Este deve ser um debate importante que deve ser levado a cabo nos círculos dos profissionais de Educação Física relativamente ao que é verdadeiramente essencial que os alunos aprendam. Para podemos emitir uma opinião fundamentada e propor uma nova EF, torna-se importante compreender a origem histórica, base conceptual e metodológica.
Podemos ler no documento das Aprendizagens Essenciais:
Nestes documentos são identificados:
Os conteúdos e conhecimentos disciplinares estruturados considerados:
Indispensáveis.
Relevantes.
Significativos.
Capacidades e atitudes a desenvolver obrigatoriamente por todos os alunos em cada área disciplinar ou disciplina, tendo como referência o ano de escolaridade ou de formação.
"AS AEEF não esgotam a proposta programática desta área curricular, necessariamente mais ampla e profunda, possibilitando o ecletismo formativo, correspondente ao perfil de aluno fisicamente bem-educado de acordo com finalidades e objetivos gerais da Educação Física (EF)".
Através do trabalho de desenvolvimento curricular em cada estabelecimento de ensino, reforça-se a possibilidade de as escolas e os professores fazerem uma gestão flexível do currículo, contextualizada e adaptada ao ano, à turma, e a todos e cada um dos alunos. Garante-se igualmente, desta forma, o princípio da equidade no acesso ao currículo, respondendo à diversidade das necessidades e possibilidades dos alunos e das condições das escolas, promovendo a inclusão, por via da diferenciação pedagógica.
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Ecletismo
A essência do ecletismo está na liberdade de escolher e conciliar o pensamento de diversas correntes filosóficas, psicológicas e pedagógicas, opondo-se a todo e qualquer dogmatismo e ou radicalismo. A finalidade do ecletismo é atingir a verdade e harmonizar teorias que são aparentemente opostas, pretendendo formar um todo (holístico), buscando a coerência dos elementos escolhidos em diversos sistemas, escolhendo de cada um, a parte que parece mais próxima da verdade.
Literacia Física:
Aluno Fisicamente Bem Educado
Conceções de Educação Física
Existem várias concepções de Educação Física, ou seja, vários sistemas de valores e crenças sobre o que ensinar e como ensinar. Por outras palavras, é um conjunto de crenças dos professores que contribuem para a formação da identidade e da função da EF como disciplina do currículo escolar. Uma conceção de EF surge da resposta dada a 4 questões fundamentais:
Questão da justificação: porque deve a EF ser parte integrante do currículo escolar?
Questão dos objetivos: que objetivos devem ser alcançados pela EF escolar?
Questão dos Métodos: de que modelo devem ser organizadas as aulas de EF para se alcançar os objetivos definidos?
Questão da avaliação: como deve ser avaliada a qualidade das aulas de EF?
Deste modo, a estrutura de referência que surge da resposta dada a cada uma destas questões é considerada uma Conceção de EF. Para ser possível formar uma estrutura de referência é necessário que as respostas dadas a estas 4 questões estejam interrrelacionadas.
Conceção Biológica:
Objetivos: treino das capacidades físicas
Conteúdos: exercícios de aptidão física
Metodologia: melhoria das capacidades físicas.
Avaliação: testes físicos normalizados.
Conceção pedagogista:
Objetivo: desenvolvimento global dos alunos com foco na promoção do movimento, da postura, do caráter e da sociabilidade.
Conteúdos: ginástica, jogos desportivos, dança, etc...
Metodologia: promover resultados pedagógicos através da composição cuidadosa de um conjunto de tarefas ou atividades. Foco no desenvolvimento global do aluno.
Avaliação: incide sobre a atitude e as características da participação do aluno na aula, não havendo quase nenhuma orientação para os aspetos técnicos e táticos. Remete-se pouca exigência ao nível dos conteúdos lecionados focando-se no desenvolvimento social que os conteúdos possibilitam promover.
Conceção Personalista:
Objetivo: aprender a mover-se considerada uma competência essencial para o desenvolvimento e para a vida. Objetivos formulados de acordo com o desenvolvimento pessoal e a aquisição de competências pessoais ao nível do movimento.
Conteúdos: Assim, as atividades físicas e desportivas são utilizadas como meio de proporcionar experiências de desenvolvimento da competência, da auto-estima e da perperceção de competência dos alunos. Conhecimento de si próprio e do seu corpo. Confere pouca importância à promoção da saúde e de estilos de vida ativos e saudáveis.
Metodologia: orientação para a individualidade de cada aluno e para a descoberta guiada.
Avaliação: dominados pela avaliação do processo, ou seja, do desenvolvimento da competência e da perceção de competência dos alunos.
Conceção de socialização acrítica para o desporto:
Objetivo: esta conceção defende que a educação física deve ser substituída pela educação desportiva, com a defesa do modelo desportivo de EF (Siedentop). Parte de dois pressupostos: a escola deve ser um meios de transmissão de técnicas culturais; o desporto organizado representa um domínio social relevante e importante, e a principal missão da escola é introduzir os jovens na vida social e cultural, valores, regras e técnicas do desporto desde cedo na disciplina de EF.
Conteúdos: capacidades físicas, técnicas e táticas necessárias à participação nas modalidades desportivas mais conhecidas e relevantes ao nível socio-cultural.
