Motricidade Humana
Porque motivo Manuel Sérgio afirma, no caderno do Ciclo de conferências organizado pela Associação de Estudantes na UTL-ISEF em 1989, intitulado Motricidade Humana, uma nova ciência do homem, que a expressão Educação Física é atualmente uma expressão limitadora, estática e não válida. O Paradigma emergente, ou holístico, colocou novas questões à EF, gerou crise, no seio mesmo da ciência normal.
Expressão Educação Física:
- Limitadora: Que limita algo ou alguém. Momento que corresponde ao fim ou ao começo de algo. Que atingiu um ponto máximo ou extremo.
- Estática: Um estado de repouso, em oposição ao dinâmico. Sem se mover. Imóvel, parada.
- Não Válida: Qualidade de validade, valor, legítimo.
| Educação Física | Motricidade Humana | |
| Paradigma | Newtoniano Cartesiano | Holístico |
| Ciência | Normal, Dogmática | Fronteira da Ciência |
| Corpo-mente | Separação | Unidade |
| Movimento | Mecanizado – Padrões de movimento e automatismo | Humanizado – esquemas motores |
| Objetivo | Performance atlética; máquinas perfeitas; superação | Um ser que se movimenta para transcender e transcender-se |
| Conceções de EF | Alemanha (Janh), Suécia (Ling), Inglaterra (Arnold), França (Amoros) | França (Georges Hébert) |
| Crença | A vida é a procura de poder. O valor de um homem, tal como o de todas as outras coisas, é o seu preço. É a ética do mercado livre – comprar a competição. O mundo natural é uma anarquia onde os fortes subjugam os mais fracos. | O novo pensamento rejeita toda a competição herdade na tradicional luta pela vida. Repudia toda a ideia de comparação simplista baseada na excelência e no mérito, uma vez que limitam e empobrecem as relações humanas. Integração Social, Sentido Moral e Instinto Social. |
Manuel Sérgio no livro Da Ciência à Transcendência – Epistemologia da Motricidade Humana, apresenta-nos uma definição de Educação Física que consta na Proposta de Lei de 25 de fevereiro de 1939, apresentada à Assembleia Nacional para a criação do INEF (Instituto Nacional de EF) português. Em 1940 é criado o INEF por proposta do Ministro da Educação Nacional, Carneiro Pacheco. A Revolução dos Cravos transportou consigo a necessidade de dar ao ensino em geral e à EF em particular a dimensão duma nova sociedade que pretendia criar, e o decreto-lei 675/75, de 3 de dezembro de 1975, cria os ISEF de Lisboa e Porto através dos quais se iniciou todo o processo de formação de nível universitário, cujas consequências se fazem sentir já em vários setores.
É uma ação intencional que o homem, devidamente dirigido, exerce sobre si mesmo, pela prática racional, sistemática dos exercícios físicos – ginástica, jogos, desportos – metódica e conscientemente executados, como complemento essencial dos restantes meios educativos e higiénicos e tendo como objetivos imediatos a saúde, beleza, força, resistência, disciplina, prontidão, espírito de solidariedade, otimismo, confiança em si, domínio de si próprio, coragem, prudência, caráter, personalidade, tornando o corpo o digno instrumento de uma vontade esclarecida.
I – A Primeira Visão – Mecanicista
O Corpo-Instrumento.
Bastante enraizada no nosso pensamento e na nossa forma quotidiana de ver o corpo como uma coleção de órgãos e sistemas que precisam ser cuidados através de meios tecnológicos. O anatomo-fisiologismo imperava quando Jahn. Amoros, Ling, Arnold e seus discípulos lançaram as bases da Educação Física Moderna afirma Manuel Sérgio. A Educação Física preiteava também, a seu modo, o anatomo-fisiologismo ambiente e o paradigma cartesiano. A própria conceção anglo-saxónica da EF assumia, nos séculos XVIII e XIX, as características do paradigma cartesiano. Aliás, com a Medicina aconteceu outro tanto: “o modelo biomédico está firmemente assente no pensamento cartesiano. Descartes introduziu a rigorosa separação da mente e corpo, a par da ideia de que o corpo é uma máquina que pode ser completamente entendida, em termos de organização e do funcionamento de suas peças. Uma pessoa saudável seria como um relógio bem construido e em perfeitas condições mecânicas; uma pessoa doente, um relógio cujas peças não estão funcionando apropriadamente” afirma Fritjof Capra em O Ponto de Mutação. Manuel Sérgio afirma que a EF representa o ponto mais alto, mais marcante da abordagem mecanicista.

Como se vê, uma antropologia, ou teoria da formação do ser humano, assente no corpo-instrumento e apontando para uma antropologia declaradamente dualista. Muita gente que pontifica, no desporto nacional e internacional, ainda não ultrapassou nem o mecanicismo cartesiano, nem o solo epistemológico do positivismo, afirma Manuel Sérgio. O autor refere em Motricidade Humana, uma nova ciência do homem que, a Educação Física moderna nasceu num clima intelectual onde predominava o velho empirismo inglês e, anos mais tarde, o positivismo.
Philip Ball no seu livro “massa Crítica” tece várias considerações sobre a obra de Thomas Hobbes intitulada Leviatã que constituiu uma tentativa de desenvolver uma teoria política a partir da perspetiva mecanicista do mundo. Hobbes pretendia deduzir, por meio de lógica e razão não menos rigorosa do que as usadas por Galileu para compreender as leis do movimento, o modo como a humanidade se deveria governar a si mesma. Partindo daquilo que considerava serem axiomas irredutíveis e evidentes, pretendia desenvolver uma ciência das interações humanas, da política e da sociedade (Física da Sociedade). Hobbes assumiu como axioma que o estado natural das coisas é o movimento, incluindo das pessoas. Todas as sensações e emoções humanas, concluiu, eram resultado do movimento. Sobre esse princípio básico, Hobbes iria trabalhar em direção a uma Teoria da Sociedade. Hobbes desenvolveu uma descrição fria e sem alma (para não dizer obscura) da natureza humana. Ele via uma pessoa como um mecanismo sofisticado sobre o qual atuam forças externas. Essa máquina seria constituída não apenas pelo corpo, com os seus nervos, músculos e órgãos dos sentidos, mas também pela mente, com a sua imaginação, a sua memória e o seu raciocínio.
A Mente é, pura e simplesmente, uma espécie de máquina de calcular, um computador, se quisermos.
O Corpo, entretanto, seria simplesmente um sistema de membros ligados, movidos pelos fios e roldanas dos músculos e dos nervos. O Homem seria um autómato.
Hobbes era um determinista estrito. Os seres humanos são bonecos cujos fios são puxados pelas forças em jogo do mundo. Nessa época não havia nada de deselegante numa imagem mecânica da humanidade. Se a humanidade era um mecanismo de relojoaria, assim o era o universo. Os planetas e as estrelas estavam em revolução como as rodas de um relógio concebido por Deus, o Relojoeiro Cósmico. Se o universo era um mecanismo de relojoaria, a melhor forma de o compreender seria desmontá-lo peça por peça: aplicar a metodologia reducionista da ciência. Foi precisamente essa abordagem que Hobbes escolheu para analisar o funcionamento da sociedade: resolvê-la-ia nas suas partes constituintes e distinguiria nos seus movimentos as forças causais mais simples. Essa era a sua intenção no antecessor do Leviatã, De Cive (Sobre o Cidadão), publicado em 1642. Assim, o modelo de sociedade de Hobbes gira em torno da suposição de que as pessoas (se dissermos “homens” não estamos, neste contexto a ser inexatos) procuram acumular poder até um nível pessoal de saciedade que varia entre indivíduos. Trata-se de uma prescrição fria, sem dúvida mas que determina o comportamento atual da nossa sociedade no geral e inclusive do desporto e da Educação Física. A interpretação Hobbesiana da natureza humana assenta na ideia que “A vida é a procura de poder“. O poder é relativo: a sua verdadeira medida é o grau em que o poder de um homem excede o poder daqueles que o rodeiam. Segue-se, segundo Hobbes, que a procura do poder é, de facto, uma procura do comando sobre o poder de outros homens. Mas como comanda uma pessoa o poder de outra? na sociedade de mercado burguesa que tinha vindo a dominar a paisagem cultural de meados do século XVII, a resposta era simples: compra-o. Um homem paga a outro para agir em seu nome e para se submeter à sua vontade. Assim, para Hobbes, o valor de um homem, tal como o de todas as outras coisas, é o seu preço; isto é, tanto quanto seria dado pelo uso do seu poder. É a ética do mercado livre – comprar a competição. E assim somos todos arrastados para uma luta perpétua pelo poder.
Carolyn Merchant, no seu livro The Death of Nature (1983), argumenta que a ascensão da filosofia mecanicista e atomista, no século XVII, sancionou as manipulações e violações da natureza que continuam a marchar no mundo de hoje. A sociedade utópica imaginada por Thomas Hobbes, na qual as pessoas são pouco mais do que autómatos, impelidas desta e daquela maneira por forças mecânicas, e onde o raciocínio científico é o árbitro da justiça social, parece um local gélido para se viver. É difícil imaginar o modo como qualquer modelo de sociedade que considera o comportamento dos indivíduos governados por regras matemáticas rígidas pode oferecer-nos uma visão de uma forma de vida melhor, em vez de um admirável mundo novo de pesadelo.

