Educação Física Eclética.
A essência do ecletismo está na liberdade de escolher e conciliar o pensamento de diversas correntes filosóficas, psicológicas e pedagógicas, opondo-se a todo e qualquer dogmatismo e ou radicalismo. A finalidade do ecletismo é atingir a verdade e harmonizar teorias que são aparentemente opostas, pretendendo formar um todo (holístico), buscando a coerência dos elementos escolhidos em diversos sistemas, escolhendo de cada um, a parte que parece mais próxima da verdade.

É muito importante “sair fora da caixa” e tomar conhecimento de outros referenciais axiológicos da Educação Física e perceber que a maior parte da riqueza e tesouro desta disciplina está por explorar e encontra-se para lá da total ou instrumental vinculação dos objetivos e conteúdos da Educação Física ao Modelo Desportivo que colonizou a nossa disciplina. A literacia desportiva, que bebe as suas raízes no Desportivismo de Thomas Arnold, faz parte da Máquina Administrativa Burocrática do Império Vitoriano. A perspetiva dos Filósofos Românticos (Humanistas) contrapõem-se à corrente mecanicista do desportivismo que observa o corpo como um instrumento, uma máquina de performance fruto do pensamento da Revolução Industrial.
Atual Paradigma da Educação Física:
Manuel Sérgio em Motricidade Humana uma nova ciência do homem afirma que a Educação Física moderna nasceu num clima intelectual onde predominava o velho empirismo inglês (Império Britânico). O anatomo-fisiologismo imperava, quando Jahn Amoros, Ling e seus discipulos lançaram as bases da Educação Física moderna. (…) A Educação Física preiteava também, a seu modo, o anatomo-fisiologismo ambiente, o paradigma cartesiano afinal. A própria conceção anglo-saxónica da EF assumia, nos séculos XVIII e XIX, as características do paradigma cartesiano. Descartes introduziu a rigorosa separação da mente e corpo, a par da ideia de que o corpo é uma máquina que pode ser completamente entendida, em termos de organização e do funcionamento das suas peças. Uma pessoa saudável seria como um relógio bem construido e em perfeitas condições mecânicas; uma pessoa doente, um relógio cujas peças não estão em funcionamento apropriado. A EF (e o comportamentalismo) representa o ponto mais alto, mais marcante da abordagem mecanicista do ser human.
Esta abordagem anatomo-fisiológica, cartesianista (Separação da mente e do corpo) mecanicista, comportamentalista ainda impera na Educação Física neste início do século XXI e está tão enraizada que mostra muita resistência à mudança.

Manuel Sérgio afirma que esta expressão Educação Física é atualmente uma expressão limitadora, estática e não válida (…) sendo esta uma pré ciência da Motricidade Humana (…) e o paradigma emergente ou holístico colocou novas questões á Educação física, gerou a crise no seio mesmo da ciência normal (…) denunciando o conservadorismo, o dogmatismo da ciência normal.

O método natural procura a sua identidade numa abordagem holistica, orgânica e funcional da unidade mente-corpo, construtivista.

Georges Hébert, oficial da marinha francesa que, na primeira metade do século XX, elaborou um conjunto de procedimentos para exercitar o corpo, o qual denominou “Método Natural“. A sua abordagem preconiza uma relação física com o ambiente natural, centrada “no valor intrínseco da natureza” a qual é vista como um ginásio natural. O Método Natural é, por conseguinte, a codificação, adaptação e a gradação dos procedimentos e meios empregues pelos seres vivos no estado de natureza para adquirir o seu desenvolvimento integral.

O Hébertismo olha para a relação do homem consigo próprio, com os outros e com a natureza em função do seu “valor Intrínseco” (natureza como lugar de veneração e respeito, um santuário) e sobretudo considerando que o homem é a natureza, ou seja, não está separado da natureza sendo uma continuidade da natureza.


Hébert promove o desenvolvimento da aptidão física:
- Não competitiva – Não há espírito de competição no Hébertismo: Os “primitivos” a quem Hébert se refere para desenvolver o seu método corriam e saltavam por necessidade. O desporto baseia-se fundamentalmente na competição e está associado ao lucro o que fomenta nalguns atletas os excessos como o doping.
- Praticada na natureza, ou pelo menos ao ar livre;
- Não há necessidade de instalações, infraestrutura pesada como estádios, pisos sofisticados especiais à base de borrachas sintéticas extremamente onerosos como os estádios de atletismo (tartan), pisos sintéticos dos Pavilhões Desportivos, relvas sintéticas para campos exteriores, resinas sintéticas de poliuretano para polidesportivos exteriores ou granulados de borracha para pisos de parques infantis ou parques de parkour. Carla Barreira (2012) mostra claramente os problemas associados ao “conforto e qualidade ambiental na utilização de parques desportivos escolares em portugal” no que toca aos parâmetros acústicos (ruído), higrométricos (humidade), luminosidade (iluminação artificial e natural), revestimentos (pisos desportivos), ventilação (qualidade do ar interior), térmicos (temperatura interior), acessibilidades: PDF. Ou seja, na procura de condições para a prática de exercício físico que promova a saúde e bem-estar acabamos por criar outros problemas que a comprometem.
- Não há necessidade de calçado desportivo sofisticado. A prática de modalidades desportivas, coloca ao atleta um determinado conjunto de exigências de natureza biomecânica, traduzida por esforços combinados, verticais e horizontais, de maior ou menor intensidade e frequência, em acções de andar, correr, saltar e travar em diversos tipos de pisos. O estudo aprofundado das exigências biomecânicas colocadas aos atletas no exercício das suas actividades desportivas conduziu à produção de calçado especializado para a prática das diversas modalidades. Porém, como veremos, o calçado desportivo que foi concebido para nos proteger acaba por ser mais uma fonte de problemas musculo-esqueléticos e biomecânicos. Hoje prevalece na comuidade científica um profundo debate sobre o uso de calçado desportivo que promove amortecimento, proteção do tornozelo, tração e outras propriedades mas que atrofia a estrutura biomecânica e musculo-esquelética do pé e por isso surge o conceito de calçado minimalista ou pé descalço. Será que as crianças, em fases de desenvolvimento da sua estrutura musculo-articular precisam usar calçado desportivo sofisticado concebido em função dos modelos da alta competição?
- Carmen Lúcia Soares. natureza, vida ao ar livre e educação física no início do século XX: fragmentos da obra de Georges Hébert. Faculdade de Educação UNICAMP: PDF
- Carmen Lúcia Soares. Georges Hébert e o método natural: nova sensibilidade, nova educação do corpo. Faculdade de Educação UNICAMP. PDF
- Tradução Eduardo Rocha. Guia Prático da Educação Física (Edição de 1912) por Georges Hébert. PDF
- Hébertisme, un parcours de santé: une autre façon de faire du sport. PDF