Metodologia: modelo do professor treinados - socialização semelhante ao contexto do treino desportivo confundindo-se a EF com uma iniciação à prática desportiva desconsiderando a identidade pessoal de cada aluno. Prejudicam-se os alunos com menos apetência e menos habilidosos. Remete-se para um elitismo da EF. Não se respeita os princípios da individualização nem da integração, não sendo a prática acessível a todos independentemente das suas capacidades.
Avaliação: exercícios critério de técnica desportiva e situações de jogo para avaliação tática.
Conceção sócio-crítica:
Objetivo: a escola não é vista apenas como um meio de adaptação sociocultural mas como um contexto de inovação e de transformação sociocultural. A educação física deve introduzir as crianças e jovens na cultura do movimento, sendo a sua participação, de acordo com as necessidades e possibilidades pessoais, um fator fundamental para garantir a qualidade de vida. A cultura do movimento é mais que o desporto de competição, por isso uma política que privilegia o desporto de rendimento deve ser criticada pelas suas características seletivas e de exclusão. Os objetivos da concepção sócio crítica são compostos de acordo com as competências tecno-motoras, sócio motoras e reflexivas necessárias para participação na cultura do movimento ao longo da vida, tendo em consideração a responsabilidade individual para adoção de estilos de vida ativos.
Conteúdos: Os conteúdos desenvolvidos nesta concepção apresentam uma organização temática, onde as atividades são desenvolvidas de forma aberta e com foco no processo ensino-aprendizagem.
Metodologia: A utilização de diversas estratégias de aprendizagem e a orientação para o aluno e orientação para a resolução de problemas são os principais traços metodológicos da concepção sócio crítica (Métodos de Aprendizagem Cooperativa adequa-se como metodologia - autorregulação da aprendizagem).
Avaliação: tanto a avaliação do processo (formativa) como a avaliação do produto (sumativa) são importantes, sendo feitas de acordo com padrões individuais.
Para compreendermos a evolução dos objetivos e conteúdos da EF em relação ao desporto podemos ler um artigo bastante elucidativo publicado na revista Horizonte de 1988, intitulado "Caracterização da EF como Projeto Educativo", da autoria de F. Carreira da Costa, Carlos Januário, Alves Dinis, Luís Bom, João Jacinto e Marcos Onofre.
O atual conhecimento sobre o Conhecimento do Conteúdo Pedagógico da Educação Física sofreu influencia do trabalho de Daryl Siedentop. Há cerca de quatro décadas (1982), no discurso apresentado na conferência em Brisbane, Siedentop afirmou que acreditava que o desporto podia ser visto como uma matéria de ensino na Educação Física. Siedentop (1982) argumentava que o desporto apenas podia ser visto como uma matéria da EF se as experiências dos alunos no desporto, fossem ricas do ponto de vista educativo e contextualizadas dentro da sua compreensão da cultura desportiva contemporânea. Siedentop propôs um currículo e modelo de instrução que simulava aspetos contextuais chave do desporto, integrados numa pedagogia centrada nos alunos, onde estes assumiam gradualmente cada vez maior responsabilidade pela aprendizagem. A designação deste Modelo Curricular designava-se por Educação Desportiva (atualmente escutamos o termo literacia desportiva) e representou a génese da inovação curricular na EF que subsequentemente proliferou por todo o globo.
Tristan Wallhead e Mary O’Sullivan. Sport Education: physical education for the new millennium? Physical Education and Sport Pedagogy · June 2005: PDF
Élvio Rúbio Gouveia e colaboradores. O Modelo de Educação Desportiva: uma alternativa a considerar no ensino da Educação Física. PDF
Francisco Carreira da Costa e Colaboradores. Caracterização da Educação Física como projeto educativo. Revista Horizonte Vol. V, n.º 25, maio-junho 1988: PDF
Jorge Crespo. Entrevista com Jorge Crespo. Revista Horizonte Vol. V, n.º 25, maio-junho 1988: PDF
Jorge Crespo: Assim, há o perigo da escola ser um lugar de re-produção das práticas e ideias dominantes na realidade desportiva envolvente. (...) Entrevistador: Concordará certamente com a afirmação de que a escola não é, nem o ponto de partida do desenvolvimento desportivo, nem o ponto de chegada. É sobretudo um ponto de passagem. E deste modo importa valorizar o papel da escola como local da formação do cidadão, através de múltiplas atividades entre as quais o desporto. Em termos essenciais que características deve assumir a prática do Desporto na Escola? Jorge Crespo: será que as práticas integradas nos programas atuais correspondem às verdadeiras necessidades e aspirações dos jovens? (...) há que refletir sobre o valor dos conteúdos que se apresentam aos jovens. (...) A nossa convicção (..) é que a escola, para se afirmar numa perspectiva de desenvolvimento, deve rever todo o conjunto de práticas que sugere diariamente aos alunos, deve refletir sobre a oportunidade de outras instalações e de outros tempos de atividade.
Francisco Sobral no livro "Introdução à Educação Física" (1980) refere que a grande expressão que o desporto assume atualmente nos Programas de EF (Aprendizagens Essenciais) revela precisamente a importância que esta prática adquiriu nas sociedades modernas. Há poucas décadas ainda, a sua integração não só nos programas escolares como em toda a EF era considerada sob sérias reservas. Nessa altura, o número de praticantes não se aproximava das cotas atuais, os Jogos Olímpicos passavam quase despercebidos e os governos não encaravam sequer a ideia de despender as verbas que hoje concedem ao desporto de todos os níveis.
