emprego – Valorizar socialmente o desporto: um desígnio nacional: PDF
INE. destaque 5 de abril de 2016: PDF
Desporto em Números 2021. INE: PDF
Medidas de apoio ao desenvolvimento desportivo em Portugal (2024-2028):
O XXIV Governo de Portugal anunciou um conjunto de medidas estruturais e financeiras para promover o desenvolvimento desportivo no país entre 2024 e 2028.
Este esforço visa o aumento da prática desportiva e também a inclusão, a inovação e a melhoria das infraestruturas.
As medidas abrangem áreas essenciais como infraestruturas desportivas, ciência e inovação, inclusão, alto rendimento e formação, com foco no aumento da prática desportiva, na igualdade de género e na melhoria das condições para atletas e clubes em todo o território nacional.
Quatro Objetivos para o Desporto em Portugal:
- Aumentar a prática desportiva da população (Eu substituiria por Prática de Atividade Física de Lazer e Recreação – PAFLR).
- Diminuir a diferença na prática desportiva entre homens e mulheres.
- Aproximar o investimento direto no desporto e os indicadores de prática desportiva da média da União Europeia (substituiria por PAFLR).
- Diminuir o nível de obesidade infantil e excesso de peso.

Ilusão:
Uma ilusão é uma distorção da perceção, uma interpretação dos factos que não coincide com a realidade. A Ilusão é a negação sincera, negação que acreditamos de verdade. A nossa ilusão é uma forma de auto-engano que nos permite sobreviver com o problema sem o reconhecer. A ilusão é a ferramenta de sobrevivência do auto-engano. A ilusão do co-dependente varia desde “Eu vou melhorar se me esforçar mais” até, “Não existe problema”. A habilidade para se acreditar que a nossa vida é maravilhosa face ao desastre repetitivo é muito apelativa. A ilusão que estamos no controlo é menos assustadora do que a realidade de estar fora de controlo.
Distorção:
Outra faceta do cristal da co-dependência é a distorção da realidade como forma de manter a ilusão e a negação. O co-dependente não vê a mesma realidade que os outros Tal como uma pessoa com anorexia que olha no espelho e vê gordura onde não existe, também o alcoólico ou o fumador distorce as consequências do seu comportamento. O mesmo acontece com o jogador num jogo de invasão territorial que camufla a sua agressividade e raiva atrás de ações dissimuladas, negando-as se confrontado com as mesmas, afirmando que é “combatividade”, “tática individual”. Distorce-se o mundo, aquilo a que damos valor e aquilo que dizemos e fazemos. Um indivíduo dependente da vigorexia, distorce a causa do seu treino intenso e compulsivo, agredindo o corpo, atrás do conceito de beleza e estética corporal. Um atleta compete com outros, sujeitando-se a uma profunda dor física e desconforto no limite, sacrificando-se, para ser o melhor que os outros, quando na verdade luta subconscientemente com um sentimento de inferioridade ou um mau auto-conceito. Por isso existem tantas depressões em atletas quando deixam a carreira desportiva. O Mito que a prática desportiva contribui para a saúde é contradito pelo facto que, em cada ano, mais de 3,5 milhões de crianças com idades inferiores a 15 anos necessitam e tratamento médico devido a lesões desportivas, quase metade destas resultam da simples sobreutilização (sobretreino). Existe toda uma industria do rendimento que sob o pretexto do bem, causa muito mal aos jovens e isto é uma clara distorção da realidade.

Victoria Garrick, uma estudante-atleta partilha a história sobre a sua luta e superação da depressão e ansiedade enquanto atleta-estudante de alto rendimento , no seu TED Talk de 2017, “The Hidden Opponent”.
Ilusão e Distorção: Durante uma fase da minha vida dediquei-me ao culturismo amador e descobri mais tarde que o fazia de forma compulsiva para construir uma couraça muscular (Castelo de Músculos) de proteção do mundo (vigorexia), compensar a falta de auto-estima e descarregar a raiva não reconhecida. Porque motivo me submetia a cargas enormes sobre o meu corpo? Será que estava em paz comigo próprio? Porque motivo me comparava com outros ou procurava fora de mim imagens de aparente sucesso? Tinha muitos argumentos muito bem construidos mas não conseguia ver para lá do véu da ilusão e da distorção da realidade.