Roda da Destruição de Pierre Weil. “A Mudança de Sentido e o Sentido da Mudança”. Segundo o autor a Competição e as lutas pelo poder estão na base da desagregação do tecido social e da roda da destruição. Normose Informacional.
A Teoria Evolutiva de Darwin (1809-1882) é frequentemente vista enquanto cenário de uma competição implacável pela sobrevivência e sucesso reprodutivo. Até o seu nome foi conotado como sinónimo de competição individual implacável (cruel, sem compaixão), a qual se diz ser Darwiniana. Poderíamos afirmar que Darwin sofreu a influencia deste pensamento mecanicista ao escrever os seus ensaios sobre a natureza humana. No entanto, embora o livro mais famoso de Darwin sobre a evolução seja “The Origin of Species” que retrata largamente a evolução enquanto produto da competição individual implacável pela sobrevivência e sucesso reprodutivo, nada diz sobre o percurso evolutivo da espécie humana. Duas décadas depois, Darwin publicou dois livros que estavam mais diretamente preocupados com a evolução e psicologia humana:
Integração Social, Sentido Moral e Instinto Social:
Quando tomamos em consideração estes dois livros conjuntamente com o primeiro “The Origin of Species”, apercebemo-nos que Darwin tinha uma visão muito mais complexa da psicologia evolutiva dos seres humanos que a maioria dos darwinistas que falam dele. De facto, Darwin lançou as fundações teóricas sólidas, na biologia evolutiva, sobre a necessidade de integração psicossocial para o bem-estar. No livro “The Descent of man” Darwin descreve a tendência natural inata no sentido do contacto social ao qual designa por “instinto social” enquanto uma das maiores e mais notáveis adaptações do Homo Sapiens e de outros espécies animais que formam grupos sociais duradoiros. Argumentou que os seres humanos não só são fortemente atraídos pela necessidade de companhia da sua própria comunidade, devido ao seu instinto social, mas também estão inclinados, de forma inata, para sentir simpatia e predispostos ao comportamento cooperativo e sacrifício altruísta, dentro das suas sociedades tribais. Ele designou esta predisposição o “Sentido Moral” e descreveu a importância psicossocial do Instinto Social e do Sentido Moral enquanto forças ou traços inequivocamente enraizados no Homo-Sapiens (“Cooperação“). Porém, Darwin foi interpretado e popularizado por Thomas Henry Huxley que fez sobressair a ideia da natureza competitiva humana e que o mundo natural é uma anarquia onde os fortes subjugam os mais fracos. Foi esta ideia que prevaleceu e influenciou o modelo competitivo do desporto o qual, apesar da introdução do “Fair-Play”por Thomas Arnold, os valores da competição facilmente resvalam para o “(un)Fair-Play” (Brice K. Alexander, The Globalization of Addiction – a study in poverty of the spirit).
Prevalecem duas crenças enraizadas no pensamento da Sociedade em geral e do Desporto que colonizou a EF:
- Thomas Hobbes e a perspetiva mecanicista do mundo – A vida é a procura de poder. O valor de um homem, tal como o de todas as outras coisas, é o seu preço. É a ética do mercado livre – comprar a competição.
- Thomas Henry Huxley que fez sobressair a ideia da natureza competitiva humana e que o mundo natural é uma anarquia onde os fortes subjugam os mais fracos.

Visão Mecanicista do Corpo e do Movimento:
Se analisarmos atentamente as Aprendizagens Essenciais da EF constatamos de forma vincada as suas influências:
Ginástica de Aparelhos:
Tem a sua origem no anatomo-fisiologismo de Pehr Henrik Ling (1776-1829) e seus discípulos – método da ginástica pedagógica sueca.

A sua influência vem também da conceção nacionalista de Friedrich Ludwig Christoph Jahn na Alemanha.

Desportos Coletivos:
A sua conceção anglo-saxónica assumia, nos séculos XVIII e XIX as características do paradigma cartesiano – movimento desportivo inglês de Thomas Arnold (1795-1842). A originalidade consistiu em codificar as regras, impondo-as a todos e também com a introdução do fair-play.

Calistenia:
A calistenia é um método de treino que utiliza o peso do próprio corpo para trabalhar a força e resistência muscular, sem precisar de equipamentos. Segundo o wikipedia, foi por volta de 1822 que Phokion Heinrich Clias começa a difundir tanto em França como na Inglaterra a calistenia. Marian Mason, uma de suas discípulas, publicou, em 1827 uma obra intitulada On the utility of exercise; or a few observations on the advantages to be derived from its salutary effects, by means of calisthenic exercises A few observation on callisthenic excercises. Clias publicou em Paris, em 1828, Callisthenie ou gymnastique des jeunes filles. A popularidade da calistenia como componente da educação das mulheres aumentou a sua popularidade com a obra dos alemães Friedrich Jahn e Adolf Spiess. Nos Estados Unidos, a difusora da disciplina foi Catharine Beecher, que publicou, em 1857, Physiology and Calisthenics for Schools and Families.
Atualmente a calistenia é um método de exercícios praticado tanto por homens como mulheres.
Se seguirmos o rasto bibliográfico de Phokion Heinrich Clias encontramos um artigo muito interessante intitulado The Emergence of Physical Education as a Subject for Compulsory Schooling in the First Half of the Nineteenth Century: The Case of Phokion Heinrich Clias and Adolf Spiess, escrito por Rebekka Horlacher no Nordic Journal of Educational History. A autora refere que a Educação Física estava associada ao contexto da saúde e do condicionamento geral do corpo. Nesta altura, 1800, a questão essencial das estratégias educativas centravam-se em torno da melhor forma de preparar as pessoas para se envolverem numa “Boa Vida” numa determinada ordem social. Surge a necessidade de criar a Educação Compulsiva com o intuito de “fabricar” os futuros cidadãos através desta escolarização compulsiva (educação forçada) porque os novos estados-nação que foram estabelecidos depois do Congresso de Viena em 1815 enfrentavam um problema: como transformar os antigos habitantes dos territórios em cidadãos dos novos Estados. Obviamente que a Educação Física também foi constituída como uma disciplina escolar desta educação compulsiva. Obviamente que o processo de introdução da EF enquanto matéria escolar nesta educação compulsiva transformou a noção da EF tal como descreve Phokion Heinrich Clias e Adolf Spiess. Nenhum deles é seminal para a história da EF, como Jahn ou Pehr Henrik Ling, mas os seus escritos e atividades permitem compreender estes processos complexos de alteração de currículo em tempos de mudança, centrando-se exemplarmente na Suíça.
Palavras chave das preocupações desta época:
- Educação Física estava associada ao contexto da saúde e do condicionamento geral do corpo.
- Qual a melhor forma de preparar as pessoas para se envolverem numa “Boa Vida” numa determinada ordem social.
- Necessidade de criar a Educação Compulsiva com o intuito de “fabricar” os futuros cidadãos.
- Processos de alteração curricular com o intuito de servir os objetivos anteriores.
Se efetuarmos uma reflexão percebemos de imediato alguns paralelismos entre esta época (século XIX) e a atual:
- A EF ainda está associada à saúde e condicionamento geral do corpo.
- A EF preocupa-se com a educação do corpo através de uma determinada cultura física para ajudar os cidadãos a viverem uma “Boa Vida” (Saudável e produtiva).
- Esta Cultura Física atual está totalmente vinculada às conceções mecanicistas da EF do século XIX:
-
- Inglaterra: Thomas Arnold e o seu movimento desportivo.
- Alemanha: Friedrich Ludwig Christoph Jahn e a sua conceção nacionalista através da sua ginástica de disciplina de ferro e uma subordinação absoluta às ordens dos chefes.
- Suécia: Pehr Henrik Ling instaura um método que tinha como finalidade obter a força pela saúde através da ginástica higiénica..
- França: Georges Demeny foi o fundador da Ginástica Francesa moderna. Para ele a “máquina Humana” trabalha como toda e qualquer máquina, transformando energia.
- Ainda assume uma perspetiva ideológica relativamente à interpretação que faz do corpo e da sua função nesta ordem social. Assumiu como base de formação corporal a pedagogia da oposição através dos desportos individuais e coletivos.
- Envolveu-se recentemente (década de 80 e 90) em alterações curriculares com o objetivo de “fabricar cidadãos” literados nos valores da oposição.
O Francês Pierre de Coubertin cria o movimento olímpico cuja declaração de intenção pretendia exaltar e combinar de forma equilibrada as qualidades do corpo, da vontade e da mente, aliando-se ao desporto, procurando desde o início promover um estilo de vida fundado no prazer do esforço. Pretendia também colocar o desporto ao serviço do desenvolvimento harmonioso da pessoa humana em vista de promover uma sociedade pacífica preocupada com a preservação da dignidade humana. Podemos facilmente afirmar de forma fundamentada que este movimento nunca conseguiu atingir os seus objetivos e as limitações e distorções são cada vez maiores, mais visíveis e evidentes.
Daryl Siedentop através do seu modelo de Educação Desportiva atualmente conhecido como Literacia Desportiva, trouxe para o contexto educativo o modelo desportivo, inspirado nos valores do movimento olímpico.
Resumindo, podemos afirmar que atualmente temos uma Educação Física criada no século XIX, lecionada maioritariamente por Professores de EF formados no Século XX para alunos do Século XXI. Parece-me algo anacrónico.
João Jorge
A grande diferença da atual Educação Física relativamente à EF dos seus percursores deve-se ao avanço do conhecimento científico sobre o corpo humano (ciência normal como lhe chama Manuel Sérgio), ao avanço da tecnologia ao serviço dos espaços e equipamentos desportivos e a uma re-maquilhagem cosmética das atividades físicas inerentes às diferentes conceções de EF, seja de Thomas Arnold, Friedrich Jahn, Pehr Ling e Georges Demeny e Amoros.