Conceção de EF | Referencial Axiológico | Objetivos | Conteúdos |
Conceção de socialização acrítica para o desporto | Vinculação Total com o Desporto | Mens Sana in corpore Sano; Valores do Desporto: "Fair Play"; Competição; Regras. | Desporto na Escola como meio de Formação Integral |
Idem | Vinculação Instrumental com o Desporto | Rendimento Físico; Saúde Física. | Trabalho Sistemático da Condição Física. |
Escassa Vinculação ou Recusa do Desporto:
Os autores do artigo "Caracterização da EF como Projeto Educativo" fazem a seguinte afirmação relativamente à quarta corrente:
Muito polémica desde a sua génese, baseia-se nos avanços da neuro-fisiologia e enfatiza os mecanismos perceptivos da conduta motora. A importância desta orientação residiria no facto de, com ela, o indivíduo "aprenderia a aprender" (1), tonar-se-ia "disponível", isto é, capaz de aprender qualquer atividade. Por esta razão, o conceito de aprendizagem de um movimento desportivo em si, não tem razão de ser (2) - tanto pode ser esse ou outro qualquer. Por esse motivo, o movimento operacionalizado e difundido principalmente por Jean LeBoulch e seus seguidores, surge como uma indiferença ou mesmo recusa ao desporto (3).
Jean LeBoulch trouxe uma reflexão extremamente importante para a Educação Física a qual não foi compreendida nem aceite pelos autores deste artigo e mentores dos Programas de Educação Física. A EF Eclética não deve estar refém de um Sistema de Crenças.
"Le Boulch decidiu desenvolver uma teoria cujo aspeto central priorizava o movimento, procurando uma educação global do ser humano, uma educação percetiva baseada no conhecimento do corpo. Procurava definições mais precisas sobre a necessidade e importância do movimento no desenvolvimento do ser humano, premissas que a EF até então negligenciava. Para ele havia a necessidade de superação da "Doutrina Desportiva" da época" (Christyan Giullianno Silva e colaboradores. "A psicocinética de Jean LeBoulch e o Conhecimento do Corpo na Educação Física"). Esta Doutrina Desportiva tem anulado outras formas de expressão e desenvolvimento da EF.
Educar um homem como um ser social é ir além de apenas adaptá-lo a esta sociedade, é torná-lo apto a superar as mudanças sociais que decorrerão necessariamente (...) Na Psicocinética, o objetivo educacional é favorecer o desenvolvimento humano, permitindo ao homem situar e agir no mundo por meio do conhecimento e aceitação de si; um melhor ajustamento da conduta, desenvolvendo autonomia e responsabilidade no âmbito social. A Psicocinética apoia-se numa conceção não dualistas, problematizando a dicotomia corpo e espírito nos processos educativos. (...) Na Picocinética consideram-se a expressividade e os gestos do corpo nas mais diversas possibilidades (...). A experiência didática do professor não substitui a experiência vivenciada pela criança. Será através da sua experiência que a criança compreenderá e dominará uma nova situação, cabendo ao professor proporcionar as condições para a experiência das crianças. O meio onde cresce uma criança é primordial, não dependendo apenas das especificidades biológicas, mas do meio social e humano onde vive. Desse modo, destaca-se o valor do papel do educador, estabelecendo uma relação adequada e compreendendo o trabalho em grupo com o propósito de sociabilização. A Psicocinética, valendo-se da prática de jogos e atividades de livre expressão (Jogos dramáticos, Jogos de imaginação, jogos a partir de temas musicais), conduz à possibilidade de "aprendizagem rápida", pensada a partir da perceção do corpo, respeitando o desenvolvimento da criança, rejeitando na sua proposta a aprendizagem técnica. Jean LeBoulch.
Esta visão converge totalmente no sentido do PASEO. Manuel Sérgio (1992), tecendo uma reflexão sobre a Ciência da Motricidade Humana e propondo perspetivas futuras para a Educação Física, assinala a importância e influência dos trabalhos de Le Boulch na visão ampliada do corpo. Os conhecimentos advindos da Psicomotricidade influenciaram e influenciam até hoje a EF através dos trabalhos de Vitor da Fonseca (1983) que apresenta contribuições para a EF promovendo uma aproximação entre a Psicomotricidade terapêutica e a EF, inclusive citando o trabalho de Le Boulch no tocante à impossibilidade de separação entre maturação e desenvolvimento na motricidade do ser humano, a relação corpo e o mundo, o ajustamento motor e a relação entre atitude e praxias. No livro de João batista Freire há várias referências ao trabalho de Jean Le Boulch em consonância com a Psicocinética.
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Bibliografia
Christyan Giullianno et col. A Psicocinética de Jean Le Boulch e o Conhecimento do Corpo na Educação Física. Movimento: PDF
(1) Pressuposto: "Aprender a Aprender":
Aprendizagem Autorregulada: uma das áreas de competências do PASEO é o "Desenvolvimento pessoal e autonomia" do PASEO onde a autorregulação é essencial. A autorregulação, tal como define Zimmerman cit. Adelina Silva "Aprendizagem autorregulada pelo estudante" refere-se ao grau em que os indivíduos atuam a nível metacognitivo, motivacional e comportamental sobre os seus próprios processos e produtos de aprendizagem, na realização das tarefas escolares. As competências associadas ao Desenvolvimento Pessoal e autonomia implicam que os alunos sejam capazes de:
Estabelecer reações entre conhecimentos, emoções e comportamentos.
Identificar áreas de interesse e de necessidade de aquisição de novas competências ("capaz de aprender qualquer atividade").