O Hébertismo defende os esquemas motores que são formas de expressão motora que surgem a partir da espontaneidade e individualidade de cada aluno, da sua forma de interpretação do movimento. João Batista Freire afirma: “prefiro falar em esquemas motores e não em padrões de movimento porque não acredito em padrões de movimento, pois para tanto teria que acreditar também na padronização do mundo. Os esquemas motores são organizações de movimentos construídos pelos sujeitos, em cada situação, construções essas que dependem, tanto dos recursos biológicos de cada pessoa, quanto das condições do meio ambiente em que ele vive. Um dos papeis essenciais da educação é preservar a plasticidade de ajustamento. A Educação funciona quando é auto-orientada, quando é iniciada pelo aluno”. Porém, este modelo pedagógico de Peter Gray confronta o conceito de “Professor Eficaz”. Confundimos o nosso modelo teórico com a realidade.
Uma versão popular da condição humana sustenta que o nosso passado ancestral foi uma idade de ouro no que respeita à saúde e que o mundo moderno é um terreno fértil para as doenças relacionadas com um estilo de vida pouco saudável e infeliz. Não se trata da idealização da cultura primitiva, mas o reconhecimento consciente das suas concretizações, conquistas sólidas e inteligentes. Pelo facto da civilização repudiar o primitivo, a verdade básica, perdemos o quadro de referência relativo a uma vida saudável. O desafio desta metodologia é conciliar o “melhor de dois mundos, o contacto com a natureza e a sua sabedoria”.

As suas ideias centrais constituem um significativo conjunto de pressupostos sobre a educação do corpo e tocam, de maneira subtil, sensibilidades do presente. Mas, mesmo esta abordagem que preconiza uma relação física com o ambiente natural, também se centra “no valor intrínseco da natureza” a qual é vista como um ginásio natural. Porém, tem obviamente muitas vantagens quando comparada com o modelo desportivo que é realizado em espaços artificiais como pistas de atletismo, ginásios, pavilhões desportivos etc…
George Hébert escrevia:
O Método Natural é, por conseguinte, a codificação, adaptação e a gradação dos procedimentos e meios empregues pelos seres vivos no estado de natureza para adquirir o seu desenvolvimento integral. […] nenhuma cultura física dita científica, fisiológica ou outra, jamais produziu seres fisicamente superiores em beleza, saúde e força a certos habitantes naturais de todas as regiões do mundo: indígenas de todos os climas, negros da África, indígenas da Oceania etc. (Hébert, 1941a, p. 6, t. I).
O Método Hébertista apoia-se em 10 famílias de exercícios:
- Marcha.
- Corrida.
- Saltos.
- Quadrupedia.
- Trepar/escalar.
- Equilíbrios.
- Erguer/Transportar.
- Lançar.
- Defesa.
- Nadar

A execução destas famílias de movimentos obedece a 15 princípios:
- Continuidade do trabalho.
- Alternância de esforços contrários (antagonistas).
- Progressão gradual da intensidade dos esforços.
- Aquecimento inicial e retorno à calma final.
- Dosagem e individualização dos esforços.
- Trabalho da agilidade (destreza).
- Atitude correta (Postura) e respiração ampla.
- Total liberdade de cada um mesmo em atividades de grupo.
- Cultura da velocidade e destreza.
- Correção dos pontos fracos de cada indivíduo.
- Aproveitar e privilegiar sobretudo o ar livre, o sol e o “endurecimento” em condições climatéricas mais exigentes.
- Permitir que se exprima a alegria.
- Cultivar o controlo de si e da energia.
- Cultivar sentimentos altruístas.
- Cultivas a emulação e a auto-emulação (zelo, vontade de se auto-superar, de evoluir e melhorar).
A sua obra exprime o fascínio pela potência misteriosa das populações exóticas, pois Hébert teria viajado extensivamente pelo mundo, tendo ficado impressionado com o desenvolvimento físico e as habilidades dos movimentos dos povos indígenas, africanos e de outros lugares. Nas palavras de Hébert: “Os seus corpos eram esplêndidos, flexíveis, ágeis, habilidosos, duráveis, resistentes e ainda nunca tiveram nenhum tutor em ginástica exceto pelo seu convívio com a natureza”.
2 Sistemas de Crenças Diferentes

Crença 1 – Corrida Persistente:
- Hébertismo: Não há necessidade de calçado desportivo sofisticado.
- Daniel E. Lieberman. Strike type variation among Tarahumara Indians in minimal sandals versus conventional running shoes. Journal of Sport and Health Science 3 (2014) 86-94: PDF
- Carey Rothschild. Running Barefoot or in Minimalist Shoes: Evidence or Conjecture? National Strength and Conditioning Association. VOLUME 34 | NUMBER 2 | APRIL 2012: PDF
- Nicholas Tam et al. Barefoot running: an evaluation of current hypothesis, future research and clinical applications. Br J Sports Med 2014;48:349–355: PDF
- Tony Lin-Wei Chen et al. Effects of training in minimalist shoes on the intrinsic and extrinsic foot muscle volume. Clinical Biomechanics 3:6 (2016) 8–13: PDF
- Francis Trombini-Souza et al. Effectiveness of a long-term use of a minimalist footwear versus habitual shoe on pain, function and mechanical loads in knee osteoarthritis: a randomized controlled trial. BMC Musculoskeletal Disorders 2012, 13:121: PDF
- Francis Trombini-Souza et al. Inexpensive footwear decreases joint loading in elderly women with knee osteoarthritis. Gait & Posture 34 (2011) 126–130: PDF
- Cynthia D. Samaan et al. Reduction in ground reaction force variables with instructed barefoot running. Journal of Sport and Health Science 3 (2014) 143e151: PDF
Crença 2 – Ligação Profunda com a Natureza
- Hébertismo: Não há necessidade de instalações, infraestrutura pesada
Hébertismo e a Ligação Profunda com a natureza:
Jon Young fala do despertar da ligação profunda com a natureza através da reparação do isolamento emocional. Ou seja, a literacia emocional e social devem ser competências fundamentais a par da literacia física.