Defensividade:
Antes que consigamos ver a realidade, a quarta face do prisma, defensividade, precisa de ser abordada. O co-dependente foca-se nos outros, nos seus papeis, responsabilidade e comportamentos, ao mesmo tempo que não deixa ninguém aproximar-se para ver muito deles próprios. A culpa é o verniz da co-dependência, o medo é a central elétrica, a vergonha é o combustível. Tudo isto distrai do que está subjacente, que é a mágoa e a dor do isolamento. É necessário um sistema de defesa fortemente integrado para proteger o isolamento e evitar a dor e a mágoa.
Desonestidade:
A desonestidade e a distorção da verdade acontece quando se dá uma escalada da co-dependência. Mentimos para ocultar o nosso rasto ou para proteger outros. Tornamo-nos desonestos relativamente aos nossos sentimentos. Rimo-nos através da nossa dor e negamos a nossa raiva. Tornamo-nos desonestos relativamente ao nosso comportamento, dependências e tempo. Esta desonestidade cria uma desarmonia, um tensão interna que apenas pode ser silenciada com comportamentos aditivos e obsessivos. A desonestidades que ensinamos aos nossos filhos é a desonestidade que aprendemos na infância, especialmente a desonestidade com os nossos sentimentos.
Desespero:
O desespero é o medo que as coisas possam não mudar, que não estamos no controlo e não desejamos abandonar o controlo que na verdade não temos. O desespero é a ausência de esperança, verdade e luz.
É importante compreender que muitas crenças sociais enraizadas alicerçam-se em comportamentos co-dependentes não reconhecidos como tal. A nossa organização social e os seus valores são um reflexo do Prisma da Co-dependência. Nós vivemos numa sociedade disfuncional e criamos hábitos, atitudes, comportamentos e valores que não são mais do que reflexos da nossa negação em ver a causa de todos os males que nos afligem. A comparação social, a competição, as desigualdades sociais, as injustiças são apenas sintomas, um reflexo de um problema (causa) que é de natureza mais profunda, um desenraizamento, que traduz a nossa perda de identidade, de desvinculação da Transcendência, usando a palavra de Manuel Sérgio.
Consequências da nossa crise de Identidade:
Os perigos de uma tal conceção fragmentada e codependente são evidentes, e os exemplos são inúmeros:
- Comportamo-nos como se pudéssemos cortar todas as árvores, como se tivéssemos salvo conduto para destruir rios e oceanos sem que o planeta nos puna pela ousadia.
- Nas relações com os outros homens não é diferente: somos agressivos com as pessoas que nos cercam e reclamamos quando elas nos ferem. Agimos como se os nossos atos não tivessem consequências, como se as nossas vítimas não pudessem jamais reagir.
- Se a estrutura do desporto de competição for entendida na nossa cultura como algo que encoraja interesses próprios específicos do contexto, então os dilemas desportivos podem suscitar níveis mais baixos de raciocínio moral como respostas contextualmente apropriadas mas desapropriadas relativamente aos desafios da vida. O Desporto privilegia sobretudo as relações de interdependência-negativa (sobreposição de interesses). Assim, o raciocínio moral no desporto é mais egocêntrico (menos maduro) do que o raciocínio moral sobre a vida de acordo com os níveis morais de Haan (1983), desencorajando o diálogo moral. Pierre Weil na sua Roda da Destruição mostra claramente que a Competição e as Lutas pelo Poder estão na base da polarização e desagregação social.

A Paz como Fenómeno Externo ao Homem.
Morton Deutch no seu livro The Resolution of Conflict – Constructive and destructive processes, quando fundamenta a sua teoria de resolução de conflitos que facilita o processo de paz, refere que:
- Os processos construtivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos cooperativos de resolução de problemas e. A investigação também mostrou que a resolução construtiva de conflitos inerente aos jogos cooperativos é superior em resultados comparativamente aos processos competitivos de resolução de conflitos.
- Em contrapartida, os processos destrutivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos competitivos”.
Um dos principais erros que cometemos ao falar sobre a paz consiste em vê-la sempre como uma aparência, como algo externo ao homem. Assim, dizemos que os homens vivem em paz se eles não estão em guerra, se não há conflito evidente tal como acontece quando competem nos Jogos Olímpicos, num campeonato do mundo ou no desporto escolar.