Consolidar e aprofundar as competências que já possuem, numa perspectiva de aprendizagem ao longo da vida.
Estabelecer objetivos, traçar planos e concretizar projetos, com sentido de responsabilidades e autonomia.
Aprender a Aprender: Vitor Cruz e Vitor da Fonseca "Educação Cognitiva e Aprendizagem" fala nos Programas de Treino Cognitivo (Ensinar a Pensar) referindo que a escola deve capacitar os alunos a terem acesso à informação para estes usarem na resolução de problemas. O Ensino de Matérias (Instrução) não ensina os alunos a pensar mas o ensino das estratégias (Ensinar a Pensar) ajuda os alunos a melhorar a maneira de utilizar a inteligência, pois uma coisa é a capacidade ou potencial bruto com que o indivíduo está equipado (Inteligência) e outra bem diferente é o modo habilidoso ou não, como o indivíduo utiliza essa capacidade (cognição ou pensamento). Assim, é concebivel que um indivíduo com inteligência média, que teve oportunidade para adquirir boas estratégias cognitivas ou de pensamento, consiga pensar melhor do que outro indivíduo com uma inteligência mais elevada, mas que não teve oportunidade de adquirir essas estratégias. Ou seja, mais do que fornecer informação (ensinar técnicas) é necessário fazê-los pensar. Os alunos têm que aprender a estabelecer objetivos (identificar as áreas psicocinéticas/psicomotoras e sociomotoras a explorar), traçar planos (escolher os métodos) concretizar pojetos de desenvolvimento motor pessoal.
(2) Pressuposto: "A aprendizagem de um movimento desportivo em si, não tem razão de ser":
Aprendizagem Mecanicista: a aprendizagem dos gestos técnicos apela ao caráter analítico da progressão de exercícios criando estereótipos, uma das características dos métodos mecanicistas. A aprendizagem destas formas gestuais codificadas é considerada como um meio de chegar a um certo tipo de cultura e a transmissão dessas "habilidades", passa a ser em si um dos objetivos da educação-tipo do homem do século XX. Atualmente a Educação Física confunde-se quase exatamente com a iniciação à prática competitiva e seu corolário, a aprendizagem de gestos específicos. Para cumprir as Aprendizagens Essenciais o Professor assume o papel de treinador, e resolve o problema de aprendizagem gestual, montando por adestramento um certo numero de modalidades, de respostas ou habilidades que permitem ao organismo-máquina enfrentar um determinado número de situações típicas bem codificadas. O papel do professor é ensinar "boas técnicas" sem "defeito" com o máximo grau de eficácia suposta. A mecanização estrita ou o "drill" é um modelo de aprendizagem responsável pela estereotipia gestual consistindo na decomposição dos atos a aprender e a recompô-los numa gama de reflexos. A repetição monótona do gesto garante, pouco a pouco, a regularidade , a precisão e o ritmo imposto. Os músculos adotam o movimento e libertam-se da tutela da mente e finalmente o gesto fica automático. Olivier Reboul "O que é aprender?", tal como Jean LeBoulch chamam a este processo adestramento e não aprendizagem:
O adestramento é um constrangimento exterior que impõe ao sujeito a aquisição de algumas condutas, sem que faça apelo à sua iniciativa.
O adestramento recusa tomar em conta os gostos, os desejos e as aspirações do indivíduo.
No adestramento a correção do comportamento faz-se por meio de uma chamada de atenção para as falhas (componentes críticas).
(3) Pressuposto: "Indiferença ou mesmo recusa ao desporto":
A Educação Física adota uma postura Eclética e por isso não recusa nenhuma concepção, escola ou método. A escolha da Escola e ou Método será uma estratégia adotada pelo aluno com o intuito de alcançar os seus objetivos delineados conforme as suas carências ou necessidades de aperfeiçoamento pessoal, considerando a Dimensão Funcional, Saúde, Recreacional e Performance (auto-superação)
Escola | Impulsionador | Método |
Alemã | Friedrich Ludwig Jahn | Ginástica de Aparelhos |
Sueca | Pehr Henrik Ling | Calisténico |
Inglesa | Thomas Arnold | Desportivo |
Francesa | Georges Hébert | Jean Le Boulch | Pierre Weill | Treino Natural | Psicomotricidade | Psicocinética | Holopraxias (Arte de Viver em Paz) |
Americana | Thomas Hanna | Daryl Siedentop | Educação Somática | Educação Desportiva |
Oriental | Índia; China; Japão | Artes Marciais | Meditação | Posturas |
Espanha | BAPNE | Percussão Corporal |
Aprendizagens Essenciais:
As Aprendizagens Essenciais são documentos de orientação curricular base na planificação, realização e avaliação do ensino e aprendizagem da Educação Física, conducentes ao desenvolvimento das competências inscritas no Perfil dos alunos à saída da escolaridade obrigatória. Para cada ano, as AE elencam os conhecimentos, as capacidades e atitudes a desenvolver por todos os alunos tendo por base os documentos curriculares existentes.
Sendo unanimemente reconhecido que havia um problema de extensão dos documentos curriculares, identificou-se na Educação Física um conjunto considerado essencial de conteúdos, capacidades e atitudes, com vista à prossecução dos seguintes objetivos:
Consolidar aprendizagens de forma efetiva.
Desenvolver competências que requerem mais tempo (realização de trabalhos que envolvem pesquisa, análise, debate e reflexão).
