rede motricidade humana


Ideia Inicial.

Durante a segunda quinzena do mês agosto de 2022, nasceu o projeto rede Motricidade Humana. Neste período reuniram-se os mentores do projeto para definir os seus objetivos, valores, métodos e serviços que esta rede oferece aos Professores de Educação Física e respetivas escolas. Constatamos que prevalece uma única narrativa consensual por parte das Universidades de Desporto e Educação Física e pelas Associações de Professores de Educação Física. Obviamente que para que esta área do saber evolua torna-se necessário introduzir no diálogo, elementos dissonantes para evitar uma cristalização do pensamento.

Os professores mentores deste projeto possuem um mapa mental que converge nalguns pontos comuns e que permitiu definir as linhas orientadoras deste projeto. A independência intelectual e autonomia é uma vantagem porque permite observar a realidade da Educação Física de forma destacada, detetando as suas limitações. Mais do que elaborar modelos teóricos, o projeto rMH define objetivos muito práticos e valores muito concretos que permitem a construção, exploração e implementação de cenários inovadores de ensino e aprendizagem no campo da Motricidade Humana. Para tal apresentam propostas de operacionalização metodológica, pedagógica e didática de alguns conceitos teóricos da Ciência da Motricidade Humana e investindo na formação em várias áreas.

Quando se fala de Motricidade Humana obviamente que Manuel Sérgio é, e será sempre, uma referência. Os professores mentores do projeto, embora reconheçam e valorizem muito o contributo deste Professor Catedrático aposentado, não se assumem como seguidores, até porque se torna necessário fazer a ponte entre a conceção teórica e realidade prática. A rMH está mais vocacionada para a praxis pedagógica propondo um modelo de operacionalização de alguns dos conceitos da ciência da Motricidade Humana, mas que reflete uma orientação estruturada na experiência pedagógica de contacto com os alunos ao longo de décadas.

Porquê?

  1. Tal como afirma Manuel Sérgio, “a expressão Educação Física é atualmente uma expressão limitadora, estática e não válida”.

  2. A total e instrumental vinculação dos objetivos e conteúdos da Educação Física ao referencial axiológico do desporto tem promovido, tal como está explícito no documento da UNESCO “Diretrizes em Educação Física de Qualidade” no seu ponto 3.2.1 (Flexibilidade Curricular), uma deterioração nas atitudes dos estudantes em relação à E.F. devido ao domínio dos desportos competitivos e atividades baseadas no desempenho.

  3. Para maximizar a contribuição da E.F. para o desenvolvimento de hábitos positivos ao longo da vida, os currículos devem ser flexíveis e abertos à adaptação, para que os professores sejam empoderados a adequar a oferta para atender às diversas necessidades dos jovens com os quais trabalham.

  4. Para tornar significativos os currículos de E.F. para as crianças do século XXI, devem ser consideradas, avaliadas e implementadas teorias inovadoras e novas perceções da disciplina.

  5. Torna-se necessário repedagogizar a E.F. promovendo práticas pedagógicas e metodologias adequadas à promoção da literacia física, emocional, social e moral.

  6. Além da pedagogia da oposição (competitiva-desportiva) é fundamental introduzir a pedagogia da cooperação e os jogos cooperativos de forma que, a partir deles, os alunos joguem uns com os outros e não uns contra os outros.

  7. A cooperação e a competição são dois exemplos opostos a nível da dinâmica interpessoal e os quais assumem diferentes padrões cognitivos, neuronais e comportamentais. As neurociências mostram que existem vantagens a vários níveis inerentes à utilização pedagógica dos jogos cooperativos, não só na empatia, sincronização entre cérebros e no raciocínio moral.

  8. Para que a E.F. seja verdadeiramente eclética, deverá recuperar várias abordagens corporais que têm sido completamente afastadas do seu reportório e as quais possuem um profundo valor pedagógico e educativo.

  9. O Olimpismo assumiu como Ideal, na sua Carta Olímpica, “colocar o desporto ao serviço da humanidade para promover a paz”, porém, tem falhado na sua missão, e porquê? A Rede Motricidade Humana apresenta os seus argumentos e soluções para uma verdadeira Educação para a Paz.

  10. Se a E.F. pretende preparar os jovens para participar em atividades físicas ao longo da vida, deve vincular os seus objetivos e conteúdos às atividades físicas não formais (para todos) e informais (auto-gestão) formando os jovens para a prática de atividades físicas de lazer, turismo de natureza e aventura, fitness e wellness ao longo da vida. Apenas uma faixa muito reduzida de pessoas, na sua vida adulta, praticam atividades físicas formais (desportivas). A maioria das pessoas que pratica atividades físicas regularmente, fazem-no no âmbito do lazer, turismo de natureza e ginásios.