Se olharmos a paz apenas desta forma, as nossas preocupações concentram-se no tratamento do conflito e das suas causas específicas. Assim, tudo faremos para obter um desarmamento geral. No caso do desporto, como não existem armas, supostamente não existe conflito. Obviamente este é apenas um dos lados do problema e, aliás, o menos importante.
Mais do que a ausência de conflito, a paz é um estado de consciência. Ela não deve ser procurada no mundo externo, mas principalmente no interior de cada homem, comunidade ou nação.
De nada adianta desarmar todos os homens. Eles continuarão a matar-se aos socos, a agredir-se verbal e fisicamente, se os espíritos não forem pacificados. E, na primeira oportunidade, produzirão máquinas ainda mais mortíferas para se destruírem mutuamente.
A paz está dentro de nós. Ou então não existe. Se é no espírito dos homens que começam as guerras, então como disse Robert Muller em 1989, é nas escolas da Terra que se moldará a nova consciência, capaz de pôr um termo a toda a violência.
Pierre Weil
De todas as situações adversas o maior instigador de agressão é a frustração. Se um indivíduo é frustrado na sua possibilidade de alcançar um objetivo (e os jogos desportivos são exemplares nisso porque representam um conflito de interesses que frustram sempre um dos contendores), a frustração resultante aumenta significativamente a probabilidade de uma resposta agressiva (o que é típico nos atletas e em alguns alunos que perdem o jogo). Uma imagem clara da relação frustração-agressão emerge a partir de um estudo clássico realizado pelos psicólogos Roger Barker, Tamara Dembo e Kurt Lewin. Nesta experiência, os investigadores separaram as crianças em dois grupos:
Grupo 1– os psicólogos mostraram a um grupo de crianças uma sala cheia de brinquedos atrativos os quais foram mantidos fora do seu alcance criando enorme frustração. As crianças ficaram fora, separadas por uma rede de arame a olhar para os brinquedos, criando a expectativa de poder brincar com eles, mas estavam impossibilitadas de o fazer. Depois de uma penosa espera, foi finalmente permitido às crianças brincar com os brinquedos. O grupo que sofreu a frustração, assim que teve acesso aos brinquedos, exibiram comportamentos extremamente destrutivos, estragando os brinquedos, atirando-os contra as paredes, pisavam-nos e por aí em diante. Ou seja, a frustração pode conduzir à raiva.
Grupo 2 – a este segundo grupo de crianças foi permitido o acesso à sala sem qualquer restrição tendo elas brincado alegremente com os brinquedos.
Façamos a transferência do resultado desta experiência para um grupo de adeptos que ansiosamente espera atrás das redes nas bancadas pela vitória da sua equipa. Ansiaram por este momento durante dias à espera de conseguir bilhete e um lugar que lhes permita apoiar o seu clube. No final desta espera e grande expectativa, que cria frustração devido à incerteza do desfecho do jogo. Tal como as crianças que foram frustradas do seu momento de alegria, irão descarregar essa agressividade de forma violenta contra a claque adversária, contra outros adeptos, nos bares e cafés onde entram em zaragatas e muitas vezes em casa, nos filhos e esposa. O desporto em todos os seus níveis é uma profunda fonte de frustração e agressividade devido à interdependência negativa (o sucesso de uns impõe o insucesso de outros). O mesmo acontece com os próprios atletas que esperam pelo jogo decisivo, criando tensão que, durante o jogo se torna em agressividade verbal e por vezes física, passivo-agressiva (dissimulada) ou agressiva (exteriorizada).
A Escola a tempo inteiro é outra grande fonte de frustração porque rouba o tempo essencial para a brincadeira e por isso vemos tantos comportamentos disruptivos em sala de aula.
Elliot Aronson The Social Animal, relata as experiências de Brad Bushman que incitou um dos estudantes a insultar os outros participantes (estudantes) para que sentissem raiva. Logo a seguir, foram atribuídos aos participantes três tarefas experimentais:
- Numa das condições experimentais os alunos passaram alguns minutos a socar um saco de boxe enquanto que, ao mesmo tempo, eram encorajados a pensar no estudante que os tinha insultado e zangado.
- Na segunda situação experimental, os estudantes que socavam no saco de boxe foram encorajados a pensar naquela atividade meramente como uma exercício físico.
