Explorar a Natureza
1 – RELAÇÃO do HOMEM com a NATUREZA:
Eric Brymer e Tonia Gray (2009); “Dancing with nature…” refere que o debate contemporâneo em torno da relação do homem com o mundo natural orienta-se segundo três perspetivas:
- Antropocentrismo.
- Valor Intrínseco da natureza.
- Unidade indivíduo-natureza.
- ANTROPOCENTRISMO (natureza separada do homem):
- A primeira é orientada segundo uma perspetiva antropocêntrica que olha par a natureza como separada da humanidade. A partir desta perspetiva a natureza apresenta-se como inanimada, fornecendo os recursos, os meios e as oportunidades (local) para a ação humana (tal como acontece nos desportos em que os atletas estão concentrados no esforço e não da fruição com a natureza), um obstáculo a conquistar, ou um local de recreio para a satisfação e gozo pessoal. Uma versão extrema deste ponto de vista é a interpretação cartesianista da natureza que é vista meramente como uma máquina apenas valorizada pelo seu valor material e/ou económico.
- VALOR INTRÍNSECO DA NATUREZA (natureza separada do homem):
- Para alguns escritores que se interessam na relação entre a humanidade e a natureza, o mundo natural apresenta-se no seu valor intrínseco e é visto como um local de veneração e de respeito. Nesta perspetiva é descrito como um santuário, um refúgio, um reservatório sagrado ou uma reserva natural, mas continua separado da humanidade.
- UNIDADE INDIVÍDUO-NATUREZA:
- Em contraste, para outros investigadores o mundo natural está profundamente ligado à humanidade e é descrito como um parceiro intimo ou uma extensão do Eu onde a humanidade é vista como uma parte integral de um grande todo (perspetiva holística).


Roda da Paz: Pierre Weill
Holopráxis: Práticas que levam à vivência holística (Unidade mente-corpo e indivíduo-natureza). Exemplo de holopráticas…
- Yoga; tai-chi-chuan; eutonia; expressão corporal; ai-ki-do; Expressão Plástica.
- Meditação; presença na vida quotidiana; minfullness,
- Retiro temporário no silêncio da natureza; Ligação Profunda com a Natureza.
Sabemos que os nossos corpos precisam de atividade física para se manterem saudáveis, sobretudo numa cultura onde prevalece um desrespeito pelo tempo de repouso, pelos ritmos biológicos, pela qualidade natural dos alimentos, pelos ecossistemas e habitats onde vivemos, etc…

2 – ALIENAÇÃO do CORPO na EDUCAÇÃO e na SOCIEDADE:
“a forma como o homem lida com o corpo parece reflectir um profundo conflito na vida contemporânea”.
Mihaly Csikszentmihalyi (1976) “Body and behaviour:
a New Look at the Mind-Body problem”
Enquanto uma tentativa desesperada está a ser feita para se recuperar a harmonia do corpo e da mente, que os heróis Homéricos e nobres selvagens desfrutaram, ao mesmo tempo parece que cada vez somos menos capazes de viver com e através do corpo. Nos países tecnológicos, um número crescente de pessoas encontram-se “encerradas” numa luta confusa contra os seus corpos.
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Querem dormir mas não conseguem;
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Querem ficar magras mas engordam;
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Querem sentir-se alegres mas não conseguem sair das suas depressões profundas.
Muitas soluções são possíveis para esta falta de adequação entre o propósito do corpo e o propósito da mente (dualidade mente | corpo). Mas pelo facto desta cultura estar organizada em torno do símbolo do controlo tecnológico, a solução típica é do tipo mecânico e tecnológico.
São usados comprimidos para nos:
- Acordar.
- Trabalharmos mais arduamente.
- Manter sossegados e atentos nas aulas.
- Comermos menos.
- Relaxar.
- Adormecer.
Ao mesmo tempo deu-se um crescente aumento de:
- Estilos de vida sedentários.
- Comidas não naturais.
- Alteração da composição do ar e da água.
- Ritmos e métodos artificiais de educar (amestrar) as crianças em que são obrigadas a estar sentadas horas intermináveis contrariando os imperativos biológicos que “gritam” pelo movimento e pela brincadeira.
Estas disfunções têm aumentado a alienação do corpo humano em relação ao meio ambiente que o nutriu durante milhões de anos.