Transhumanismo e a Transcendência Horizontal:

O expoente máximo desta visão mecanicista surge-nos no livro de K. Eric Drexler publicado em 1986, intitulado Engines of creation, the coming era of nanotechnology. Define uma máquina como “qualquer sistema, de corpos rígidos, formado e ligado para alterar, transmitir e aplicar forças diretamente numa maneira predeterminada para concretizar um objetivo específico, como por exemplo a performance ou trabalho útil”. É curioso que poderíamos utilizar esta definição ao corpo do atleta no campo da metodologia do treino desportivo. Este livro lança as bases, na altura, da atual tendência Transhumanista de fusão do ser humano com a tecnologia, sobretudo da tecnologia molecular. O autor afirma que a vida é especial em estrutura e que as leis da natureza que governam a maquinaria da vida também governam o resto do universo. O autor apresenta o universo dos computadores moleculares que irão controlar os montadores moleculares que irão ajudar os engenheiros a sintetizar coisas e também os seus antónimos moleculares os desmontadores moleculares que ajudarão os cientistas e engenheiros a analisar coisas.
Desde drogas às máquinas de reparação celular: sendo feitos de moléculas e manifestando uma preocupação pela saúde, a medicina irá aplicar as máquinas moleculares no campo da tecnologia biomédica, antecipava Erik Drexler. Com o auxílio de ferramentas tais como desmontadores moleculares, os biólogos serão capazes de estudar as estruturas celulares num detalhe molecular. Desta forma irão catalogar centenas de milhares de moléculas diferentes no corpo e cartografar a estrutura de centenas de tipos de células. Muito à semelhança dos engenheiros que catalogam as peças e desenham os automóveis, também os biólogos irão descrever as partes e estruturas dos tecidos saudáveis. Nessa altura serão auxiliados por sistemas técnicos sofisticados de IA (Inteligência Artificial). Os médicos têm como objetivo tornar os tecidos saudáveis, mas com as drogas e cirurgias apenas podem encorajar os tecidos a repararem-se a si próprios. As máquinas moleculares irão permitir reparações mais diretas, trazendo uma nova era à medicina. Resumindo, com o advento da tecnologia molecular e da IA seremos capazes de catalogar totalmente os tecidos saudáveis ao nível molecular e iremos construir máquinas capazes de entrar nas células para analisar e modificar a sua estrutura. As máquinas de reparação celular serão comparáveis em tamanho às bactérias e vírus. Irão viajar através dos tecidos tal como as células sanguíneas brancas, entrar nas células como vírus. Dentro das células estas máquinas moleculares irão examinar o conteúdo da atividade celular e agir. A aplicação médica mais simples desta tecnologia das nanomáquinas envolverá, não a reparação mas a destruição seletiva seja no caso dos cancros ou doenças infeciosas. Um dispositivo de reparação irá entrar na célula, ler o ADN, e remover a adição que soletra “herpes”. Estas máquinas de reparação também irão ajudar na cura depois de um ataque cardíaco, reparando o tecido cicatricial ou o músculo morto. As desordens físicas devem-se a átomos desorganizados e as máquinas de reparação serão capazes de restaurar a saúde do corpo.
Uma “doença” chamada envelhecimento: a longevidade aumentou bastante sobretudo devido a melhores condições sanitárias e ás drogas que reduziram as doenças bacterianas. Coloca-se a questão: quanto é que os medicamentos, cirurgias, exercício e dieta prolongam a esperança média de vida? Na perspetiva mecanicista de Erik Drexler, que na verdade afirma implicitamente que existe uma incompetência biológica para lidar com a saúde e com a vida, enfatiza o potencial o potencial de extensão da vida através das máquinas de reparação celular. Estas máquinas serão capazes de reparar as células desde que as suas estruturas distintas permaneçam intactas e serão capazes de substituir as células que foram destruídas. De qualquer das formas, elas irão restaurar a saúde. O envelhecimento não é fundamentalmente diferente de qualquer outra desordem. Ossos frágeis, pele enrugada, baixa atividade enzimática, cicatrização lenta, fraca memória e o resto são o resultado de máquinas moleculares danificadas, desequilíbrios químicos e estruturas desarranjadas. Ao restaurar todas as células e tecidos do corpo até um estado jovem, as máquinas reparadoras irão restaurar uma saúde jovem.
Curar e proteger a Terra: esta é outra promessa antecipada pelos amantes da visão tecnológica onde estas máquinas de reparação molecular serão capazes de reparar os sistemas biológicos da Terra em colapso devido à ação antropogénica. Por muito cativante e promissor que esta solução seja é, na minha opinião fundamentada numa solução que desvia o Ser Humano do reconhecimento do seu potencial intrínseco, da sua “tecnologia orgânica vital”. Para quem quiser compreender esta visão recomendo assistir ao vídeo intitulado “Transcendence” protagonizado por Johnny Depp que personifica o Dr. Will Caster, um investigador de Inteligência Artificial que se esforça para criar uma máquina que possui sensibilidade e inteligência coletiva. É interessante que uma premissa da Motricidade Humana de Manuel Sérgio é a Transcendência porém, numa perspetiva humanista e até espiritual, que se opõe a esta visão tecnológica.