- Na terceira condição experimental, pediu-se aos participantes que permanecessem quietos durante alguns minutos sem bater em nada.
No final da experiência, quais foram os estudantes que sentiram menor raiva?
- Foram aqueles que ficaram quietos sem bater em nada!…
Adicionalmente o Investigador deu a oportunidade aos participantes para exprimirem a sua agressão contra a pessoa que os tinha insultado utilizando uma buzina de ar comprimido que emite um som intenso, áspero, penetrante e desagradável.
- Os estudantes que tinham socado o saco de boxe enquanto imaginavam o seu “inimigo” foram aqueles que mostraram maior agressividade, agredindo-o com um som estridente da buzina durante mais tempo.
- Aqueles que tinham permanecido quietos depois do insulto foram os menos agressivos.
A mensagem é clara, a atividade física, como socar um saco de boxe, parece não facilitar a dissipação da raiva e muito menos diminuir a subsequente agressão contra a pessoa que lhes provocou a raiva. Na verdade, os dados conduzem-nos exatamente na direção oposta. As experiências laboratoriais de Bushman são apoiadas pelo estudo de campo realizado com jogadores de football (americano). Arthur Peterson mediu a hostilidade geral destes jogadores de football classificando-os antes, durante e depois da época de football. Se a atividade física intensa e o comportamento agressivo que faz parte do ato de jogar football, servisse para reduzir a tensão causada pela agressão reprimida, esperaríamos que os jogadores manifestassem um declínio na hostilidade ao longo da época. Em vez disso, verificou-se um aumento significativo na hostilidade entre os jogadores à medida que a época decorria. (…) Se o efeito catártico se manifestasse, esperaríamos uma diminuição desta hostilidade porém, o ato de ventilar a raiva contra um alvo aumenta a nossa agressividade (“maldade”) contra o alvo. Ou seja, um conjunto significativo de evidências invalida a hipótese da catarse desportiva. O argumento relativo à prática do desporto como facilitadora da catarse da raiva nos jovens e a sua canalização para uma atividade socialmente aceite e codificada, promovendo um meio saudável e controlado de ventilação da agressividade, cai por terra. Porém, o sentimento de pertença (filiação) a um grupo pode dar um propósito positivo ao jovem e funcionar como um contexto positivo no entanto a raiva não é resolvida podendo apenas ficar recalcada e manifestar-se ao menor sinal de contrariedade ou de ameaça.
Para entender melhor aonde nos leva a visão da paz como um fenómeno externo ao homem, vamos seguir o seguinte raciocínio: onde não há ódio, não há guerra; nem haverá nunca; também não existirá conflito armado onde não houver armas; mas, se não tratarmos o interior dos homens, bastará que alguém forneça a munição, e o conflito explodirá tão ou mais forte que antes.
O ódio habita o interior das pessoas, enquanto as armas são um sinal exterior. Se olharmos a paz apenas como ausência de guerra, abriremos mão de cultivá-la na consciência dos homens. Ficaremos satisfeitos retirando as suas armas e substituindo-as por bolas de futebol, de basquetebol ou andebol.
Se a paz fosse um fenómeno apenas externo ao homem, a sua natureza seria cultural, jurídica, social, política ou económica. Em resumo, as ciências sociais poderiam, sozinhas, desvendar todos os mecanismos pelos quais os povos guerreiam e os homens entram em conflito.
Não é assim. A paz é um fenómeno mais complexo, que exige a contribuição de outras ciências e de outros saberes para ser explicado.