A tecnologia médica e os cuidados de saúde estão a minar o pouco controlo que ainda tínhamos sobre os nossos processos físicos. O resultado é que deixamos de nos sentir confortáveis a viver nos nossos corpos. A verdade é que já não temos que sofrer as dores físicas que acompanhavam a vida nos séculos passados. Mas a vitória sobre a dor e a doença foi conseguida às custas da redução do corpo a um mero absurdo ambiental, que deve ser mantido através da ingenuidade tecnológica. Apesar dos aparentes confortos e dos químicos que foram ostensivamente criados para “ajudar” o corpo, começamos agora a compreender que eles são utilizados para evitar que o corpo invada e perturbe, com as suas necessidades, a nossa consciência preocupada com conceitos e criações nas quais o corpo já não desempenha um papel relevante.
Lentamente, parece que o corpo está a ser adormecido tal como um velho cavalo que é demasiado velho para viver.
3 – EDUCAÇÃO FÍSICA:
Nas escolas, espera-se que os professores de Educação Física consigam incutir nas crianças e jovens, em idade escolar, o gosto pela prática de exercício físico e desporto, promovendo hábitos e estilos de vida saudáveis que prevaleçam para o resto da vida. Porém, a realidade prova o contrário, mostrando que assim que deixam a escola, o número de praticantes ativos é muito reduzido.
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O que está a falhar?
Por outro lado, espera-se igualmente que os professores de Educação Física incutam nos jovens o gosto pela prática de exercício físico em contacto com a natureza, seja através das atividades realizadas na floresta, como as multiatividades de ar livre, a corrida de orientação, o BTT, ou uma simples corrida de resistência ou caminhada. Porém, parece que estamos a perder uma “batalha” contra os telemóveis, computadores e televisão que monopolizam a atenção e interesse das crianças e as alienam.
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Qual o motivo desta alienação?
A disciplina de Educação Física orienta sobretudo as suas atividades físicas em função do modelo desportivo tradicional que depende de espaços artificiais e fechados (Pavilhão Desportivo, Salas Polivalentes ou Espaços Polidesportivos Exteriores). Os seus objetivos e conteúdos “confundem-se com a iniciação à prática desportiva competitiva”. Ou seja, a EF abandonou o seu papel de exploração do eu através do corpo. A EF apela sobretudo à mecanização gestual estereotipada. A técnica do “drill” (destreza) consiste em decompor os movimentos que vão ser aprendidos e a recompo-los numa gama de automatimos, “padrões motores”, inerentes aos gestos técnicos codificados. Estas tarefas assentam no fisiologismo e o corpo é visto como um instrumento.
É muito importante implementar uma “desintoxicação da contenção“, permitir que as crianças brinquem, explorem livremente e desenvolvam sobretudo esquemas motores em contacto com a natureza.
4 – EF e o RETORNO à NATUREZA:
Atualmente existem opiniões e métodos práticos diferentes sobre a melhor forma de exercitarmos o nosso corpo. Qual é o tipo de exercício mais adequado para as crianças e jovens durante o período escolar?
Esta pergunta pode ter muitas respostas corretas dependendo da perspetiva de abordagem!… Porém, tem-se verificado uma crescente tendência para aproximar o exercício físico da sua forma funcional, natural, no contexto da natureza e também uma crescente crítica à especialização desportiva desde idades cada vez mais precoces.
- Funcional – movimentos ou exercícios prescritos em função das características do indivíduo que melhoram a sua destreza para realizar com eficácia as suas tarefas diárias ou alcançar objetivos específicos.
- Retorno à Natureza – conjunto de princípios éticos e comportamentais que preconizam um modo de vida baseado no retorno à natureza, defendendo a vida ao ar livre, o consumo de alimentos naturais e a procura de uma ligação e respeito profundo pela natureza.
Embora tenha escolhido, na minha prática profissional, ao longo da minha carreira, algumas atividades que privilegiam e promovem algum tipo de relação das crianças e jovens com a natureza, na verdade, a aprendizagem duma Ligação Profunda com a Natureza (plantas e animais), não se manifesta sem uma abordagem baseada na quietude (mindfullness) de base eutónica. Por outro lado, o objetivo destas atividades físicas e/ou desportivas, privilegiam sobretudo o esforço físico. A relação com a natureza fica circunscrita à primeira e segunda categorias de Eric Brymer e Tonia Gray (Antropocentrismo; Valor Intrínseco da Natureza).
Desde idades precoces que confinamos as crianças a salas de aula e escolas que não têm árvores, jardins ou outros espaços naturais. Depois, no estudo do meio, falamos-lhes da natureza através de imagens e textos, numa perspetiva abstrata e racional. Privamo-las do contacto direto livre e espontâneo com a natureza, onde deveriam desenvolver o instinto da brincadeira e do jogo, comprometendo qualquer vínculo, ligação ou laço com a natureza. Posteriormente procuramos, através de atividades pontuais, resgatar uma ligação com a natureza quando esse vínculo não existe. A educação ambiental começa com o ambiente interno, um reencontro com a nossa essência, a nossa sensibilidade e intuição.