Pandemias e o uso não consentido de nanotecnologia: um dos perigos deste avanço nanotecnológico/biomédico é a administração não consentida através de vacinas. A declaração Universal sobre Bioética e Direitos Humanos no seu artigo 6.º aborda o consentimento: Qualquer intervenção médica de carácter preventivo, diagnóstico ou terapêutico só deve ser realizada com o consentimento prévio, livre e esclarecido da pessoa em causa, com base em informação adequada. Quando apropriado, o consentimento deve ser expresso e a pessoa em causa pode retirá-lo a qualquer momento e por qualquer razão, sem que daí resulte para ela qualquer desvantagem ou prejuízo. O Complexo Industrial Farmacêutico tem utilizado as vacinas como plataforma de inoculação de nanotecnologia na população sem o seu consentimento.
Mik Andersen. 2021. Intracorporal Nanonetwork – brief Summary. version 1. PDF
Mik Andersen. Graphene Oxide & Nano-Router Circuitry in Covid Vaccines: Uncovering the True Purpose of These Mandatory Toxic Injections. PDF
Mingjie Chen et al. Full-color nanorouter for high-resolution imaging. Nanoscale,2021, 13,13024–13029: PDF
Pablo Campra. Microstructures in Covid Vaccines: inorganic crystals or wireless nanosensors network? Universidad de Almeria: PDF
Pablo Compra. Detección de grafeno en vacunas COVID19 por espectroscopía Micro-RAMAN. PDF
Rui Zhang et al. Analytical Characterisation of the Terahertz In-Vivo Nano-Network in the Presence of Interference Based on TS-OOK Communication Scheme. Digital Object Identifier 10.1109/ACCESS.2017.2713459: PDF
Junichi Suzuki et al. A Simulation Framework for Neuron-based Molecular Communication. Procedia Computer Science 24 ( 2013 ) 103 – 113: PDF
Vladimir Parpura. Wiring Neurons with Carbon Nanotubes. Frontiers in Neuroengineering · February 2009: PDF
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Young Mi Lee and Daniel Broudy. RealTime Self-Assembly of Stereomicroscopically Visible Artificial Constructions in Incubated Specimens of mRNA Products Mainly from Pfizer and Moderna: A Comprehensive Longitudinal Study. International Journal of Vaccine Theory, practice, and Research. July 18, 2024, page 1180. PDF
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Gary M. Weiss et col. Smartphone and smartwatch-based Biometrics using Activities fo Daily Living. Volume XX, 2017. Journal Access. PDF
Zhanna Boeva et col. Recent Trends in non-invasive on body chemical sensing. Trends in analytical Chemistry 172 (2024). PDF
Estamos a ser programados e condicionados, sem o nosso conhecimento e consentimento, para uma era da Internet das coisas e sobretudo da Internet dos corpos (IoB). O filme “Transcendência” mostra claramente que a partir do momento que os nossos corpos estão inundados por nanotecnologia, a IA pode assumir o controlo do corpo, manifestando-se diretamente através dele, implantando pensamentos subtis ou diretos sem que o hospedeiro perceba se são ou não seus. É uma arma perfeita para o total controlo da humanidade e a destruição da sua natureza sagrada, divina, já para não falar do verdadeiro potencial para a Transcendência Vertical. Quem promove esta agenda manifesta um total desrespeito pelo ser humano e pela sua verdadeira essência e para a compreender recomendo o livro publicado por Kim Keith intitulado Mass Control: engeneering human consciousness.
Internet do Desporto (IoS)
M. Brian Blake e colaboradores no artigo “Internet of Bodies/Internet of Sports” referem que a Internet dos Corpos (IoB) é um paradigma em evolução que tira partido da ligação do corpo à internet com o intuito de monitorizar e otimizar a rotina diária. Paralelamente surgiu a Internet do Desporto (IoS) que aplica dispositivos e software vocacionados para a monitorização da atividade humana no domínio do fitness e do desporto competitivo. As capacidades avançadas e o desempenho destes dispositivos tecno-biológicos de alta tecnologia abrem um vasto leque de oportunidades e desafios à medida que os profissionais de saúde desenvolvem a próxima geração de soluções médicas e tecnologias de assistência. O domínio da IoB abrange as disciplinas informáticas tradicionais da computação na Internet, engenharia de software, interação homem-computador e das tecnologias de dados e de ligação em rede. O corpo humano é uma “máquina” complexa com nuances ilimitadas. Como é que o software pode/deve representar a atividade do corpo numa linguagem interpretável pela máquina para ajudar os programadores que gostariam de tornar perfeitas as interfaces homem-máquina?
As redes de sensores para monitorização e melhoramento biológico podem ser uma nova área da computação. Numa era em que a segurança e a privacidade parecem ser uma questão secundária, como é que os programadores protegem os consumidores das atividades nefastas dos piratas informáticos? Afinal, quando está em causa a saúde, há um risco pessoal substancial. Por último, a lista de aplicações e serviços é ilimitada.
Quais são os mais recentes avanços práticos e teóricos no domínio da IoB e da IoS, incluindo técnicas de ponta para o desenvolvimento/implementação de sistemas, abordagens de ligação em rede, considerações de privacidade e segurança e interações homem-sensor.
- WellBeat: A Framework for Tracking Daily Well-Being Using Smartwatches, os autores desenvolveram uma estrutura para recolher e analisar dados fisiológicos utilizando smartwatches.
- Intra-Body nano network: a nano-rede é um conjunto de objetos e elementos com a capacidade de interagir entre si através de sinais sob a forma de impulsos, ondas eletromagnéticas e campos elétricos, podendo também operar no espetro molecular. Podemos distinguir dois tipos de filamentos nas nano-redes: aquelas que estão fixas no cérebro e as fixas no resto do corpo.
Smartwatches

Auto-cuidado e Bem-Estar:
Hábitos alimentares, comportamentos sedentários e atividade física são três fatores principais para alcançar um estilo de vida saudável. Graças à consciência cada vez maior dos impactos a longo prazo de uma dieta saudável e de um estilo de vida ativo no desenvolvimento de doenças crónicas e fatais, as pessoas estão agora mais interessadas no bem-estar e na boa forma física para aumentar a sua qualidade de vida. Uma vez que a fisiologia humana abre uma janela para o nosso bem-estar físico, mental e emocional, os dispositivos portáteis tornaram-se parte integrante da vida quotidiana moderna, medindo contínua e discretamente os sinais fisiológicos. Embora os smartwatches tenham ganho popularidade recentemente, eles só podem fornecer informações macro, como frequência cardíaca, VFC, temperatura corporal, acelerómetros que medem os passos, etc. Os smartwatches comunicam-se com sensores IoB personalizados – electrotrocardiografia (ECG) e eletromiografia (EMG), acelerómetros, estetoscópios e adesivos de glicose – para realizar leituras precisas e apresentar aos usuários uma visão da sua saúde. Uma vez que a informação baseia-se nos sinais fisiológicos precisos sobre a dieta, o sedentarismo e a atividade física, as aplicações móveis podem tirar conclusões e fornecer aos usuários um conjunto de recomendações oportunas para melhorar seu bem-estar, aptidão física e estado de saúde. A felicidade, o estado de alerta e o estado de relaxamento podem medir-se através dos sinais fisiológicos o que permite às aplicações móveis fazer sugestões para o bem-estar mental e emocional.


Avaliação do Estilo de Vida
Este equipamento não é invasivo e deve ser usado apenas durante o período de recolha de informação. O dispositivo de medição Bodyguard 2 é um dispositivo de registo de intervalo R-R fácil de usar, projetado para medições de avaliação de estilo de vida. Uma Avaliação do Estilo de Vida pode ser realizada em quase todos os interessados na sua saúde, bem-estar e na melhoria do seu nível de aptidão física. A Avaliação do Estilo de Vida é utilizada com a finalidade de promover o bem-estar e não se destina ao diagnóstico de doenças.
O equipamento que pretendo enfatizar é o utilizado pela Firstbeat para medir a VFC e oferece dados extremamente importantes que facilitam uma análise do estilo de vida dos alunos, permitindo personalizar a abordagem na aula de Educação Física. O equipamento Firstbeat® utiliza a VFC para traçar um gráfico que mostra o estado fisiológico do aluno. A VFC pode ser usada para estimar a frequência respiratória, consumo de oxigénio, dispêndio energético (calórico), efeitos do treino (EPOC) e a recuperação do stresse.