Ainda dentro do quadro de referenciais externos ao homem, podemos distinguir dois estados diferentes da paz:
- A paz vista como ausência de violência e de guerra. dá ênfase ao tratamento do conflito e das suas causas e ao desarmamento geral. Ela desarma os homens, resolve as causas específicas de uma briga, mas é ineficaz para desarmar os espíritos. A matança de inocentes ou a agressão pura e simples originam-se numa incapacidade de obter o consenso, solução civilizada para os conflitos. Vários especialistas em direito internacional insistem em resolver a questão da violência baseando-se na substituição do conceito jurídico de “guerra justa” pelo de “direito à paz”. Por outras palavras, querem substituir a “lei da força” pela “força da lei”. Segundo esta visão, é função dos tribunais internacionais a resolução dos conflitos. Aos juízes caberia dar as sentenças a partir de um princípio essencial: o homem tem direito à paz. Embora nos pareça bastante justa esta perspetiva, acreditamos que ela seja insuficiente para prevenir a eclosão violenta dos conflitos. Na prevenção propriamente dita, tem prevalecido um conceito muito enraizado entre os povos do mundo, de “paz armada”. Existe até mesmo uma antiquíssima máxima militar, que resume o problema: “Se queres a paz, prepara-te para a guerra”. Esse princípio é ensinado e desenvolvido nas escolas militares. Ele apresenta um paradoxo fundamental: a função essencial das forças armadas é manter a paz pelo emprego da força. A postura oposta consiste em afirmar: “Se queres a paz, prepara a paz”. os cientistas políticos tentam explicar o problema da paz a partir de um ponto de vista diferente, embora também externo ao homem. Segundo eles, a competição e a possessividade nacionalistas, constituem fatores importantes da guerra. Para alcançar a paz, esses cientistas preconizam a criação de um governo mundial, do qual a Sociedade das Nações e, posteriormente a ONU teriam sido uma espécie de fase preparatória.
- A paz vista como um estado de harmonia e fraternidade entre os homens e as nações parte do pressuposto de que só um trabalho direto e construtivo sobre os grupos e as sociedades poderá pôr fim definitivamente às guerras. “Ausência de violência e de guerra” ou “estado de harmonia e fraternidade” podem ser classificados como partes de uma só categoria, que diz respeito ás relações entre os homens. Chama-se a isso “Ecologia Social“.
Todos os seres pertencem inseparavelmente à natureza, sobre a qual são erigidas a cultura e a civilização humanas. A vida sobre a Terra é abundante e diversa. Ela é sustentada pelo funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais que garantam a provisão de energia, ar, água e nutrientes para todos os seres vivos, que dependem uns dos outros e do resto da natureza para a sua existência, o seu bem-estar e o seu desenvolvimento. Todas as manifestações de vida sobre a Terra são únicas, razão pela qual lhe devemos respeito e proteção, independentemente do seu valor aparente para a espécie humana.
Pierre Weil
Assim, não se pode mais pensar em paz sem relacionar esse conceito ao de “Ecologia Planetária“.
A Paz no Espírito do Homem.
Este ponto de vista corresponde ao conteúdo do preâmbulo do Alto Constitutivo da Unesco, que afirma:
As guerras nascem no espírito dos homens, e é nele, primeiramente, que devem ser erguidas defesas da paz. Poderíamos dar a esta tese o nome de “Ecologia Interior ou Pessoal”.
Pierre Weil
Ainda que frequentemente citado, esse preâmbulo tem sido pouco aplicado, como demonstra um breve estudo que revela, a partir de dados da Unesco, que nas 310 instituições consagradas ao ensino e à pesquisa sobre a paz, somente ¼ das disciplinas estudadas tem eventualmente relação com a paz Interior. Apenas 14% dos trabalhos de pesquisa realizados se concentram neste assunto.

Verifica-se, como efeito da meditação projetada no grupo, um efeito de calma, redução da tensão, stresse e hostilidade a nível da consciência coletiva do grupo social alvo verificando-se um impacto positivo a nível dos indicadores de crime, conflito e terrorismo (redução). Estes resultados foram publicados no Journal of Conflict Resolution editado pela Universidade de Yale no âmbito do Projeto Internacional da Paz desenvolvido por Robert M. Oates da Universidade Maharishi.
Cito, a título de exemplo alguns estudos e práticas relacionadas com a paz Interior e os efeitos da Meditação Coletiva:
John S. Hagelin et al. Effects of Group Practice of the Transcendental Meditation Program on Preventing Violent Crime in Washington, DC. Results of the National Demonstration Project, June-July, 1993. Social Indicators Research, 47(2): 153-201
Jeremy Old. The Super Radiance Effect – A proven technology for national invencibility and international peace. September 2015
David W. Orme-Johnson. Theory and research on Conflict Resolution Through the maharishi Effect.
Robert Keith Wallace. The physiology of higher states of consciousness.
Robert M. Oates. Permanent Peace – How to Stop Terrorismo and War – Now and Forever.
David Lynch. Transforming education through the TM/Quiet Time Program.