Esta campanha publicitária mostra a reação de prisioneiros de alta segurança perante um estudo sobre os hábitos atuais das crianças.
Os presos de uma prisão de alta segurança nos Estados Unidos têm autorização para passarem duas horas no pátio. Por estranho que pareça, é o dobro do tempo que passam ao ar livre os jovens de todo o mundo, entre os 5 e os 12 anos. As marcas de detergente OMO e Persil levaram a cabo um estudo em 12 países, entrevistando mais de 12 mil pais com crianças destas idades. As conclusões apontam para menos de meia hora na rua.
SUJAR É BOM – SABER MAIS
5 – EF e a IMPORTÂNCIA do BRINCAR:
6 – MÉTODO NATURAL
Georges Hébert, oficial da marinha francesa que, na primeira metade do século XX, elaborou um conjunto de procedimentos para exercitar o corpo, o qual denominou “Método Natural“. As suas ideias centrais constituem um significativo conjunto de pressupostos sobre a educação do corpo e tocam, de maneira subtil, sensibilidades do presente. Mas, mesmo esta abordagem que preconiza uma relação física com o ambiente natural, também se centra “no valor intrínseco da natureza” a qual é vista como um ginásio natural. Porém, tem obviamente muitas vantagens quando comparada com o modelo desportivo que é realizado em espaços artificiais como pistas de atletismo, ginásios, pavilhões desportivos etc…
George Hébert escrevia:
O Método Natural é, por conseguinte, a codificação, adaptação e a gradação dos procedimentos e meios empregues pelos seres vivos no estado de natureza para adquirir o seu desenvolvimento integral. […] nenhuma cultura física dita científica, fisiológica ou outra, jamais produziu seres fisicamente superiores em beleza, saúde e força a certos habitantes naturais de todas as regiões do mundo: indígenas de todos os climas, negros da África, indígenas da Oceania etc. (Hébert, 1941a, p. 6, t. I).

“Etre fort pour être utile” ou “Ser forte para ser útil”.
A sua obra exprime o fascínio pela potência misteriosa das populações exóticas, pois Hébert teria viajado extensivamente pelo mundo, tendo ficado impressionado com o desenvolvimento físico e as habilidades dos movimentos dos povos indígenas, africanos e de outros lugares. Nas palavras de Hébert: “Os seus corpos eram esplêndidos, flexíveis, ágeis, habilidosos, duráveis, resistentes e ainda nunca tiveram nenhum tutor em ginástica exceto pelo seu convívio com a natureza”.
A relação com a natureza:
- Pede-nos um abandono gradual da abordagem competitiva.
- Priveligia uma abstração progressiva do adversário, assumindo os desafios pessoais e interiores como prioritários.
- O abandono da comparação de performances inter-individuais matizadas pelo nosso ego.
- Priveligia uma relação natural, orgânica , saudável com a nossa natureza em ligação com o meio ambiente.
- Edifica uma consciência ambiental de profundo respeito pela natureza como parte de nós próprios.
Uma versão popular da condição humana sustenta que o nosso passado ancestral foi uma idade de ouro no que respeita à saúde e que o mundo moderno é um terreno fértil para as doenças relacionadas com um estilo de vida pouco saudável e infeliz. Não se trata da idealização da cultura primitiva, mas o reconhecimento consciente das suas concretizações, conquistas sólidas e inteligentes. Pelo facto da civilização repudiar o primitivo, a verdade básica, perdemos o quadro de referência relativo a uma vida saudável. O desafio desta metodologia é conciliar o “melhor de dois mundos, o contacto com a natureza e a sua sabedoria”.
7 – EF e a DESORDEM de DÉFICE da NATUREZA:
Richard Louv no seu livro “Last Child in the Woods” introduz o conceito de Desordem de Déficit de Natureza (DDN):
- Diminuição da utilização dos sentidos.
- Dificuldades de atenção.
- Maiores incidência e prevalência de doenças físicas e emocional.
O seu programa (Maryland, Smart, Green & Growing), promove uma elevação da consciência pública, sobretudo entre os pais, professores e outros, sobre a importância e valor do tempo passado na natureza pelas crianças a brincar, explorar, descobrir e aprender.