Jakub Parak e colaboradores no artigo Accuracy of Firstbeat Bodyguard 2 beat-to-beat heart rate monitor referem que o Firstbeat Bodyguard 2 (BG2) é um dispositivo de seguimento, supervisão e registo do ritmo cardíaco, batimento a batimento, destinado à monitorização a longo prazo da Variabilidade da Frequência Cardíaca (VFC) e da atividade física. O dispositivo regista o ECG com elétrodos, processa o sinal com um algoritmo integrado e fornece o intervalo R-a-R (RRI) batimento a batimento como saída, com uma resolução de 1 ms.

Intra-Nano Networks




A nano-rede constitui um conjunto de objetos e elementos com capacidade de interagir entre si, por meio de sinais na forma de pulsos, ondas eletromagnéticas e campos elétricos, podendo também operar no espectro molecular. Estes componentes podem estar já montados ou pendentes de auto-montagem quando as condições de temperatura, magnetismo e ambiente forem adequadas dentro do corpo humano.

Fonte da imagem: Abdulkadir Celik, Ahmed M. Eltawil. The Internet of Bodies: The Human Body as an Efficient and Secure Wireless Channel. Internet of Things magazine. April 2022.
Vantagens e Desvantagens
| Médico | Performance | Conveniência |
| Melhorar a monitorização, prevenção e tratamento de doenças. Prevenção e deteção de pandemias POssivel redução nos custos de saúde A partilha de dados pode melhorar a investigação. | Melhorar a perceção Melhorar a função melhorar a cognição Melhorar o fitness | Melhorar a eficiência Monitorizar o ambiente para conforto e segurança |
| Riscos de abuso de dados | Vulnerabilidades potenciais | Possíveis Consequências |
| Criminosos Piratas informáticos Corretores de dados Centros de Fusão de dados Empregados escolas Fornecedores de cuidados de saúde Companhias de seguros Empresas Sistema de Justiça Criminal Governos | Dependência corporal de dispositivos para fins de saúde. Recolha de dados sensíveis Possessão ou disseminação de conectividade na internet falhas regulamentares Hardware Software | Morte ou danos físicos devido a avarias ou pirateagem. Desafios a nível da segurança nacional e global. Violação de dados. Recolha e/ou partilha de dados sem o consentimento informado. Uso indevido ou inesperado de dados. Identificação pessoal. Aumento das disparidades de saúde. Coerção para aceitar dispositivos. Violação da autonomia corporal. |
II – A Segunda Visão – Naturalista
Perguntas:
- Porque motivo valorizo o Método de Treino Natural em detrimento do Modelo Desportivizado da EF?
- Se o tema deste artigo é o “Futuro do Corpo” e criticamos o anacronismo da Educação Física, porque motivo escolho defender uma Educação Física baseada no Método de Treino Natural de Georges Hébert (1875-1957) que é contemporâneo de Pierre de Coubertin (1863-1937)?
A sua obra exprime o fascínio pela potência misteriosa das populações exóticas, pois Hébert teria viajado extensivamente pelo mundo, tendo ficado impressionado com o desenvolvimento físico e as habilidades dos movimentos dos povos indígenas, africanos e de outros lugares. Nas palavras de Hébert: “Os seus corpos eram esplêndidos, flexíveis, ágeis, habilidosos, duráveis, resistentes e ainda nunca tiveram nenhum tutor em ginástica exceto pelo seu convívio com a natureza”.
George Hébert.
O Método Natural é, por conseguinte, a codificação, adaptação e a gradação dos procedimentos e meios empregues pelos seres vivos no estado de natureza para adquirir o seu desenvolvimento integral. […] nenhuma cultura física dita científica, fisiológica ou outra, jamais produziu seres fisicamente superiores em beleza, saúde e força a certos habitantes naturais de todas as regiões do mundo: indígenas de todos os climas, negros da África, indígenas da Oceania etc.
George Hébert.
O paradigma emergente, ou holístico, colocou novas questões à Educação Física, gerou a crise, no seio mesmo da ciência normal. E estar em crise, é anunciar o novo e, simultaneamente, denunciar o conservadorismo, o dogmatismo da ciência normal. O que se põe em questão é a convicção de conhecer um homem por meios unicamente mensuráveis. Pois que não é desta forma, que se alcança o ser e o sentido de uma existência humana afirma Manuel Sérgio. No livro Da Ciência à Transcendência, Manuel Sérgio introduz o autor Bruce Lipton, com o qual também estou familiarizado, e o livro Biologia da Crença. A ciência revelada neste livro define o modo como as crenças controlam o comportamento e a atividade genética e, consequentemente, o desenvolvimento das nossas vidas, ou seja, a crença gera biologia.
O licenciado (ou mestre, ou doutor) em motricidade humana é assim o agente do ensino, ou o investigador, ou o técnico que, no exercício da sua profissão, procura a libertação dos corpos, rumo à transcendência, rumo ao possível, através de técnicas específicas e de um conceito, que se fez vida, de Homem e de motricidade.
Manuel Sérgio, Motricidade Humana
A Conceção Naturalista de Georges Hébert, criador do Método Natural, foi esquecida por não seguir os mesmos princípios das outras Conceções de EF. Georges Hébert propõe o movimento intensivo em vez do movimento extensivo de Demeny e Ling. Hébert promove o élan vital, colocando os praticantes no meio natural, libertando a EF dos ginásios fechados e dos entraves vestimentares, libertando inclusivé o próprio movimento dos seus acessórios convencionais. O Método de Treino Natural desvaloriza a competição, privilegiando a cooperação, o Sentido Moral e o Instinto Social. Esta conceção está totalmente alinhada com o Paradigma da Motricidade Humana que põe em questão a convicção de conhecer um homem por meios unicamente mensuráveis pois não é desta forma que se alcança o ser e o sentido da sua existência humana afirma Manuel Sérgio. A Motricidade Humana deixa de ser tão-só movimento meramente mecânico, performance atlética, para se transformar na palavra humano, na sua totalidade, desde o lúdico passando pelo ergonómico e até ao sagrado. Ouvir a voz do corpo significa estar atento a um ser-no-mundo, a um ser-que-sente, a um ser-que-joga, a um ser que se movimenta para transcender e transcender-se. Desta forma, a análise da motricidade não pode circunscrever-se nem à bioquímica nem à anatomo-fisiologia, nem à fisiologia do esforço, etc…, mas à compreensão e explicação da totalidade do humano, expressa pela corporeidade. Numa palavra, o homem não é um autómato, e o corpo não é uma máquina (ao contrário da crença de Thomas Hobbes), nem simplesmente um organismo.

É imperativo evoluirmos de um sistema de crenças onde prevalece um comportamento pautado pela rivalidade competitiva no sentido de um modelo social com uma orientação humanista-altruísta própria do auxílio cooperativo. Para que isso aconteça torna-se muito importante desconstruir o falso Darwinismo e sobretudo a influência de Thomas Hobbes. A Motricidade Humana assume um papel muito importante porque se orienta pelo Paradigma Holístico. Como afirma Manuel Sérgio no seu caderno Motricidade Humana, uma Nova Ciência do Homem (UTL-ISEF), a Educação Física representa o ponto mais alto, mais marcante da abordagem mecanicista do ser humano. (…) De repente é preciso cuidar do corpo, tirar o excesso de gordura, melhorar a performance sexual, o visual. É preciso competir. É preciso acima de tudo, vencer, tanto no desporto como na vida.
Mas acontece que nunca perguntamos a nós mesmos o que é realmente vencer na vida?
Para Thomas Hobbes, vencer na vida é acumular poder até um nível pessoal de saciedade e o valor do homem mede-se pelo seu preço numa ética de mercado livre competitivo, arrastando-nos para uma luta perpétua pelo poder onde os mais fortes subjugam os mais fracos.
Quando aborda a necessária emergência de novos valores na atual sociedade, tanto na esfera do trabalho (economia) como da educação em geral, refere que a competição profissional foi considerada até hoje como uma motivação saudável rumo ao êxito. O novo pensamento rejeita toda a competição herdade na tradicional luta pela vida. Repudia toda a ideia de comparação simplista baseada na excelência e no mérito, uma vez que tais comparações conduzem geralmente a uma classificação arbitrária entre os indivíduos, a juízos de valor que limitam e empobrecem as relações humanas. A sociedade, liberta da ideia de competição, não surge já como uma selva, mas como uma comunidade de interesses cuja evolução assenta na ajuda mútua, na cooperação, na educação recíproca, no partenariado (Joel de Rosnay, 1975 “O macroscópio”).
Georges Hébert apresentou, já na altura, uma conceção de ver o corpo e o movimento, liberto da ideia da competição:
Ginásios Fechados:
Embora o nosso clima seja favorável à atividade ao ar livre, a maioria das escolas está enclausurada dentro de uma paisagem urbana onde prevalece um claro défice da Infraestrutura Verde Comunitária (IVC) que corresponde ao conjunto dos parques comunitários e nacionais, vias públicas, florestas, hortas comunitárias e uma infinidade de outras formas de componentes privados e públicos da paisagem natural (espaços verdes), tomados em conjunto e considerados como um sistema.