A ideia que é no espírito dos homens que começam as guerras, base da Declaração de Yamoussoukro, também admite duas variantes:
- A paz como resultado da ausência ou dissolução de conflitos intrapsíquicos. É uma tese de natureza prsicoterapeutica, segundo a qual a paz será possível por meio do restabelecimento do equilíbrio entre o id e o superego ou, por outras palavras, entre o coração e a razão, ou entre o instinto e o coração.
- A paz como um estado de harmonia interior, resultado de uma visão não fragmentada do saber. É uma tese de natureza espiritual, ligada às grandes tradições da humanidade, assim como aos recentes trabalhos da Psicologia Transpessoal. Caracteriza-se por ser inseparável do amor altruísta e desinteressado. Um dos principais objetivos desta harmonia interior é integrar a ciência (no caso, a psicologia) à tradição espiritual. Lembremos, de passagem, que estas duas áreas do conhecimento se separaram ao longo dos últimos séculos por conta do domínio absolutista da razão.
Adam Grant no seu livro Give and Take introduz dois tipos de pessoas que se situam nos extremos opostos do espectro de reciprocidade designando-as por tomador (aproveitador, ficar com, aproveitar) e dador (aquele que dá, partilha). Os tomadores e dadores diferem nas suas atitudes e ações relativamente aos outros.
Perfil dos Tomadores (Takers):
gostam de receber mais do que dão e inclinam a reciprocidade a seu favor, colocando os seus próprios interesses à frente das necessidades dos outros. O comportamento egoísta dos Tomadores contamina negativamente o ambiente à sua volta, neste caso duma nação, destruindo a confiança entre as pessoas. A prioridade é o lucro e não o bem-estar.
Perfil dos Dadores (Givers):
ajudam terceiros mesmo que os benefícios para eles excedam os custos do investimento pessoal ou em vez disso nem sequer ponderam os custos pessoais, dedicando-se a ajudar sem esperar nada em retorno. Normalmente apenas se empenham em ser generosos na partilha do seu tempo, energia, conhecimento, competências, ideias e ligações com terceiros que possam beneficiar disso. Ser um dador não exige atos extraordinários de sacrifício pessoal apenas requer que se aja no interesse dos outros, como por exemplo oferecer ajuda, prestar-se a mentorar, partilhar ou estabelecer relações com os outros. Os dadores investem na vantagem e benefício dos outros mas hipotecam o seu próprio sucesso. Os dadores são muito nutridores, confiam com facilidade nos outros e mostram-se desejosos em sacrificar os seus próprios interesses em benefício dos outros. Existem dois tipos de dadores:
- Dadores altruístas, como você pode imaginar, são aqueles que largam tudo para ajudar as pessoas o tempo todo, o que significa que tendem a ficar para trás em seu próprio trabalho. Portanto, eles geralmente acabam na base da escada do sucesso (embora ainda sejam pessoas mais felizes do que os tomadores).
- Por outro lado, os dadores alteristas são inteligentes e estratégicos nas suas doações. Embora sejam tanto doadores quanto doadores altruístas, eles aprenderam a navegar com sucesso num mundo com compensadores/equalizadores (Matchers) e tomadores (Takers), para que não se aproveitem deles.
Perfil dos Equalizadores (Matchers):
Esforçam-se por preservar um equilíbrio entre dar e receber e operam segundo o princípio da equidade. Quando ajudam outros, protegem-se na tentativa de garantir reciprocidade.
| Tomadores | Dadores | Equalizadores | |
| Sucesso | Sim | Sim | Sim |
| Atitude | Competitiva | Altruísta (Cooperativa) | Recíproca (Cooperativa) |
| Vitória | Conquista | Partilha | Compensação |
| Interesse | Próprio | Coletivo | Partilhado |
Quando os Tomadores ganham, existe sempre alguém que perde (interdependência negativa – Competição). A investigação mostra que as pessoas tendem a invejar o sucesso dos Tomadores e procuram formas de os derrubar. Porém, ao contrário, quando os Dadores ganham, as pessoas torcem por eles e apoiam-nos.
Quando os Dadores têm sucesso cria-se um efeito de ondulação (reverberações) que promove o sucesso das pessoas à sua volta. Podemos constatar que a diferença reside na forma como o sucesso dos Dadores cria valor acrescido em vez de apenas o reivindicar. Tal como Randy Komisar afirma, “é muito mais fácil ganhar se todos desejarem que nós tenhamos sucesso. Se não fizermos inimigos pelo caminho, é mais fácil alcançar o sucesso!”.