A Ligação (conexão) Profunda com a Natureza (LPN) consiste em recuperar o nosso lugar dentro da teia da vida – não como seres dominantes, mas como participantes humildes dentro e diante do grande poder e generosidade da criação. A LPN é nosso direito inato como seres humanos. Não é realmente algo que pode ser adquirido ou tirado. No entanto, pode ser nutrido, fortalecido e lembrado, ou pode ser esquecido. O trabalho de nutrir a LPN visa restaurar a lembrança de conexão e inter-relação como uma espécie humana dentro da grande teia de sistemas de vida neste planeta. A LPN pede-nos uma alteração da nossa Narrativa Pessoal, ou seja, das nossas crenças limitadoras relativas ao nosso potencial latente e à nossa essência Transcendente (usando a palavra de Manuel Sérgio).
A relação com a natureza:
- Pede-nos um abandono gradual da abordagem competitiva.
- Privilegia uma abstração progressiva do adversário, assumindo os desafios pessoais e interiores como prioritários.
- O abandono da comparação de performances inter-individuais matizadas pelo nosso ego.
- Privilegia uma relação natural, orgânica , saudável com a nossa natureza em ligação com o meio ambiente.
- Edifica uma consciência ambiental de profundo respeito pela natureza como parte de nós próprios.
Richard Louv no seu livro “Last Child in the Woods” introduz o conceito de Desordem de Déficit de Natureza (DDN):
- Diminuição da utilização dos sentidos.
- Dificuldades de atenção.
- Maiores incidência e prevalência de doenças físicas e emocional.
O seu programa (Maryland, Smart, Green & Growing), promove uma elevação da consciência pública, sobretudo entre os pais, professores e outros, sobre a importância e valor do tempo passado na natureza pelas crianças a brincar, explorar, descobrir e aprender.
Sempre que introduzimos o elemento competitivo a atenção do praticante foge da relação intima e contemplativa entre si e a natureza enquanto unidade para observar a natureza como um obstáculo, algo externo à sua natureza. É esta dimensão instrumentalizada das corridas de obstáculos na natureza que continua a afastar o homem de si próprio. Obviamente que é preferível praticar atividade física e desporto no seio da natureza por muitos motivos e vantagens que todos conhecemos, mas os desafios do Século XXI pedem-nos um Homem Consciente, um homem integral, rumo à Transcendência.

O nosso corpo não evoluiu para ser domesticado:
- Não competitiva – Não há espírito de competição no Hébertismo:
DOMESTICAR:
- Sinónimos: tornar manso, amansar, domar, dominar, apaziguar, moderar, refrear, amestrar
- Antónimos: bestializar, brutalizar, descivilizar, embrutecer, barbarizar, enrudecer, brutificar, bestificar, abrutar, asselvajar, embrutar, animalizar, abrutalhar, ajavardar
CIVILIZAR:
- Sinónimos: cultivar, desbravar, desmaiar, educar, instruir, limpar, amansar, domar, domesticar, amestrar, subjugar, treinar, adestrar.
A literacia desportiva (civilizar) exacerba a domesticação dos corpos segundo padrões de movimento pré-determinados, codificados e automatizados de forma rígida e linear.
Tudo o que as crianças devem aprender com, através e pelo movimento deve ser:
- Prático.
- Relevante.
- Útil para a vida.


Ilustração do modelo conceptual final da terminologia baseada no movimento organizada segundo um período de 24 horas. A figura organiza os movimentos que acontecem durante o dia em 2 componentes. Os anéis interiores representam as principais categorias de comportamento segundo o seu dispêndio de energia. Os anéis exteriores fornecem as categorias gerais que utilizam sobretudo as posturas.
A automatização de gestos técnicos é sinónimo de domesticação e robotização do movimento e afasta-se da sua dimensão orgânica e natural.

Rewilding – “Renaturalizar”

Aprender com os exemplos de povos indígenas passados e presentes fornecidos pela antropologia, arqueologia e etnobiologia. Significa retornar aos nossos sentidos, a nós mesmos e voltar para o mundo ao qual nunca deixamos de pertencer.
A domesticação do ser humano e a sua desvitalização:
A atividade desportiva é uma prática de domesticação dos corpos e mentes dos alunos para que encaixem numa sociedade padronizada, disfuncional e desvitalizada.
Os humanos tornaram-se seres domesticados, e isso não tem funcionado muito bem para a nossa espécie. Renaturalizar significa reverter este processo e reivindicar o nosso direito de nascença humano.
Renaturalizar:
- Reverter o processo de domesticação para retornar a um estado mais selvagem ou natural.
Hébertismo e Atividade Física Funcional:
Relação do Método Natural com a Psicomotricidade:
Vitor da Fonseca no seu livro “psicomotricidade” (página 85) refere que a privação de movimento é uma verdadeira talidomia (“sedativo”) da atual sociedade, continuando na família e na escola. A redução do tempo para o movimento e experiência corporal da criança, põe em causa as atividades instrumentais que organizam o cérebro. As insuficiências instrumentais são cada vez maiores na infância, o que limita em grande parte, a adaptação das aprendizagens gnoso-práxicas triviais. (…) perante o quadro patológico da escola dos nossos dias, a Terapia Psico-Motora (TPM) luta e resiste com um problema atual:
“o êxito escolar da criança, verdadeira obsessão familiar e ponto crucial do prestígio social”.
A exploração do corpo é uma verdadeira propedêutica das aprendizagens escolares, e constitui um aspeto preventivo a considerar. Muitos mecanismos de defesa da criança, como compensações, camuflagens, refúgios, manifestações caracteriais, são expressão de uma motricidade que não foi satisfeita, reprimida por um envolvimento extremamente exigente e correcionista para com a criança.
As aulas de EF consideram o facto de muitos alunos se apresentarem com défices práxicos e dificuldades sentidas a nível da integração da 1ª e 2ª Unidades Funcionais. Isto significa que sentem insegurança a nível do equilíbrio e postura e uma deficiente noção do corpo que deve ser abordada através dos circuitos de obstáculos com pneus por exemplo. Desta forma o Professor de EF poderá criar programas que considerem a Capacidade Funcional de cada aluno em diferentes tipos de ambientes que solicitem diferentes formas de flexibilidade, força e resistência e coordenação.

Uma criança dispráxica pode normalmente apresentar:
- Inseguranças Gravitacionais.
- Problemas de controlo tónico-postural.
- Dismetrias múlitplas.
- Dificuldades de integração sensorial.
- Problemas de manipulação de objetos.
- Dificuldades de auto-suficiência na alimentação, na higiene, no vestuário e no calçar.
- Problemas de orientação no espaço e no tempo.
- Dificuldades em programar, planificar e regular sequências de movimentos em jogos., desenhos, modelagens, puzzles ou desportos.
- Dificuldades de imitação de posturas e de movimentos expressivos.
- Problemas de lateralização.
- Sinais de desorganização psicomotora.
- Ou várias e múltiplas combinações de dificuldades, que encerram um quadro complexo que não se resume apenas a componentes motoras ou sensoriais.
As atividades propostas pela Educação Física devem enfatizar os movimentos multiplanares (movimentos em todas as direções) através de todo o espetro da ação muscular (aceleração concêntrica, desaceleração excêntrica e estabilização isométrica) num ambiente que enriquece a proprioceção. Um ambiente rico em termos propriocetivos desafia os mecanismos internos de equilíbrio e estabilização do corpo.