Modelo Ecológico da Saúde: Fonte da Imagem: Christopher Coutts e Micah Hahn intitulado Green Infrastructure, Ecosystem Services, and Human Health, publicado no International Journal of Environmental Research and Public Health. Infraestrutura verde de uma comunidade.
A EF, uma vez que acontece dentro das escolas e a maioria não tem espaços verdes incluindo zonas arborizadas, estará sempre dependente dos Ginásios Fechados ou do mobiliário urbano da escola. Porém, o Parkour é uma criação inspirada no Método Natural que está perfeitamente adaptado ao ambiente urbano e aos espaços interiores, mantendo os mesmos valores e princípios do Método de Treino Natural.
A Infra-estrutura Verde é um elemento muito importante para a saúde das pessoas (o contacto com a natureza) e vários autores falam inclusivé de uma “desordem de défice de natureza” que é uma forma eficaz de chamar a atenção para uma questão emergente que causa distúrbios tanto físicos quanto mentais e comportamentais que podem ser facilmente observados por muitos pediatras. O contacto com a natureza melhora todos os indicadores mais importantes de uma infência saudável, como a imunidade, memória, sono a capacidade de aprendizagem, a sociabilidade e as capacidades físicas.

Determinantes da saúde. Condições básicas para a saúde: Paz, abrigo, alimentação, rendimento, educação, segurança social, relações e redes sociais, empowerment, ecossistema estável, uso sustentável de recursos, justiça social, respeito pelos direito humanos, equidade. Adaptação de modelo dos determinantes da saúde de Dahlgren e Whitehead (1991).
São vários os fatores que influenciam a forma como vivemos e, consequentemente, o nosso estado de saúde.
O estado de saúde resulta, assim, de uma combinação de fatores genéticos, fisiológicos, ambientais e comportamentais. É por isso fundamental a aposta nos fatores modificáveis, ambientais e comportamentais, alterando os comportamentos de risco comuns a todas as doenças crónicas como o tabagismo, a má alimentação, o excesso de peso, o consumo excessivo de álcool, o sedentarismo e o afastamento da natureza e de uma relação saudável com a mesma.
As redes sociais e comunitárias, entre as quais família e amigos, constituem outro nível de influência. Se as condições de vida, como o trabalho, educação ou habitação, são determinantes, também as condições socioeconómicas, culturais e ambientais, a um nível mais macro, influenciam a saúde dos indivíduos.
Entraves Vestimentares:
A roupa desportiva em si é bastante confortável, flexível e até minimalista (calção e T-Shirt) permitindo aos alunos a necessária liberdade de movimento que o Método de Treino Natural defende. Relativamente ao calçado desportivo, podemos sempre solicitar aos alunos que retirem o calçado e experimentem circular descalços na terra (exterior) ou no pavilhão (chão em madeira). A palavra inglesa Earthing significa Ligação à Terra (LT) feita através do contacto direto dos pés descalços. Também encontramos a palavra grounding para descrever o mesmo processo. A LT refere-se à descoberta científica de que o contacto corporal com a carga elétrica natural da Terra interfere positivamente, promovendo uma estabilização dos nossos processos fisiológicos, reduzindo a inflamação, a dor, o stresse, melhora o fluxo sanguíneo, a energia e o sono, e gera maior bem-estar. Tais efeitos são profundos, sistémicos e fundamentais, e muitas vezes desenvolvem-se rapidamente. A LT restaura uma ligação elétrica primordial com a Terra, perdida ao longo do tempo devido ao estilo de vida humano, sobretudo devido à introdução das solas de borracha no nosso calçado desportivo. A ligação à terra parece corrigir o que chamamos de Síndrome de Deficiência Eletrónica (SDE) uma causa negligenciada e provavelmente significativa estando relacionada a múltiplos distúrbios de saúde.
A prática de modalidades desportivas, coloca ao atleta um determinado conjunto de exigências de natureza biomecânica, traduzida por esforços combinados, verticais e horizontais, de maior ou menor intensidade e frequência, em ações de andar, correr, saltar e travar em diversos tipos de pisos. O estudo aprofundado das exigências biomecânicas colocadas aos atletas no exercício das suas atividades desportivas conduziu à produção de calçado especializado para a prática das diversas modalidades. Porém, como veremos, o calçado desportivo que foi concebido para nos proteger acaba por ser mais uma fonte de problemas musculo-esqueléticos e biomecânicos. Hoje prevalece na comunidade científica um profundo debate sobre o uso de calçado desportivo que promove amortecimento, proteção do tornozelo, tração e outras propriedades mas que atrofia a estrutura biomecânica e musculo-esquelética do pé e por isso surge o conceito de calçado minimalista ou pé descalço. Será que as crianças, em fases de desenvolvimento da sua estrutura músculo-articular precisam usar calçado desportivo sofisticado concebido em função dos modelos da alta competição?
Acessórios convencionais:
Não há necessidade de instalações, infraestrutura pesada como estádios, pisos sofisticados especiais à base de borrachas sintéticas extremamente onerosos como os estádios de atletismo (tartan), pisos sintéticos dos Pavilhões Desportivos, relvas sintéticas para campos exteriores, resinas sintéticas de poliuretano para polidesportivos exteriores ou granulados de borracha para pisos de parques infantis ou parques de parkour. Carla Barreira (2012) mostra claramente os problemas associados ao “conforto e qualidade ambiental na utilização de parques desportivos escolares em portugal” no que toca aos parâmetros acústicos (ruído), higrométricos (humidade), luminosidade (iluminação artificial e natural), revestimentos (pisos desportivos), ventilação (qualidade do ar interior), térmicos (temperatura interior), acessibilidades: PDF. Ou seja, na procura de condições para a prática de exercício físico que promova a saúde e bem-estar acabamos por criar outros problemas que a comprometem. Por outro lado, a Educação Física é uma disciplina que está dependente de equipamentos de rápido desgaste como bolas que são de aquisição muito dispendiosa colocando pressão nos orçamentos das escolas e criando atritos entre os interesses Grupos disciplinares e as Direções das Escolas que muitas vezes não valorizam a EF

Desvaloriza a Competição:
A interdependência negativa nas relações interpessoais e nos grupos promove atritos e conflitos. A interdependência positiva facilita as relações saudáveis e a empatia. Como já vimos noutros artigos anteriores, a cooperação é muito mais vantajosa em ambientes educativos saudáveis