O psicólogo Shalom Schwartz estudou os valores e princípios orientadores mais importantes para as pessoas em diferentes culturas no mundo. Um dos estudos contou com uma amostra representativa de milhares de adultos de países como a Austrália, Chile, Finlândia, França, Alemanha, Israel, Holanda, África do Sul, Espanha, Suécia e Estados Unidos. Traduziram a sondagem numa dúzia de linguagens e perguntaram aos entrevistados para classificar a importância de diferentes valores. De seguida estão alguns exemplos:
Lista 1:
- Riqueza (dinheiro, posses materiais).
- Poder (domínio e controlo sobre os outros).
- Prazer (desfrutar a vida).
- Ganhar (fazer melhor que os outros).
Lista 2:
- Gentileza (trabalhar para o bem estar dos outros).
- Responsabilidade (ser confiável).
- Justiça Social (cuidar dos desfavorecidos).
- Compaixão (Ser sensível e acudir às necessidades dos outros)
Os Tomadores (Atitude Competitiva) preferiram a lista 1 enquanto os Dadores priorizaram os valores da lista 2. Quando a ambição pela riqueza, pelo sucesso acontece em detrimento dos outros criamos frustração nos vencidos e como vimos a frustração leva à raiva e ao conflito. Quando se toma decisões sem Atenção Plena (Mindfullness Social) apoiadas sobretudo na “mente racional”, apenas se reconhecem as decisões e ações estratégias que permitem ter vantagem sobre os outros ou apenas olhar para os benefícios próprios. Este é o princípio moral do jogo desportivo onde os interesses pessoais ou da equipa se sobrepõem aos interesses do outro ou da outra equipa (Interesse próprio).
Obviamente que o perfil moral dos dadores é muito mais favorável a uma paz como fenómeno externo. Os dadores tomam decisões Sociais com Atenção Plena, ou seja, este tipo de decisões dirige-se à “mente social” que reconhece as necessidades e desejos dos outros antes de decidir sobre as suas ações. A atenção social plena apenas se torna possível quando as pessoas são capazes de reconhecer que as suas escolhas afetam as opções e escolhas de outros jogadores, e demonstram a vontade em agir em conformidade.
Schwartz quis conhecer onde é que a maioria das pessoas endossavam (apoiavam) os valores dos Dadores. A maioria das pessoas dos 12 países quantificam os valores dos Dadores como sendo os seus valores mais importantes. Referem uma maior preocupação em dar (cuidar, nutrir) do que ter poder, conquistar, excitação, liberdade, tradição, conformidade, segurança e prazer. Os valores dos Dadores correspondem aos princípios orientadores na vida da maioria das pessoas na maioria dos países. Na maioria das culturas do mundo, a maior parte das pessoas apoiam o Dar como o seu único e mais importante princípio orientador e quando se dá, quando se cuida do outro, cria-se uma espiral positiva e empática.

| Estádio de Maturidade Individual | Perfil |
| Instintivo-Sensórios Tomadores (Takers) | Querem devorar o mundo, aproveitar o máximo que puderem. São hospedes predadores, competidores, interessa-lhes a sobrevivência pessoal e estão centrados no seu próprio “umbigo”. |
| Racionais-Analíticos Recíprocos (Matchers) | Servem o mundo desde que este os possa servir no dobro. Fortemente intelectualizados, formadores de opinião, ambicionam afirmar-se, subir na vida material, conquistar, possuir, adquirir estatuto, procuram lugares de poder. |
| Intuitivo-Sintéticos Dadores Altruistas (Givers) | Estão aqui para servir, esperando pouco em troca. Venceram as barreiras do Chauvinismo e veem o mundo como uma grande morada conjunta onde as ações de cada um tem repercussão direta no equilíbrio das coisas. Dedicam-se ao próximo e possuem sentido de responsabilidade global. |
| Místico-Unitários Dadores Alteristas – Conscientes | Pouco se envolvem materialmente nas coisas do mundo. Cidadãos do planeta, vendo tudo como um sistema integrado, a Terra como parte de um organismo maior. Trabalham para facilitar o despertar da consciência dos restantes seres que vivem num sonambulismo consciencial. |

Vivemos num mundo profundamente material, que privilegia o ter. Trata-se de um mundo quantitativo, não qualitativo. Num mundo assim, as qualidades, isto é, as capacidades, as aptidões de cada um, só interessam se puderem ser convertidas em quantidades, em valores quantificáveis, em dinheiro, em posses, em classificações (Notas), em estatuto, em ranking, em hierarquia, em poder visível. Ou seja, um aluno apenas tem valor, segundo este paradigma, se as suas capacidades intelectuais ou físicas forem quantificadas, mesmo que isso seja o resultado de meras considerações ou critérios subjetivos e arbitrários aos quais se procura atribuir um suposto rigor científico. Obviamente que esta realidade faz parte intrínseca da natureza racional-analítica do mundo ocidental, onde prevalece a mentalidade materialista, sequiosa de poder e de auto-afirmação.