Permitir efetiva diferenciação pedagógica na sala de aula.
A Conceção das Aprendizagens Essencias de Educação Física basea-se no mesmo Referencial Axiológico e modelo ideológico que esteve na base da construção dos Programas de Educação Física.
As Aprendizagens Essenciais refletem um sistema de crenças próprio da conceção de socialização acrítica - CSA (Desporto - Matérias) associada a uma conceção biológica (Aptidão Física). Porém, apresentam-se como uma conceção sócio-crítico, procurando, no seu discurso, aproximar-se das exigências (competências e valores) do perfil dos Alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória (PASEO). Porém, o modelo desportivizado da CSA não possui atributos, qualidades, características e valores que assegurem todas as competências essenciais e ações estratégicas de ensino orientadas para o perfil dos alunos. A conceção de socialização acrítica que alicerça as AEEF tem dificuldades em responder ao PASEO. Não basta afirmar que algo é para o ser, tem que o concretizar.
A "Espinha Dorsal" das Aprendizagens Essenciais continua a ser o modelo de Siedentop de Educação Desportiva correntemente designado por Literacia Desportiva. Tal como afirmou Sílvio Lima na Antologia de Textos Desporto e Sociedade intitulado "Desporto, Jogo e Arte", na página 13, "O que define o desporto como desporto é a competição: ora esta pode ser considerada quer em relação aos outros (hetero-emulação) quer em relação a nós próprios (auto-emulação)". Podemos constatar que as Aprendizagens Essenciais bebem muito da Conceção de socialização acrítica para o desporto. O artigo "Caracterização da EF como projeto Educativo" de Francisco Carreira da Costa e colaboradores tece uma "crítica de tendências inaceitáveis, sendo uma delas a "visão da EF como propedêutica desportiva (abordagem das etapas iniciais e introdutórias no processo de aprendizagem). A principal finalidade da EF residiria na preparação para a vida desportiva e, por esse motivo, as atividades da EF reduzir-se-iam às atividades desportivas institucionalizadas". Podemos perguntar com legitimidade, não será esta a atual realidade da EF quando observamos as subáreas das AE?
Em artigos anteriores temos vindo a refletir sobre as limitações do modelo de Siedentop de Educação Desportiva o qual deve ser revisto se pretendemos de facto, ser ecléticos na nossa abordagem. Para tal, teremos que rever o Referencial Axiológico das Aprendizagens Essenciais que apresentam muitas limitações quando queremos implementar ações estratégicas de ensino orientadas para o perfil dos alunos à Saída da Escolaridade Obrigatória e considerar os aspetos fundamentais da Literacia Física.
Supostamente uma disciplina escolar vale pelos seus conteúdos e sem a apropriação de conteúdos não há processos de legitimação que valham, porque, como disciplina escolar, a EF tem de proporcionar aprendizagens e não simplesmente vivências afirmam Adilson Marques, Miguel Peralta e Ricardo Catunda em "Educação Física: conceções e modelos".
Aprendizagem: a aprendizagem é uma modificação do comportamento do indivíduo em função da experiência tendo como base um caráter sistemático, intencional e organizado das atividades (estímulos) que desencadeiem essa aprendizagem. As atividades inserem-se num quadro de finalidades e exigências determinadas pela instituição escolar (Aprendizagens Essenciais).
Vivências: experiências vividas no contexto social da turma durante as aulas de Educação Física. Sinónimo de experiências, práticas e domínios.
As Aprendizagens Essenciais partem do pressuposto que as vivências proporcionadas pela participação dos alunos, enquanto equipa, nos jogos desportivos coletivos, constitui uma condição necessária e suficiente, para garantir a aprendizagem do comportamento e atitude cooperativa. Do mesmo modo, parte-se do pressuposto que as vivências inerentes à participação nas atividades na aula de Educação Física, também constituem uma oportunidade para que os alunos apresentem uma modificação do comportamento e "cooperem nas situações de aprendizagem e de organização" ou "escolham as ações favoráveis ao êxito, segurança e bom ambiente relacional, na atividade da turma".
Os objetivos gerais das Aprendizagens Essenciais definem como uma das competências comuns a todas as áreas a "Cooperação" tanto nas situações de aprendizagem "com os companheiros para o alcance do objetivo nos jogos desportivos coletivos". Vimos no anterior artigo publicado intitulado "Educação Física e Pedagogia Cooperativa" que:
Para haver aprendizagem e/ou dinâmicas cooperativas não basta emergir os alunos num ambiente partilhado, atribuir tarefas de grupo ou incluir os alunos numa equipa de um jogo desportivo. (...) Se, enquanto professores de EF, queremos que a nossa prática pedagógica operacionalize os "Objetivos Gerais" que, de forma explícita, privilegiam a cooperação, devemos integrar a Pedagogia Cooperativa enquanto conjunto de Métodos de Aprendizagem Coopeerativa que permitem organizar e conduzir o ensino e a aprendizagem no espaço de aula, para que os alunos assumam diferentes papeis e aprendam a partilhar entre si o conhecimento e as tarefas que conduzem à aprendizagem. Aprender de forma cooperativa implica aprender com recurso ao trabalho em grupo, embora nem toda a aprendizagem realizada num grupo possa ser considerada trabalho cooperativo (trabalho de grupo). Por outro lado devemos implementar Jogos Cooperativos onde os alunos aprendem a jogar uns com os outros em vez de uns contra os outros.