Uma Nova Ciência
O Novo Paradigma da Educação Física também integra a Pedagogia da Consciência para promover nos alunos um despertar de consciência relativamente à sua Transcendência. Sabemos que Manuel Sérgio, antes de estabelecer as fundações epistemológicas da sua Ciência da Motricidade Humana, começou por levantar a questão fundamental: O que é um Ser Humano?
Definir um Ser Humano é um risco. Na verdade, como podemos determinar com precisão a subjetividade humana?… o Ser Humano é um mistério, visto que existe uma parte dele que ultrapassa a nossa capacidade intelectual e pragmática.
Dean Radin, Where, When and who is the self?, uma apresentação no 2.º simpósio aquém e além do cérebro (Fundação BIAL) afirma que os resultados acumulados de experiências laboratoriais têm fornecido evidências que o self tem acesso a informação não limitada pelo espaço e tempo.
Roger D. Nelson no seu livro Connected, The emergence of a Global Consciousness, descreve uma cena chave do filme Guerra das Estrelas onde vemos Obi-Wan Kenobi a viajar numa nave quando de repente cambaleia, como se estivesse em agonia. Luke Skywalker apercebe-se e pergunta, “Sentes-te bem? O que se passa de errado? Com algum esforço, Obi-Wan responde com pesar, “Senti uma grande perturbação na Força (Dao), como se milhões de vozes chorassem repentinamente em terror e fossem instantaneamente silenciadas”. Sinto que aconteceu algo terrível. Obi-Wan estava-se a referir ao Império que acabara de usar uma arma aterradora, chamada a Estrela da Morte, para destruir o Planeta Alderaan. Além de atuar como um enredo convincente, o que há de mais interessante nesta cena é que ela não precisou de uma explicação extensa. De alguma forma, todos sabíamos o que Obi-Wan queria dizer e o que ele sentiu.
- Será que uma “perturbação na força” é apenas uma fantasia da ficção?
- Ou será que é real?
Estas são questões fundamentais acerca do universo e o papel que a consciência desempenha na complexa tapeçaria daquilo que chamamos de realidade. Um dos maiores perigos e ameaças ao ser humano é esta tentativa de substituir a consciência pela tecnologia. A tecnologia jamais conseguirá mimetizar o potencial latente dos seres humanos e o segredo desse potencial é a Consciência.
Roger D. Nelson, o autor da investigação relacionada com a Consciência Humana, conclui que o sentido de Obi-Wan relativo a uma perturbação na força não é uma mera ficção. É real. O seu livro é um vislumbre da fronteira da ciência sobre o significado de Ser Humano neste início do século XXI. A consciência é paradoxalmente o aspeto mais íntimo do nosso mundo pessoal e o assunto mais desafiador que confronta a nossa compreensão científica.
Esta investigação sobre a consciência desenrola-se no Laboratório de Engenharia de Investigação de Anomalias em Princeton. A investigação mostrou que a nossa consciência é capaz de ultrapassar a barreira do tempo e do espaço para interagir com outra consciência ou alterar aspetos subtis do mundo, influenciando o comportamento de dispositivos de números aleatórios. O estudo permitiu perceber os contornos de uma Consciência Global (Mente coletiva) e que todo o universo é um único campo unificado. Michael Talbot no seu livro The Holographic Universe apresenta uma nova visão da realidade onde afirma que a atual compreensão do universo, da natureza da realidade e particularmente dos seres humanos é superficial, incorreta e incompleta. Atualmente existem poucas dúvidas que a consciência é uma forma mais subtil de matéria.
Não precisamos da Internet das Coisas (IoT) ou da Internet dos Corpos (IoB) para estarmos todos ligados, ter acesso ao nosso estado interior ou manifestar saúde e bem-estar.
O Projeto de Investigação Consciência Global, revelou uma estrutura subtil mas significativa naquilo que deveriam ser dados aleatórios, recolhidos durante períodos de tempo, quando milhões de pessoas partilhavam emoções comuns, sugerindo uma conclusão poderosa:
A consciência é instrumental, ou seja, fundamental. Não é apenas uma emanação secundária a partir do cérebro, um epifenómeno dos processos eletro-químicos das sinapses, em vez disso é uma parte independente do substrato físico dos neurónios e das sinapses protegidas pelo crânio. A mente tem um papel real e participativo no mundo.
Temos que refinar as perspetivas científicas e filosóficas acerca do que somos e do que nos torna infinitamente criativos e, ao mesmo tempo, perigosos e destrutivos. As decisões e direções que a humanidade escolhe coletivamente irão determinar o destino do nosso mundo. Pelo facto de estarmos interligados, possuímos o potencial para nos tornarmos uma luz orientadora da evolução, o que significa que nos devemos tornar agentes conscientes do crescimento e uma força cooperativa intencional da mudança, orientada por princípios de compaixão e amor. Quando atingirmos o nosso potencial total enquanto Seres Humanos, descobriremos que estamos todos ligados enquanto espécie Humana a um Campo de Consciência Global (Matriz de Consciência), e é aqui que encontramos o profundo sentido de propósito da nossa vida, caso contrário viveremos uma vida vazia e desprovida de sentido.
A equipa internacional de investigadores deste projeto da Consciência Global, distribuíram uma rede de detetores no mundo inteiro que são sensíveis às influências das intenções e emoções. Desde 1998 que têm recolhido informação relativa à Consciência Global. Os dados científicos mostram claramente que em momentos especiais, quando os pensamentos e sentimentos coletivos se sincronizam, os instrumentos registam essas alterações. Os resultados provaram estar para lá da mera coincidência porque as correlações encontradas são fiáveis e carregadas de significado, numa perspetiva científica. Os equipamentos são Geradores de Números Aleatórios (GNA). A ideia assemelha-se a um EEG para o mundo e a semelhança metafórica levou os investigadores a chamar à rede de sensores, ElectroGaiaGram ou EGG. Os investigadores encontraram uma estrutura nos dados registados durante desastres naturais, ataque de terroristas e celebrações tais como o Ano Novo. Ou seja, existe uma ligação entre estes eventos globais e os desvios encontrados nos dados. Os resultados sugerem que se deve ter em séria consideração a ideia de uma interação mental que tem uma presença real no mundo físico.
Este despertar de consciência para esta ligação coletiva tem promovido em vários grupos no mundo um sentido de colaboração e cooperação. As pessoas tem-se organizado em momentos de meditação coletiva, ou usado a tecnologia para sincronizar eventos em pontos separados do mundo. Existem grupos que partilham momentos de oração e intenção focada no objetivo da paz.
Quais são as implicações destas conclusões científicas dos estudos sobre o Campo de Consciência Coletivo?
- Primeiro a EF tem que implementar a Pedagogia da Cooperação para criar laços fraternos entre os alunos criando um sentido de unidade pela diversidade.
- Depois de promovermos uma sociedade cooperativa, estaremos em condições de sincronizar esforços no sentido de promover a transformação planetária que desejamos no sentido da paz e harmonia. Esta dimensão da abordagem da EF relaciona-se com a Pedagogia da Consciência. Em vez de abordarmos apenas um corpo mecânico pelo movimento técnico, iremos treinar os futuros “Guerreiros Jedi”, desenvolvendo a unidade Mente-Corpo-Consciência versados nas artes da “Força”, independentemente da conotação que cada um lhe queira atribuir. O início desse processo passa pela prática da meditação, da eutonia e de uma consciência corporal profunda.
Stephan A. Schwartz no seu artigo de reflexão científica intitulado Science slowly accepts the matrix of consciousness, afirma que talvez o mais significativo de tudo seja que se está a tornar cada vez mais claro que a inteligência não se baseia apenas na fisiologia e que a matriz da consciência não é local. No seu artigo apresenta um conjunto de investigações científicas que mostram esta não localidade da consciência. Estes estudos e experiências dispersos por muitas disciplinas, utilizando diferentes protocolos, são frequentemente rejeitados pelos fisicalistas (materialistas) que consideram a própria ideia de consciência não-local, citando os psicólogos e fisicalistas americanos James Alcock e Arthur Reber, “impossível”. Porém, quando examinamos de perto a posição destes psicólogos e neurocientistas materialistas, percebemos a sua posição mais como uma declaração de ideologia ou crença, do que como uma declaração científica. O que esta investigação nos está a dizer, penso eu, é que o materialismo confortável que dominou a ciência durante muitos anos, está lentamente a dar lugar a uma aceitação da matriz da consciência, o reconhecimento de que nem todos os aspetos da consciência são fisiológicos, e que Max Planck estava certo quando disse em 1931:
Considero a consciência fundamental. Considero a matéria derivada da consciência. Não podemos ficar atrás da consciência. Tudo o que falamos, tudo o que consideramos existente, postula a consciência.
Biofísica Informativa Quântica
Bruce D. Curtis e J.J. Hurtak no seu artigo Consciousness and Quantum Information Processing, Uncovering the Foundation for a Medicine of Light, falam de um sistema de comunicação hiper-rápido que parece indicar que o corpo humano funciona como um biocomputador, operando em vários níveis de informação simultaneamente. Em suma, a equipa de Korotkov associou a ideia oriental de transferência de “energia” com “o transporte de estados excitados por eletrões através de complexos de proteínas moleculares”. Com efeito, o organismo está a criar uma reserva de energia no EES (Estados Eletrónicos Excitados), disponível para utilização quando necessário.
Assim, a acupuntura funciona com um quinto sistema circulatório de luz (biofotões) ligado a uma corrente interna que atua através dos meridianos da acupuntura.
Syldona e Rein (1999) também postularam a sistema de meridianos de acupuntura como modelo subjacente para o corpo físico. Liboff apresenta ainda um argumento convincente a favor de um paradigma eletromagnético para o ser humano. A comunidade científica mais conservadora (Paradigma Cartesiano) poderá em breve reconhecer um corpo distinto, mas interligado, que podemos chamar de corpo eletromagnético (Zhang, 2003).