A Rede Motricidade Humana pretende introduzir elementos de reflexão que têm por objetivo valorizar a Motricidade Humana e sobretudo servir as escolas e os seus alunos com uma atividade física de qualidade que contribua para:

  1. Formação de habilidades para a vida e participação em atividades físicas ao longo da vida.
  2. Apoiar os jovens para se tornarem cidadãos responsáveis e ativos.
  3. Formar alunos fisicamente literados com o conhecimento e a autoconfiança necessários para o sucesso académico.
  4. Desenvolver as competências e os valores para os desafios do século XXI.

A publicação do Despacho n.º 6605-A/2021 de 6 de julho revogou os Programas Nacionais de Educação Física (PNEF) constituindo uma grande oportunidade para a inovação pedagógica no campo da Educação Física.

Este projeto pretende criar a oportunidade para a introdução de novas ideias que permitam à Educação Física evoluir abandonando o “conservadorismo, o dogmatismo da ciência normal” (Manuel Sérgio). “O Paradigma emergente ou Holístico colocou novas questões à Educação Física” (Manuel Sérgio) sendo necessário refletir, dialogar e reconhecer as limitações do atual paradigma.

Deixo apenas duas questões para reflexão:


Formação:

Porque motivo a rMH aposta na formação?

Para efeitos de Formação nas oito Áreas propostas, a Rede Motricidade Humana irá acreditar ações de Formação através do Centro de Formação. Esta estratégia permite maior capacidade de resposta às prioridades formativas das escolas e dos seus profissionais de ensino, reforçando a formação centrada no aperfeiçoamento da capacidade docente, nomeadamente nos domínios científico, curricular e pedagógico, bem como a focalização na escola como local privilegiado de formação. O artigo 12º do decreto-Lei 41/2012 de 21 de fevereiro (Estatuto da Carreira Docente) reconhece a formação contínua como uma modalidade de formação do pessoal docente que se destina a assegurar a sua atualização, o aperfeiçoamento, a reconversão e o apoio aqueles profissionais, visando também objetivos de progressão na carreira e de mobilidade.

A maioria dos professores de E.F. estão reféns do principal modelo de interpretação do papel da E.F. na formação escolar, o qual estava definido pelos Programas nacionais de Educação Física. Os Programas de E.F. “confundem-se quase exatamente com a iniciação à prática competitiva e ao seu corolário através da aprendizagem de gestos específicos e da mecanização estrita ou “drill” – modo de aprendizagem é responsável pela estereotipia gestual. A técnica do “drill” consiste em decompor os atos que vão ser aprendidos e a recompo-los numa gama de reflexos – componentes críticas. A prática baseada no “drill” (exercitação pela repetição), coloca um conjunto significativo de problemas motivacionais para os executantes na medida que envolve a repetição, a qual pode ser simultaneamente monótona e aborrecida. Obviamente que o universo da literacia Física não se esgota nas práticas desportivas, constituindo estas apenas uma das muitas formas de expressão físico-motora. Como tal, a proposta de formação divergente deste modelo promove novas competências e permite que os professores passem a dominar outras linguagens de educação corporal.

Quais são as oito áreas de formação propostas?

  1. Ambientes Inovadores de Aprendizagem. Aprender por Medida e a Metodologia de Trabalho por Projetos (Autorregulação da Aprendizagem).
  2. Pedagogia Cooperativa, Jogos Cooperativos e Construção de Equipas (Game Designer). Promover o Raciocínio Moral Superior.
  3. Atividades de Contacto e Ligação Profunda com a Natureza (Método Natural; Turismo de Aventura; Percursos de Obstáculos, Parkour, etc…).
  4. “Personal Training na EF” – personalizar o exercício em circuito para desenvolver a Aptidão Física – Métodos ativos de aprendizagem.
  5. Psicomotricidade – Brincar é um trabalho sério para as crianças (Literacia Física e a função práxica).
  6. Atividades Rítmicas e Expressivas e a Educação Somática (Dança Criativa, Eutonia e Percussão Corporal – Método BAPNE).
  7. Inteligências Múltiplas e as Competências Socio-Emocionais (Currículo de Literacia Emocional e Social).
  8. Educação para a Paz e as Atividades Body & Mind, Holopraxias, Pedagogia da Consciência, Transcendência.

Para saber mais consulte a rMH: LINK


A ponte é uma passagem para a outra margem

“Desafio, pairando sobre o rio, a ponte é uma miragem!…” (Ribeira – Jáfumega)