O ambiente desportivo (de oposição) promove padrões cognitivos, neuronais e comportamentais mais próximos de decisões sociais sem atenção plena devido à inter-dependência negativa:
Decisões sociais sem atenção plena: este tipo de decisões dirige-se à “mente racional” e apenas reconhece as decisões e ações estratégias que lhe permitem ter vantagem sobre os outros ou apenas olham para os seus benefícios. Ou seja, o seu sucesso depende desta sobreposição de interesses, “eu” ou a “minha equipa” antes do “outro” ou da “outra equipa” - mentalidade e valores próprios dos jogos desportivos competitivos. Os níveis de raciocínio moral sobre os dilemas do desporto são significativamente mais baixos do que os níveis de raciocínio sobre os dilemas da vida. Se a estrutura do desporto competitivo, aceite na nossa cultura, encoraja a procura do interesse próprio, desencorajando o diálogo moral, então os dilemas do desporto podem provocar níveis mais baixos de raciocínio moral como respostas contextualmente apropriadas.
Joseph J. Scott e colaboradores num artigo intitulado "Physical Literacy and policy alignment in sport and education in australia" publicado na revista European Physical Education referem que a organização Sport Australia lançou a Australian Physical Literacy Framework (APLF) em 2019 para avançar a agenda da Literacia Física (LF) e especificamente, clarificar e promover o desenvolvimento da LF nos setores da educação e do desporto Australianos.
Já nas conclusões, os autores referem que a sua investigação foi sustentada pelo reconhecimento que ambos os setores da educação e do desporto têm um importante papel a desempenhar no desenvolvimento da LF nas crianças e jovens Australianos e que uma abordagem multidisciplinar beneficiaria a concretização de uma população mais Fisicamente Literada . O objetivo passou por explorar o alinhamento conceptual dos textos políticos com as propostas conceptuais de Margaret Whitehead relativamente ao conceito de LF tendo como objetivo final incentivar o debate político para que tanto os profissionais da Educação Física como de Desporto apoiem e implementem o desenvolvimento da Literacia Física (LF).
Joseph J. Scott e colaboradores. "Physical Literacy and policy alignment in sport and education in australia". Euopean Physical Education Review. PDF
Conceção sócio-crítica da EF
I - Questão da justificação.
II - Questão dos objetivos.
III - Questão dos Métodos.
IV - Questão da Avaliação.
I - QUESTÃO da JUSTIFICAÇÃO
Fátima Cristina Matos dos Santos na sua dissertação intitulada “da importância dos Conteúdos na Atitude dos Alunos Face à Aula de Educação Física” salienta a opinião expressa por vários investigadores relativamente a esta importância da EF:
Promoção de atitudes positivas face à atividade física e à saúde como uma das finalidades da EF.
O divertimento seria o objetivo afetivo a desenvolver nas aulas. As finalidades a atingir devem incluir o valor dos hábitos duradouros da atividade, através de estratégias que proporcionem divertimento ao aluno, no desenvolvimento da sua habilidade e lhe solicite uma participação ativa. Aulas com atividades divertidas podem ajudar a desenvolver os domínios: cognitivo, psicomotor e afetivo proporcionando mais competência e satisfação.
A EF devia ter como finalidade principal contribuir para a saúde pública da população e, nesse sentido promover e desenvolver atitudes positivas, quer nos programas de EF, quer nas atividades físicas dos tempos livres.
O interesse dos investigadores pelo tema da atitude dos alunos face à EF é devido, em parte, à influência que esta atitude exercerá nas futuras participações dos alunos nas atividades físicas. Tanto o stresse provocado pela situação de avaliação como a sensação de incompetência que muitas crianças sentem quando confrontadas com a rigidez da abordagem da ginástica ou de alguns desportos, promove sobretudo o afastamento de muitos jovens e a perda do gosto. Acabam por se envolver na aula sobretudo pela classificação em vez do gosto pela prática do desporto. Outros autores, porém, não vinculam as finalidades da EF subordinadamente ao tema da saúde. Estes autores referem que a grande preocupação da pedagogia e da teoria do currículo deveria ser:
Conceptualizar os processos pelos quais os professores podem ajudar os alunos a descobrir, interpretar e interiorizar os significados do conteúdo da EF, aceitando que o pluralismo é um princípio fundamental no desenvolvimento de um currículo significante para os alunos (Chen 1998, citado por Fátima dos Santos em 2001).
Proposta de Aprendizagens Essenciais para a EF - compromisso relativamente à Natureza Holística do Indivíduo.
LITERACIA FÍSICA - Esta proposta está estruturada segundo três eixos:
I - Estilos e Hábitos de Vida saudáveis | II - Domínio das Habilidades Motoras | III - Participar em Atividades Físicas ao Longo da Vida |
1.1 - Sentido e Propósito de Vida | 2.1 - Motricidade Sensório Percetiva (Capacidades Simples do Movimento) | 3.1 - Atividade Física Funcional |
1.2 - Educação para a Paz | 2.2 - Ideomotricidade (Habilidades Motoras Básicas). Capacidades do Movimento Combinado | 3.2 - Atividade Física Recreacional |
1.3 - Identidade Local | 2.3 - Neomotricidade (Habilidades Motoras Compostas e Complexas). Capacidades do Movimento Complexo | 3.3 - Atividade Física e Saúde |
| | 3.4 - Atividade Física e Performance |
Alunos Fisicamente Literados - Estrutura de Organização Curricular.