Se a ciência materialista procura tirar partido desta realidade eletromagnética para implantar componentes intracorporais que formam uma nano-rede tais como nanotubos e derivados, pontos quanticos de grafeno, nadadores hidrogel, nanoantenas fratálicas de grafeno, nanorouters e nanocontroladores e nanointerfaces CODEC, para extrair informação do corpo e também para o programar, porque temos tanta dificuldade em aceitar que os meridianos de acupuntura são canais de circulação de biofotões e eletrões? ou que as nossas células comunicam através da emissão e receção de biofotões. Foi demonstrado que os campos eletromagnéticos pulsáteis regulam virtualmente todas as funções celulares, incluindo a síntese do ADN, do RNA, síntese proteica, a divisão celular, a diferenciação celular, a morfogénese e a regulação neuroendócrina. Estas descobertas são relevantes uma vez que fundamentam que o comportamento biológico pode ser controlado por forças “energéticas” invisíveis estando incluídos os pensamentos. A coerência ou incoerência dos nossos pensamentos, relativamente a nós próprios (auto-estima e auto-conceito), determina a coerência ou incoerência fisiológica.

As investigações apresentadas por Isabelle Hof no documento intitulado The Wim Hof Method Explained©, provaram que Wim Hof (“O Homem de Gelo”) consegue controlar o sistema nervoso autónomo tal como foi provado no Instituto Feinstein. Este indivíduo acumulou quase 20 recordes mundiais, incluindo o banho de gelo mais longo, a escalada de picos de montanhas nevadas só em calções, maratonas de corrida à volta do círculo polar, entre muitos outros.
- Prática da respiração.
- Atitude mental.
- Exposição gradual ao frio.
A investigação científica que mostra uma ativação voluntária sobre o sistema nervoso simpático com uma consequente atenuação da resposta imunitária foi desenvolvida por Matthijs Kox e colaboradores no Laboratory Medicine, Radboud University Medical Centre, em 2014. Até agora, tanto o sistema nervoso autónomo como o sistema imunitário inato eram considerados como sistemas que não podem ser influenciados voluntariamente. Este estudo demonstra que, através da prática de técnicas aprendidas num programa de treino de curta duração, o sistema nervoso simpático e o sistema imunitário podem, de facto, ser influenciados voluntariamente.
Matthijs Kox et col. Voluntary activation of the sympathetic nervous system and attenuation of the innate immune response in humans. PNAS | May 20, 2014 | vol. 111 | no. 20 | 7379–7384. PDF
Otto Muzik et col. Brain over body”–A study on the willful regulation of autonomic function during cold exposure. NeuroImage 172 (2018) 632–641. PDF
Bruce D. Curtis and J. J. Hurtak (2004); “Consciousness and Quantum Information Processing: Uncovering the Foundation for a medicine of Light”; The Journal of Alternative and Complementary Medicine; Vol. 10, n.º 1pp. 27-39: PDF
Meina Yang et al. A Bridge of Light: Toward Chinese and Western Medicine Perspectives Through Ultraweak Photon Emissions. Global Advances in Health and Medicine, Volume 8: 1–7: PDF


No caso das holopraxias, como avaliamos a evolução de um aluno que consegue melhorar o fluxo do prana e beneficiar fisiologicamente o seu sistema imunitário. Apenas conseguimos avaliar as posturas na sua dimensão técnica.
Utilizo o caso do Yoga para ilustrar como é que a fronteira da ciência se tem debruçado sobre o estudo do chamado “corpo ilusório-prana” que o Yoga contempla no seu quadro de referências. O trabalho experimental moderno sugere que se iniciou a cartografia dum tipo de sistema circulatório de luz operando num nível energético marcadamente diferente das suas contrapartes moleculares [Segundo Bruce D. Curtis, M.A. e J.J. Hurtak Ph.D., (2004)]. Os meridianos da acupuntura correspondem ao “quinto sistema circulatório”.

Fonte da imagem: Yoga Forte
A “tecnologia da meditação” da cultura Védica a qual afirma que todos os tipos de violência social e conflito possuem uma origem comum. A tensão e o stress social advém do medo o qual gera hostilidade entre as fações, nações, religiões e até entre civilizações competitivas. É este stress e desordens sociais que está na origem do crime violento, guerra e terrorismo. A comunidade médica, fundamentada por centenas de estudos científicos, aceitou o facto da meditação constituir um processo que acalma esta tensão, stresse e hostilidade no indivíduo. Mais recentemente, alguns estudos demonstraram que quando um grupo grande de meditadores se junta com a intenção de beneficiar a sociedade, criam o mesmo efeito tranquilizador e calmante numa comunidade mais alargada.

Verifica-se, como efeito da meditação projetada no grupo, um efeito de calma, redução da tensão, stresse e hostilidade a nível da consciência coletiva do grupo social alvo verificando-se um impacto positivo a nível dos indicadores de crime, conflito e terrorismo (redução). Estes resultados foram publicados no Journal of Conflict Resolution editado pela Universidade de Yale no âmbito do Projeto Internacional da Paz desenvolvido por Robert M. Oates da Universidade Maharishi.
Muito mais há para dizer porém, quem quiser aprofundar estes conhecimentos terá que se inscrever no futuro no Curso de Formação “Novo Paradigma da Educação Física” que tem por objetivo desmistificar esta nossa obsessão com a tecnologia e perceber que a nossa saúde, bem-estar e consciência estão intimamente ligadas ao nosso corpo cuja competência biológica ultrapassa em muito, qualquer substituto tecnológico, que mais não faz do que mimetizar de forma artificial e comprometer esse mesmo potencial – Competência Imunitária.
A Educação Física terá que evoluir para a Ciência da Motricidade Humana, promover atividades físicas baseadas nesta nova ciência e começar a treinar os “Novos Guerreiros Jedi“, não numa perspetiva belicista mas numa perspetiva da Mestria da Força (Despertar da Consciência), da Sabedoria, da Iluminação rumo à Transcendência. Obviamente que o Hébertismo contraria esta tendência Coubertianista de interpretar o corpo instrumento de rendimento e introduz a Ligação Profunda com a Natureza, porque é nesta relação que nos podemos reencontrar.
Motricidade Humana e o Caminho da Força – Paladinos JEDI
Paladino JEDI: herói cavalheiresco, destemido, de carater inquestionável, que segue sempre o caminho da verdade, da lei e da ordem, sempre disposto a proteger os fracos e lutar por causas justas. Estes novos paladinos substituem uma antiquissima máxima militar que afirma: “se queres paz, prepara-te para a guerra”, pela nova postura oposta: “Se queres paz, prepara-te para a paz”.
As guerras nascem no espírito dos homens, e é nele, primeiramente, que devem ser erguidas as defesas da paz – Ecologia interior ou pessoal.
Todos os seres pertencem inseparavelmente à natureza, sobre a qual são erigidas a cultura e a civilização humanas. A vida sobre a Terra é abundante e diversa. Ela é sustentada pelo funcionamento ininterrupto dos sistemas naturais que garantem a provisão de energia, ar, água e nutrientes para todos os seres vivos, que dependem uns dos outros e do resto da natureza para a sua existência, bem-estar e desenvolvimento. Toda a manifestação de vida sobre a Terra é única, razão pela qual lhe devemos respeito e proteção, independentemente do seu valor aparente para a espécie humana.
Pierre Weil, “A Arte de Viver em Paz”.

Desordem de Défice de Natureza




