A Visão Holística da Paz
Uma nova visão da paz será certamente holística e tem em conta todos os aspetos mas, como se trata de uma síntese, irá adiante. Essa visão inovadora implica:
- Uma teoria não fragmentada do universo, segundo a qual a matéria, a vida e a informação são apenas formas diferentes de manifestação da mesma energia.
- Uma perspetiva que leve em conta o homem, a sociedade e a natureza, ou seja, a ecologia interior, a ecologia social e a ecologia planetária. estes três aspetos estão estreitamente ligados e em constante interação.
Segundo este ponto de vista, a paz é ao mesmo tempo felicidade interior, harmonia social e relação equilibrada com o meio ambiente.

Assim, não pode haver verdadeira paz no plano pessoal quando se sabe que reinam a miséria e a violência no plano social ou que a natureza nos ameaça com a destruição porque nós a devastamos.
A visão ou consciência holística implica um alargamento progressivo das fronteiras humanas. Começamos pela pessoa, cujas características egocentradas diminuem quando ela se abre para a sociedade em que vive.
Como anteriormente foi referido, o desporto nunca conseguirá ultrapassar o limiar do Jogo Desportivo Finito cuja moralidade é sempre inferior a uma moralidade do Jogo Infinito da Vida que por sua vez é inferior à Moralidade Transcendente numa perspetiva vertical. Bredemeier e Shields (1984) defendem que o diálogo moral no desporto, devido à necessária procura do interesse próprio envolvido, tendem a ser mais egocêntricos e menos imparciais por natureza do que noutros contextos. No desporto, existe uma clara vantagem em dominar e possivelmente intimidar o adversário. Qualquer tipo de vantagem física ou mental é exigida para garantir a vitória. Este pode ser visto como um comportamento egoísta, egocêntrico ou de interesse próprio e, como tal, é a antítese da ação moral moralmente madura quando julgada em relação aos níveis morais de Kohlberg ou Haan. A Consciência Holística ultrapassa esta visão ego-centrada.
Já é uma evolução, mas pode-se ir além. Progressivamente, esse indivíduo descobre que a sua vida e a dos seus semelhantes depende de um delicado equilíbrio ecológico: a consciência sociocentrada desdobra-se então numa consciência Planetária. mesmo esta, no entanto, ainda é geocêntrica, ou seja, vista numa perspetiva limitada ao nosso planeta, como se ele fosse o centro do universo.
A visão holística é, pois, uma consciência cósmica de natureza trans-pessoal, trans-social e trans-planetária, integrando estes três aspetos numa perspetiva mais ampla. O estudo e a administração da paz, por isso, devem ser o resultado de um trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, ou seja, um esforço de integração dos vários saberes que a humanidade desenvolveu ao longo da história.
Educação Física e a Ecologia Interior
A Educação Física ao assumir a Cultura Física centrada no desporto, não contribui para a promoção de uma cultura de paz. Esta cultura de paz apenas pode ser desenvolvidas nas aulas de Educação Física através das Holopraxias ou práticas que levam à vivência holística (lado direito do cérebo) e promovam o desenvolvimento integral do complexo corpo-mente. Cito a título de exemplo algumas das práticas holopráxicas:
- Yoga, Tai-chi-Chuan, Ai-ki-do, trabalho criativo.
- Meditação, presença na vida quotidiana (mindfulness).
- Retiro temporário no silêncio da natureza.
- Educação Somática.
- Biofeedback e a Ciência do Coração (Coerência Psicofisiológica).
- etc…