I - EHVS - Estilos e Hábitos de Vida Saudáveis:
1.1 - Sentido e propósito de vida - Projetos Individuais da Existência (Ikigai)
1.2 - Educação para a Paz :
A Arte de viver em Paz consigo.
A Arte de viver em Paz com os outros.
A Arte de viver em paz com a naturea
1.3 - Identidade Local - Ligações Sociais Comunitárias Saudáveis.
II - DHM - Domínio das Habilidades Motoras:
2.1 - Motricidade Sensório-Percetiva (capacidades Simples do movimento):
Motricidade Rudimentar.
Motricidade Básica.
2.2 - Ideomotricidade (Habilidades Motoras Básicas). Capacidades do Movimento Combinado:
Motricidade Específica e Especializada:
Locomotoras.
Não Locomotoras.
Manipulação, Projeção e receção.
Combinações de movimentos.
2.3 - Neomotricidade (Habilidades Motoras Compostas e Complexas). Capacidades do Movimento Complexo:
Não Desportivas:
Atividades de Exploração da Natureza.
Atividades Rítmicas e Expressivas.
Circuitos de Obstáculos.
Método de treino natural e parkour
Desportivas:
Invasão Territorial.
Rede/parede.
Batimento.
Alvo.
Cooperativas:
Team-Building
III - AFLV - Atividade Física ao Longo da Vida:
3.1 - Atividade Física Funcional (AFF) que responde às exigências das tarefas diárias sejam profissionais ou domésticas:
Psicomotricidade: Praxias | Dispraxias
Movimento Funcional:
3.2 - Atividade Física Recreacional (AFR) enquanto lazer a qual, para muitos, é uma atividade com orientação social:
Brincar:
Jogos:
Sensação.
Fantasia.
Narrativa.
Desafio.
Sociabilidade.
Descoberta.
Expressão.
Abnegação.
3.3 - Atividade Física Relacionada com a Saúde (AFRS) relacionada com a aptidão física, bem-estar e/ou reabilitação:
Aptidão Física.
Holopraxias (Bem-Estar Integral).
3.4 - Atividade Física Relacionada com a Performance (AFRP) a qual também está relacionada com a auto-superação e/ou sucesso nos ambientes competitivos:
Jogos de Auto-superação:
Desafio.
Abnegação.
Jogos Cooperativos (Team Building)
Jogos de Oposição (Competitivos):
Invasão Territorial.
Rede/parede.
Batimento.
Alvo.
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Bibliografia
Michel Poulain, Anne Herm and Gianni Pes. The Blue Zones: areas of exceptional longevity around the world. Vienna Yearbook ofPopulation Research 2013 (Vol. 11), pp. 87–108: PDF
Darla M. Castelli*, Jeanne M. Barcelona, Lynne Bryant. Contextualizing physical literacy in the school environment: The challenges. Journal of Sport and Health Science 4 (2015) 156-163: PDF
Ang Chen. Operationalizing physical literacy for learners: Embodying the motivation to move. Journal of Sport and Health Science 4 (2015) 125-131: PDF
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Susan Giblin, Dave Collins, Chris Button. Physical Literacy: Importance, Assessment and Future Direction. Sports medicine, june 2014: PDF
II - QUESTÃO dos OBJETIVOS
O que é um Aluno Fisicamente Literado
Literacia Física:
Indivíduos que se movimentam com competência numa grande variedade de atividades físicas e que beneficiam o desenvolvimento da pessoa como um todo.
UNESCO: é a habilidade, confiança e motivação para se envolver em atividades físicas ao longo da vida.
Margaret Whitehead: competência que encapsula toda a exeriências corporizada que inclui a proficiência nas habilidades motoras num vasto leque de ambientes considerando também o reconhecimento da atitude positiva face à atividade física enquanto meio para se alcançar o potencial total em todos os aspetos do desenvolvimento para maximizar a qualidade de vida.
Motivação, confiança, competência física, conhecimento e compreensão do valor e da necessidade de se assumir a responsabilidade pelo envolvimento em atividades físicas ao longo da vida.
Comum a todas as definições é o reconhecimento essencial que a literacia física está relacionada com a aquisição das habilidades motoras necessárias para se conseguir com sucesso um leque de atividades ocupacionais e recreativas diárias desde as tarefas domésticas até à participação em atividades desportivas. Estas definições também reconhecem que não basta dominar as habilidades motoras uma vez que uma pessoa fisicamente literada também possui a competência e a confiança para se envolver num vasto leque de atividades em diferentes ambientes (neve, água, ar, terra) retirando daí prazer pessoal e um sentimento de si através das suas experiências motoras.