O parkour é uma atividade que propõe um ambiente extremamente rico em termos propriocetivos pela forma como explora o corpo no espaço. A utilização de pneus, pelas suas propriedades e características de relativa instabilidade (material flexível) exige dos alunos uma experiência motora enriquecedora do ponto de vista propriocetivo além de solicitar de forma muito significativa os equilíbrios, posturas, a noção de corpo e a lateralidade nas fases de iniciação. As fases intermédias e avançadas, alicerçam-se na 1ª e 2ª unidades funcionais mas potenciam a 3ª unidade funcional da estruturação espacio-temporal.
Modelo de Atividade Física Funcional (AFF).
Considerando as idades dos alunos do 1º, 2º e 3º ciclos, torna-se mais apelativo propor desafios organizados segundo o modelo de circuitos de treino ou percursos de obstáculos onde se consegue, de forma funcional, explorar o corpo em situações de equilíbrio, lateralidade, propriocetividade, força/resistência e destreza motora.
Exemplo de materiais que podem ajudar a criar um circuito de treino e/ou psicomotor – percurso de obstáculos:
- Trave baixa: equilíbrio em pé; equilíbrio em quadrupedia; passagem ventral na trave.
- Plinto: trepar; saltar; receção ao solo;
- Espaldar: trepar.
- Colchão de solo: rolamento; rastejar (reptação); quadrupedia.
- Colchão de queda: caminhar (propriocetividade)
- Pneus: equilíbrio; propriocetividade (instabilidade/flexibilidade do pneu); coordenação; agilidade.
- Barreiras: saltar.
- Bolas + arcos (suspensos): lançar com precisão.
- Arcos: coordenação; deslocação.
- Escada: coordenação
- Banco sueco: saltar; equilíbrio.
- Cones: Slalom.

As pistas de obstáculos exploram de forma muito significativa e apelativa a Atividade Física Funcional (Método natural). Na perspetiva da Psicomotricidade, Vitor da Fonseca e Rui Martins em “Temas de Psocomotricidade 3 – Criança Dispráxica” na página 89 – Psicomotricidade e Corrida de Obstáculos:
A investigação tem demonstrado ao professor de Educação Física a importância da perceção e das atividades motoras, para o crescimento e desenvolvimento global da criança. Os programas elementares de educação física, são frequentemente limitados pela quantidade de tempo da aula dos alunos, e tempo de ensino efetivo, de tal forma que não podem fornecer um ensino individualizado a todos os alunos ou a classes especiais para crianças com dificuldades motoras. Deste modo, a corrida de obstáculos proporciona ao professor de EF um meio eficaz de incorporar atividades percetivas, no programa de EF através de uma instrução em grandes grupos. Para além das respostas motoras, a corrida de obstáculos também envolve o desenvolvimento de processos visuais e auditivos. Os conceitos que podem ser desenvolvidos pela corrida de obstáculos, incluem os seguintes:
- Relações espaciais.
- Memória sequencial.
- Equilíbrio.
- Vigilância quinestésica.
- Noção do corpo.
- Direcionalidade.
- Lateralidade.
- Habilidades locomotoras e não locomotoras.
- Atividades visuo-motoras.
- Localização (posicionamento)



O recurso a toros arredondados de madeira tratada, em alternativa aos sistemas tubulares, permite construir obstáculos desde que se tenham as ferramentas adequadas e a habilidade. Esta opção permite-nos criar os obstáculos por medida e montar o nosso percurso personalizado.
- Madeira Torneada Tratada: Existe vantagem em utilizar madeira torneada em vez do tronco em bruto porque este aumenta a probabilidade de libertar lascas de madeira que ferem as mãos e partes do corpo em contacto com o aparelho. Obviamente que a madeira torneada encarece o custo final do aparelho mas garante maior segurança aos utilizadores.
- Tábuas de Madeira Tratada Aparelhada: para construir muros e ou paredes.
- Cordas de Nylon: para evitar o apodrecimento precoce.
- Varão roscado + porcas: para fazer as ligações quando é necessário uma estrutura mais durável e robusta.
Quem tem experiências em Aparelhos de Cordas e Montagem de Obstáculos recorrendo a material de escalada, torna-se uma mais valia e facilita bastante. Pode-se utilizar toros de madeira em bruto para se fazer construções em madeira com as configurações que se pretende para os obstáculos.
ENCAIXES EM MADEIRA:
Podemos utilizar diferentes formas de entalhe na madeira, recorrendo a serrote e formão para encaixar os toros de madeira e criar o obstáculo pretendido.
CORDAS, NÓS E CONSTRUÇÕES:
Podemos unir os toros de madeira sem entalhes ou encaixes, apenas recorrendo ao botão em esquadria ou botão em cruz porém a construção fica temporáriamente robusta. A corda de cisal permite realizar nós robustos (amarrações) mas se estiver exposta à humidade apodrece. Por outro lado as dilatações e contrações da madeira, devido às variações de temperatura e humidade também criam folgas nos nós deixando a construção frágil e instável.

Por este motivo é aconselhável utilizar os encaixes anteriormente apresentados e usar corda de nylon (mais durável) ou parafusos, anilhas e porcas de aço inoxidável para evitar a oxidação que, a médio e longo prazo comprometem a integridade e segurança da construção.
Nó – Botão em Esquadria:

Nó – Botão em Cruz:

Nó – Botão de voltas falidas ou em oito: usado para a construção de um tripé:


É possível criar uma oficina de Nós, Cordas e Construções, construir uma pista de obstáculos na escola desde que se consigam os patrocínios adequados para se adquirir a madeira, corda, ferramentas, parafusos, anilhas, porcas, varão roscado para realizar as construções.
Criar um Percurso de Obstáculos:
Algumas recomendações:
- Encontrar um bom espaço para montar o percurso de obstáculos. O tipo de obstáculos pode ser determinado pelo local escolhido (características do terreno), espaço disponível, se é ou não arborizado, possui ou não declives ou outros obstáculos naturais.
- Os montes podem constituir por si próprios obstáculos.
- As áreas planas favorecem a implantação de obstáculos edificados com madeira, tubo, pneus ou outros materiais.
- A existência de planos de água ou riachos podem também ser usados para enriquecer a pista de obstáculos requerendo a sua transposição suspensa ou atravessando-o.
- O terreno da pista de obstáculos deverá ser preparado para evitar qualquer acidente natural como buracos, pedras ou outros que possam comprometer a segurança da pista.
- A pista de obstáculos deve ser construída em função do tipo de utilizadores, a sua idade, nível de aptidão física, destreza física, experiência na utilização de pistas de obstáculos, etc.
- Depois de definir o local, a população alvo e o tipo de obstáculos podemos começar a planear a disposição dos elementos, a sua estrutura e finalidade bem como a melhor sequência entre o tipo de obstáculos. Garantir que os obstáculos estão suficientemente espaçados para permitir a sua utilização com segurança. Os aparelhos ou obstáculos devem ser sempre construídos recorrendo a meteriais robustos e bem ancorados para garantir a sua solidez e fiabilidade estrutural.
- Se estamos as construir uma pista de obstáculos para utilização escolar teremos sempre que garantir a sua certificação obedecendo sempre à legislação em vigor. Primeiro devemos determinar se os obstáculos que pretendemos construir estão de acordo com as regras e normas de segurança definidos pela legislação e se podem ser certificados por quem de direito. Se a pista de obstáculos for utilizada pelo grupo equipa de multiatividades de ar livre deve sempre garantir e respeitar os necessários requisitos de segurança.
- Um dos aspetos importantes de uma pista de obstáculos relaciona-se com as regras de utilização que minimizam ou evitam possíveis lesões uma vez que garantem que os obstáculos são utilizados respeitando a sua finalidade e modo de utilização.
- Podemos incluir obstáculos de força, de resistência, de coordenação e destreza motora, de trabalho de equipa, etc…
- Manutenção:
- Diária: realizada pelo próprio professor de EF. Trata-se de uma inspeção com o objetivo de identificar alguma falha antes do inicio das atividades.
- Preventiva: se é possível manter a pista de obstáculos montada, deve-se efetuar regularmente inspeções técnicas com o intuito de verificar a estrutura, efetuar calibração de cabos de aço se existirem, verificar a oxidação de parafusos ou outros materiais utilizados e substituir, etc.
- Corretiva: Tem como objetivo corrigir alguma situação ocasionada pelo desgaste da madeira , cabos de aço ou outros materiais, através de substituição e calibragem.

- Nicole Mullins. Obstacle course challenges: History, popularity, performance demands, effective training, and course design. Journal of Exercise Physiology Online · January 2012. PDF
PISTA DE OBSTÁCULOS ARTESANAL:
TIPOLOGIA DE ALGUNS OBSTÁCULOS:
- Transportar uma Esfera Grande de Pedra: levantar uma esfera de pedra do chão junto a uma bandeira de sinalização, transportar a esfera sem deixar cair até a outra bandeira, largar a esfera e realizar 5 burpees completos, voltar a agarrar a esfera e regressar ao ponto de origem.
- Rastejar por baixo do arame farpado: rastejar ou rolar por baixo do arame farpado (substituir por cordas na escola). Deve-se completar o percurso.
- Transportar um balde cheio de pedras: na zona de início, encher um balde com pedras até ao limite assinalado, carregar o balde ao longo do percurso definido, ao chegar ao fim, regressar com o balde cheio e despejar no local inicial.
- Saltar uma pequena fogueira: normalmente este obstáculo situa-se na linha de chegada.
- Guindaste/Roldana de Hércules: agarrar a extremidade de uma corda que passa numa roldana. Na outra extremidade está suspenso um peso o qual deve ser elevado até chegar ao topo. Assim que o peso chega ao top deve-se baixar lentamente até atingir o solo sem deixar cair.
- Passar obstáculos: este desafio constitui-se por 3 obstáculos: o primeiro é uma parede que deve ser ultrapassada; o segundo é uma parede que deve ser passada por baixo; a terceira parede possui um orifício o qual deve ser transposto.
- Trepar a Corda: trepar uma corda com nós. Esta corda pode estar situada num local onde está uma poça de água por baixo. Temos que trepar a corda e tocar no sino no topo do obstáculo. Depois devemos descer a corda controladamente.
- Atirar a lança: na escola podemos usar dardos ou bastões. A lança deve ser lançada e acertar num alvo com a ponta.
- Tirolesa/Travessia: o executante terá que atravessar um obstáculo suspendo numa corda sobre o ventre exigindo força, equilíbrio e determinação para rastejar ao longo da corda sem cair.
- Saltar por cima do muro: escalar a parede e passar por cima dela devendo saltar no lado oposto.

PISTA DE OBSTÁCULOS MILITAR:
Liga OCR Portugal:

Portugal conta com o seu próprio circuito de corridas bastante interessantes graças à Liga OCR Portugal (OCR significa “Obstacle Course Race”, ou seja, “corridas de obstáculos”). A Associação Portuguesa de Corridas de Obstáculos, é uma associação sem fins lucrativos, composta por atletas e entusiastas da modalidade e tem como objetivo promover a modalidade OCR em Portugal – Corridas de Obstáculos – a todos os níveis, competitivo e não competitivo, trabalhando conjuntamente com atletas e organizações nacionais e internacionais para que a modalidade OCR seja reconhecida como um desporto. A Associação Portuguesa de Corridas de Obstáculos representa Portugal na Federação Europeia de Obstáculos (EOSF) e na World OCR, Federação Internacional de Desportos de Obstáculos (FISO).

Um tipo de provas desenvolvidas pela OCR são as Urban Fit Race que possuem uma distância de 8 km e 20 obstáculos. A prova desportiva UF combina a corrida com transposição de obstáculos urbanos. É um conceito desportivo recente, realizado maioritariamente em zonas urbanas e que se pretende que seja simultaneamente competitivo, divertido e espetacular.
Além destas Urban Fit, a OCR também organiza as Wild Challenge, uma série de eventos semelhantes às Spartan Race Club, mas com um espírito mais colaborativo, dado que uma das suas regras de etiqueta estabelece que “ajudar os outros é mais importante do que um tempo rápido”. As provas dividem-se em três categorias:
- Experience (5 km, 20 obstáculos):
- Challenge (10 km, 35 obstáculos)
- Challenge Extreme (15 km, 40 obstáculos).
Os eventos Wild Challenge estão em constante alteração por isso podemos encontrar obstáculos duros, lama e água em ambientes bonitos e selvagens. Correr, rastejar, saltar, nadar e escalar são algumas das palavras de ordem dos desafios! O lema da OCR é: Livre como uma criança, selvagem como um lobo.
Quais são os valores chamados de “o pacto” das Wild Challenge:
- #1 – O wild Challenger não é um acorrida é um desafio.
- #2 – Ajudar os outros é mais importante que um tempo rápido.
- #3 – Não vou desistir, não vou fazer batota.
- #4 – Vou enfrentar os meus medos e vencê-los.
- #5 – Não vou queixar-me, isso é para os fracos.
Abordagem Psicomotora / Funcional:
Atividade Motora baseada nos 7 principais padrões de Movimento.
Estes padrões de movimento correspondem aos movimentos usados no dia-a-dia dos nossos antepassados (e nas atuais tribos) para a sua sobrevivência e defesa territorial:
- Marchar (Caminhar, trotar, correr)
- Torção – rotação (arremessar uma pedra, uma lança)
- Puxar (tração | arrastar)
- Empurrar (Deslocar um objeto)
- Inclinar à frente (Pegar um objeto do chão)
- Afundo ou passada com amplitude (Transpor um obstáculo)
- Agachar (levantar algo do chão)
O que é um movimento funcional?
Movimentos funcionais são aqueles que nos ajudam nas tarefas do dia a dia. São movimentos multi-articulares de grande amplitude executados do centro (CORE) para a periferia. Ou seja, quase todos os movimentos do dia a dia podem ser considerados funcionais, deitar e levantar, sentar, levar algo acima da cabeça, arrastar um objeto e correr, pois eles exigem movimentos amplos de várias articulações e se executados de forma correta privilegiam os músculos das áreas mais centrais do corpo que são maiores e mais fortes.
Como avaliar os padrões Fundamentais de Movimento?
A avaliação funcional do movimento (ou Functional Movement Screen, FMS™) é um método eficiente e credível para determinar pontos fortes e fracos nos padrões fundamentais de movimento. Isto identifica disfunções, assimetrias, inibições ou mesmo dores. Além disso, fornece resultados sobre as forças motoras da pessoa e fornece informações sobre quais os padrões que podem ser treinados sem problemas. Uma vantagem muito clara deste método de triagem corporal é o baixo gasto de tempo e material em troca de informações detalhadas sobre o estado funcional do corpo.
A FMS™ consiste num conjunto de testes de movimento que requerem mobilidade e estabilidade. Os movimentos colocam as pessoas do teste em posições nas quais deficiências, desequilíbrios, assimetrias e restrições podem ser reconhecidas por formadores treinados.
Esta bateria de exercícios foi concebida para colocar um indivíduo em posições extremas onde as limitações do movimento se tornam percetíveis se a estabilidade e a mobilidade apropriadas não forem usadas. Mesmo que os indivíduos realizem uma atividade ou desporto de rendimento (performance), observou-se que muitos desses indivíduos apresentam limitações nos movimentos fundamentais. Isso leva os indivíduos a adotar inconscientemente certos movimentos compensatórios para atingir ou manter o nível de desempenho necessário para a atividade mas com maior desgaste fisiológico e biomecânico para o corpo. O uso ineficiente da compensação durante o movimento levará a uma biomecânica deficiente que limita os ganhos no desempenho e reduz a capacidade do corpo em permanecer adaptável e durável contra os riscos de estar envolvido na atividade ou desporto. Num aluno pode-se verificar adaptações da cadeia cinética e de integridade tensional que se manifestam em eventuais problemas ortopédicos e ou músculo-articulares.
Francisco Sobral no seu livro “Introdução à Educação Física” enunciava em 1980 alguns dos objetivos da educação física contemporânea:
- Área da Saúde da Higiene:
- A saúde é um dos mais antigos objetivos, tanto da E.F. moderna como das práticas remota do exercício físico.
- Área da aptidão física.
- Área do lazer e da recreação.
- Área da prática desportiva.
- Área da expressão estética.
- Área das aprendizagens escolares de base.
- Área da reabilitação física e motora.
- Área da Educação especial.
A dimensão higiénica e ortopédica da educação física escolar foi esquecida e os professores de E.F. centram maioritariamente a sua abordagem, por inerência aos Programas de Educação Física, na área da prática desportiva porém, como nos apercebemos, muitos jovens apresentam limitações nos movimentos fundamentais que dificultam as aprendizagens escolares de base (Habilidades motoras de base) e sobretudo os padrões motores desportivos (Habilidades motoras compostas e complexas). Como anteriormente referimos, os padrões motores desportivos representam uma domesticação do movimento que se afastou a sua funcionalidade natural para representar uma interpretação cultural.

Normalmente solicitamos estes padrões de movimento, damos pontualmente algum feedback relativamente à sua correta execução durante a fase inicial da aula mas nunca investimos tempo e atenção na sua análise, correção e correto desenvolvimento e os alunos chegam à vida adulta sem nunca terem sido devidamente “corrigidos”. A nossa atenção é desviada para as matérias nucleares do PNEF. O PNEF representa, na minha opinião fundamentada pela investigação e 30 anos de experiência prática, uma enorme limitação e constrangimento para quem quer praticar uma verdadeira Educação Corporal. Também é um facto que os professores de Educação Física iniciam a sua carreira com uma formação extremamente deficiente no domínio da Higiene Postural e defendo que os conhecimentos de osteopatia, educação somática e holopraxias deveriam fazer parte integrante do currículo dos Futuros Professores de Educação Física (FPEF).

Depois de efetuada a análise, os exercícios são prescritos com base nos resultados dos testes para corrigir fraqueza ou desequilíbrio e esta abordagem torna-se muito mais apelativa e importante para os jovens que aprendem desta forma a utilizar baterias e/ou protocolos de teste de forma muito mais aplicada ás suas necessidades individuais ao contrário dos atuais Testes de Aptidão Física que comparam os alunos a um perfil médio explícito nas Tabelas de Referência.
- Agachamento: o padrão Deep Squat desafia a mecânica total do corpo e o controle neuromuscular. Usa-se para testar a mobilidade bilateral, simétrica, funcional e a estabilidade dos quadris, joelhos e tornozelos. A sobrecarga da cavilha (dowel overhead) requer mobilidade bilateral simétrica e estabilidade dos ombros, região escapular e coluna torácica. A pelve e o core devem estabelecer estabilidade e controle durante todo o movimento para atingir o padrão completo.
- Passo sobre a barreira: O padrão de passo sobre o obstáculo é parte integrante da locomoção e aceleração. Esse movimento desafia a mecânica do passo e do passo do corpo, enquanto testa a estabilidade e o controle da postura de uma perna. A etapa da transposição da barreira requer mobilidade bilateral e estabilidade da cintura pélvica, joelhos e tornozelos. O teste também desafia a estabilidade e o controle da pélvis e do core, pois oferece a oportunidade de observar a simetria funcional.
- Afundo na linha (alinhado): O padrão Inline Lunge coloca o corpo numa posição que simula tensões durante a rotação, desaceleração e movimentos laterais. O afundo em linha coloca as extremidades inferiores em uma divisão postura enquanto as extremidades superiores estão num padrão oposto ou recíproco. Isso replica o contrapeso natural que as extremidades superiores e inferiores usam para se complementar, pois exige exclusivamente a estabilização da coluna. Este teste também desafia a mobilidade e estabilidade do quadrúpede, joelho, tornozelo e pé.
- Mobilidade do Ombro: o padrão de mobilidade do ombro demonstra o ritmo complementar natural da região escapular-torácica, coluna torácica e caixa torácica durante os movimentos recíprocos do ombro da extremidade superior. Esse padrão também observa a amplitude de movimento bilateral do ombro, combinando extensão, rotação interna e adução numa extremidade e flexão, rotação externa e abdução da outra.
- Elevação ativa da perna estendida: o padrão Active Straight-Leg Raise não apenas identifica a mobilidade ativa do quadril flexionado, como também analisa a estabilidade do core dentro do padrão, bem como a extensão do quadril disponível do quadril alternativo. Este não é tanto um teste de flexão do quadril de um lado, mas uma avaliação da capacidade de separar as extremidades inferiores numa posição sem carga. Esse padrão também desafia a capacidade de dissociar as extremidades inferiores, mantendo a estabilidade na pelve e no núcleo (CORE).
- Estabilidade do Tronco durante a extensão de braços: o padrão Trunk Stability Push-Up é usado como uma observação básica da estabilização do núcleo (CORE) reflexo e não é um teste ou medida da força da parte superior do corpo. O objetivo é iniciar o movimento com as extremidades superiores Num padrão de flexão sem permitir o movimento na coluna ou nos quadris. O movimento testa a capacidade de estabilizar a coluna no plano sagital durante a cadeia cinética fechada, movimento simétrico da parte superior do corpo.
- Estabilidade Rotativa: o padrão de estabilidade rotativa é complexo, exigindo coordenação neuromuscular adequada e transferência de energia através do tronco. Este padrão observa a estabilidade multiplanar da pelve, core e cintura escapular durante um movimento combinado das extremidades superiores e inferiores. O movimento demonstra estabilização reflexa e deslocamento de peso no plano transversal, e representa os esforços coordenados de mobilidade e estabilidade observados em padrões fundamentais de escalada.

- Robert J. Butler et al. Interrater Reliability of Videotaped Performance on the Functional Movement Screen Using the 100-Point Scoring Scale. Athletic Training & Sports Health Care | Vol. 4 No. 3 2012: PDF
Utilização de pneus e as habilidades motoras básicas

Os recursos mais simples de utilizar são os pneus em fim de ciclo de vida. Normalmente as empresas de recauchetagem oferecem os pneus e apenas temos que garantir o transporte até à escola.
A utilização dos pneus apresenta várias vantagens:
- São feitos de borracha o que garante elasticidade, amortecimento.
- Boa estabilidade em contacto com o solo (anti-derrapante).
- Permitem facilmente criar diferentes configurações que facilitam a exploração dos saltos, receções, transposições e equilíbrios.
- São fáceis de manusear e deslocar de um espaço para outro (rolam sobre si próprios).
- São duráveis (borracha a revestir uma estrutura de arame).
Economia Circular é um conceito estratégico que assenta na redução, reutilização, recuperação e reciclagem de materiais e energia. Substituindo o conceito de fim-de-vida da economia linear, por novos fluxos circulares de reutilização, restauração e renovação, num processo integrado, a economia circular é vista como um elemento chave para promover a dissociação entre o crescimento económico e o aumento no consumo de recursos, relação até aqui vista como inexorável.

Os pneus usados possuem características excelentes para serem utilizados como obstáculos que permitem explorar os movimentos básicos do parkour de forma segura e apelativa.

Tirar partido dos espaços envolventes:
As subculturas quebram as regras através do reposicionamento, da recontextualização do consumo, subvertem o uso convencional dos objetos e investigam novas funções.
Escadas, muros, corrimões, lancis, rampas, terraços etc, encontram-se em todas as zonas urbanizadas permitindo explorar o espaço pelo movimento. Porém, os materiais são mais rígidos e exigem maior cuidado quando se realiza uma iniciação, para evitar lesões. A EBSC possui alguns obstáculos junto ao polidesportivo exterior que apresentam algumas vantagens. Possuem uma altura ajustada à iniciação e por isso não apresentam risco desde que utilizados de forma adequada e segura.
A literatura mais recente relativa ao Parkour enquanto prática espacial redefine o ambiente dos edifícios e sugere uma reintegração do corpo na arquitetura da escola. Desta forma, em vez de sancionar os alunos que procuram exprimir-se através do seu corpo, devemos aprender a interpretar e falar a sua linguagem e integrar esta prática tanto no currículo da Educação Física como no contexto educativo da escola, criando espaços e oportunidades para os alunos praticarem o parkour de forma socialmente aceite e segura.
Os nossos corpos desenvolvem uma resposta somática e afetiva (emocional) relativamente aos espaços arquitetónicos, e esta resposta surge em função do acoplamento mente/cérebro/corpo/edifício que corresponde ao tempo e espaço da habitabilidade do edifício escolar. Se as escolas são espaços de enclausuramento e os alunos são simultaneamente incluídos e excluídos através de determinadas práticas corporais espaciais, devemos interrogar a estrutura material do edifício em si como um local de contestação da identidade.

Os aspetos do espaço estão fortemente ligados à identidade porque definem quem tem o direito de ocupar um determinado espaço ou quem pode estar desenquadrado (fora do seu lugar). A investigação nesta área pode transformar tanto as práticas da arquitetura das escolas e as práticas de ocupação destes edifícios. Se a arquitetura organiza, hierarquiza e sistematiza as nossas atividades, e se muito do nosso comportamento é definido como desviante relativamente à forma como nos recusamos, então parece ser urgente redefinir os espaços para que o ambiente dos edifícios defina uma participação legítima de todos, que seja inclusiva e dialógica.

De facto, o sucesso do parkour relaciona-se com estes diferentes contextos e formas de expressão relacionados com a cultura desta prática e a sua capacidade de desenvolver uma perceção cuidada da gestão do risco (autocontrolo e consciência dos limites pessoais).
O parkour foi destacado como a melhor prática no relatório do projeto Positive Futures e como consequência, outros projetos Positive Futures foram implementados no Reino Unido, promovendo o parkour como atividade base. Estes projetos levantam questões políticas interessantes e importantes para as quais não existem ainda respostas bem formuladas relativas ao porquê e como é que estão a ocorrer estas mudanças no comportamento dos jovens e nas suas preferências. Como consequência deste sucesso do parkour têm surgido em várias cidades do mundo outros parques de parkour outdoor que permitem aos jovens praticar a modalidade de forma mais segura e socialmente aceite.
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O Projeto Positive Futures é um programa nacional de inclusão social de base desportiva para jovens com idades compreendidas entre os 8 e os 18 anos de idade e que foi fundado em 2002.
Parkour é a disciplina física do treino para superar qualquer obstáculo, adaptando os movimentos ao ambiente:
- Requer treino consistente e disciplinado, com ênfase na força funcional, condicionamento físico, equilíbrio, criatividade, fluidez, controle, precisão, consciência espacial e além do uso tradicional de objetos.
- Normalmente incluem movimentos de corrida, salto, escalada, equilíbrio e quadrúpedia. Movimentos de outras disciplinas físicas são frequentemente incorporados porém, acrobacias ou truques por si só não constituem o parkour.
- O treino concentra-se na segurança, longevidade, responsabilidade pessoal e auto-aperfeiçoamento. Desestimula comportamentos imprudentes, exibições e acrobacias perigosas.
- Os traceurs valorizam a comunidade, a humildade, a colaboração positiva, a partilha de conhecimentos e a importância do brincar na vida humana, enquanto demonstram respeito por todas as pessoas, lugares e espaços.
- Mindfullness: sabe-se que a atenção plena é benéfica para a saúde mental e para a regulação emocional. O Parkour, sendo uma prática holística, que envolve mente e corpo, é um tipo de mediação em movimento. O praticante entra num estado de ‘fluxo’, em movimento, concentrado e relaxado sobre a tarefa em questão. Para aqueles que se debatem para ficar sossegados e acham que a meditação tradicional não se adequa, o parkour pode ser uma excelente alternativa.
Módulos de PK para parques
O Parkour é uma disciplina desportiva acrobática que consiste em deslocar-se de um ponto para outro da forma o mais fácil e eficiente possível. Os praticantes de Parkour adaptam-se às exigências do ambiente socorrendo-se apenas do seu corpo.
Para ajudar à prática deste desporto, várias empresas conceberam vários módulos de diferentes formas e tamanhos que podem ser ancorados num espaço concebido e preparado para esse efeito. Estes módulos são concebidos para uso exterior e têm que ser aprovados para uso público (Legislação).
Os módulos de parkour foram concebidos para parques públicos em câmaras municipais, parques de campismo, hotéis, clubes desportivos ou escolas e normalmente não são equipamentos para crianças com idade de frequentar os parques infantis, são vocacionados para jovens e adultos com mais de 140 cm de altura.
A iniciação ao PK no contexto escolar obedece a uma sequência pedagógica e didática que privilegia a segurança recorrendo sempre que possível ao equipamento de ginástica desportiva e num ambiente controlado dentro do pavilhão desportivo. Também é possível utilizar os pneus porque oferecem características que garantem essa segurança. A utilização do mobiliário urbano torna-se apelativo desde que existam muros baixos e outro tipo de mobiliário urbano que não eleve demasiado o nível de dificuldade (tudo acessível).
- Fonte da Imagem da Capa: Pista de Parkour e Calistenia em Torredonjimeno.
- O nível de mestria que se pode ver neste vídeo exige muitas horas de dedicação e treino o que ultrapassa o objetivo pedagógico da escola. A utilização do PK na escola está mais orientado para o desenvolvimento da psicomotricidade considerando as 3 unidades funcionais de Vitor da Fonseca. Os materiais utilizados neste parque (betão) não são adequados ao ambiente escolar do recreio e aulas de Educação Física que exigem supervisão dos alunos por questões de segurança. O Parkour na escola permite abordar o nível introdutório e exploração das habilidades motoras básicas locomotoras e não locomotoras permitindo o aumento do vocabulário e reportório motor.
Equipamento de Street Workout adaptado ao PK
- Imagens da empresa Veco Urban Design.
- A solução Workout Modular permite criar os módulos de treino adaptados à atividade de PK.
- Formação em Pedagogia Hébertista – SABER MAIS
Bibliografia
Movimento funcional:
- Gray Cook et al. Functional Movement Screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – part 1: The International Journal of Sports Physical Therapy | Volume 9, Number 3 | June 2014 | Page 396: PDF
- Gray Cook et al. Functional Movement Screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – part 2: The International Journal of Sports Physical Therapy | Volume 9, Number 4 | August 2014 | Page 549 PDF
- Gray Cook et al. Pre-participation screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – Part 1. North American Journal of Sports Physical Therapy | may 2006 | Volume 1, Number 2: PDF
- Gray Cook et al. Pre-participation screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – Part 2. North American Journal of Sports Physical Therapy | august 2006 | Volume 1, Number 3: PDF
- An introduction to the functional movement screening. PDF
Psicomotricidade:
- Vitor da Fonseca. Temas de psicomotricidade 3- a criança dispráxica. UTL-ISEF, Educação especial e reabilitação.
- Vitor da Fonseca. Contributo para o estudo da génese da psicomotricidade. Editorial Notícias.
- Lisa Cruz. Manual de atividades psicomotoras. Papa-letras.
- Jean Le Boulch. Rumo a uma ciência do movimento humano. Artes Médicas.
- Luis Miguel Ruiz Perez. Desarrollo motor Y actividades físicas. Gymnos Editorial.
- Ben William Strafford et al. Parkour as a donor sport for athletic development: PDF
- Carmen Lúcia Soares. Georges Hébert e o Método Naturel: Nova sensibilidade, Nova educação do corpo. Revista Brasileira de Ciências do exporte. Setembro 2003. PDF
- Catherine Ward Thompson. Activity, exercise and the planning and design of outdoor spaces. Journal of Environmental Psychology. PDF
- Elizabeth de Freitas. Parkour and the Built Environment – Spatial Practices and the Plasticity of School Buildings. Journal of Curriculum Theorizing. PDF
- Geneviève Cadoret el al. The mediating role of cognitive ability on the relationship between motor proficiency and early academic achievement in children: PDF
- Gregory J. Welk et al. The Association of Health-Related Fitness With Indicators of Academic Performance in Texas Schools. PDF
- J. Eric Tayler, Jessica Witt, Mila Sugovic. When walls are no longer barriers: perception of wall height in parkour. Perception. PDF
- Jacob Sattelman and John J. Ratey. Physical Active Play and Cognition – An academic Matter?. American Journal of Play, winter 2009. PDF
- John J. Ratey. Spark – the revolutionary new science of exercise and the brain. Little, Brown and Company.
- Joseph E. Donnelly et al. Physical Activity, Fitness, Cognitive Function, and Academic Achievement in Children: A systematic Review: PDF
- Kirk Erickson, Charles Hillman and Arthur Kramer. Physical activity, brain and cognition. Current Opinion in Behavioral Sciences: PDF
- Michael Babyak et al. Exercise Treatment for major Depression: Maintenance of Therapeutic Benefit at 10 Months. Psychosomatic Medicine 62:633-638 (2000): PDF
- Paul Zientarski. Enhancing P.E. in Illinois. Naperville Central High School. September 2013. PDF
- Rui Gonçalves de Carvalho e Ana Luísa Pereira. Percursos Alternativos – o parkour enquanto fenómeno (sub)cultural. Revista Portuguesa de ciências do desporto.: PDF
- Valter R. Fernandes et al. Motor Coordination Correlate with Academic Achievement and Cognitive Function in Children: PDF