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Documento: Developing Physical Literacy - Building a New Normal for All Canadians: PDF
Yao Ydo. Physical Literacy on the Global Agenda. Prospects (2021) 50:1-3: PDF
Dean A. Dudley. A conceptual Model of Observed Physical Literacy. PDF
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Ken Hardman. Physical Education, Movement and Physical Literacy in the 21st century: Pupil's competencies, attitudes and behaviour. 6th FIEP European Congress: PDF
Susan Giblin, Dave Collins, Chris Button. Physical Literacy: Importance, Assessment and Future Directions. Sports med. PDF
III - QUESTÃO dos MÉTODOS
Compromisso relativamente à Natureza Holística do Indivíduo:
Ken Hardman no seu artigo Physical Education, Movement and Physical Literacy in the 21st century: Pupil's competencies, attitudes and behaviour, refere que um objetivo primordial da Educação Física é o desenvolvimento da competência física para que as crianças e jovens sejam capazes de se mover de forma eficaz, eficiente e segura e compreendam o porquê e o objetivo do que estão a fazer à medida que se tornam cidadãos responsáveis, independentes e confiantes. refere ainda que a Literacia Física é um objetivo significativamente importante para a EF. Uma compreensão da Literacia Física ajuda-nos a apreciar a natureza especial da EF. Não se trata de ensinar especificamente as crianças e jovens a praticar desporto (embora haja oportunidades para tal), nem sequer se trata de selecionar talentos com potencial para se tornarem atletas de elite. A EF relaciona-se sobretudo com o encorajamento de cada criança e jovem para se tornarem participantes de Atividade Física ao longo da vida e apoiar cada uma delas no seu percurso de desenvolvimento da literacia física. A Literacia Física implica um compromisso relativamente à natureza holística do indivíduo e a interação com as suas capacidades. Um aspeto chave da Literacia Física é a constatação que o movimento é uma parte fundamental do Ser Humano e o movimento é essencial para uma boa saúde.
O esquema anterior apresenta um leque de opções Metodológicas que integram diferentes tipos de abordagens e atividades e servirá como modelo de orientação para os Professores de Educação Física. José Afonso Batista no seu livro "Aprender por Medida", quando aborda os Métodos de Ensino e Estratégias de Aprendizagem refere que na década de sessenta tiveram alguma divulgação, sobretudo na literatura pedagógica de língua francesa, três tipos de professor que parece interessante reter:
O professor autoritário.
O professor democrático.
O professor laisser faire ("deixa andar" ou "não te rales").
Deixando de lado o terceiro, que existe, obviamente, mas a que não damos estatuto de modelo estruturado, talvez possamos partir dos dois primeiros tipos de professor para definir os dois modelos pedagógicos que mais generalizadamente presidem à conceção e à organização do processo de ensino-aprendizagem.
O primeiro modelo corresponde ao método tradicional, magistral, frontal, discursivo, basicamente assente na transmissão do saber do professor para os alunos. A dificuldade em o erradicar está na sua simplicidade e na economia da sua estrutura funcional:
Um ator principal e único.
Um programa (AEEF) rígido e obrigatório para todos.
Um Método Indiscutível.
Numa Turma Homogénia de espetadores passivos e dóceis.
Um único objeto de avaliação.
O conhecimento medido através de provas escritas, orais e/ou práticas normalizadas (Provas de Aferição; Provas de Equivalência à frequência; Provas Especiais de Avaliação; Exames de Final de Ciclo).
O Modelo dito Democrático define-se por oposição ao primeiro pela recusa do seu monolitismo estrutural:
Recusa o professor como ator privilegiado, reconhecendo aos alunos um estatuto de interlocutores de pleno direito.
Centrando-se nos alunos, reconhece a sua diversidade e o direito à diferença:
Recusando por isso a rigidez dos programas (AEEF).
Recusando a uniformidade metodológica.
Recusando o livro único.
Recusando o conhecimento como parâmetro exclusivo para a avaliação.
José Afonso Batista, sublinha a importância da pedagogia centrada nos alunos a qual tem de ser flexível, diferenciada, por medida, capaz de responder às circunstâncias concretas de cada publico-alvo nas mais diversas situações.
Quando estabelecemos como Objetivo Geral das Aprendizagens Essenciais a "Formação para a vida e participação em atividades físicas ao longo da vida" que é igualmente um dos objetivos de um aluno Fisicamente Literado, teremos que optar por uma pedagogia centrada no aluno porque as escolhas e motivações são decerto diferentes. José A. Batista reforça esta ideia afirmando que "por isso falamos de método relativamente ao ensino tradicional, e falamos de estratégias quando nos situamos no ensino democrático".
Cada novo público alvo traduz uma situação diferente, sendo necessário estudar as necessidades concretas dos alunos, definir objetivos prioritários, mobilizar os recursos disponíveis, programar as atividades adequadas, prever formas de controlo dos resultados. Quando a diferença é a norma, qualquer modelo estandardizado está condenado ao fracasso.
É por este motivo que Todd A. Rose fala no imperativo abandono da "Ciência do Grupo" ("Mito da Média" - destrói o talento) baseado na média estatística, para nos centrarmos na "Ciência do Indivíduo".
O nosso argumento é que os indivíduos se comportam, aprendem e se desenvolvem de maneiras distintas, apresentando padrões de variabilidade que não são capturados por modelos baseados em médias estatísticas. Como tal, qualquer tentativa significativa de desenvolver uma ciência do indivíduo começa necessariamente considerando que a variabilidade individual se manifesta em todos os aspectos do comportamento dos alunos e em todos os níveis de análise (L. Todd Rose et al.)
L. Todd Rose, Parisa Rouhani and Kurt W. Fischer. The Science of the Individual. Journal Compilation © 2013 International Mind, Brain, and Education Society and Blackwell Publishing. Volume 7—Number 3: PDF
Para que as Aprendizagens Essenciais reflitam este modelo democrático, com uma pedagogia flexível, diferenciada, centrada no aluno, respondendo especificamente a cada público alvo, devem abandonar uma estrutura prescritiva por matérias (subáreas) e organizar-se em função de Estratégias.
Desde o 1º Ciclo que os alunos devem ser introduzidos aos processos de auto regulação da aprendizagem tal como Adelina Lopes da Silva e colaboradores a definem no seu livro "Aprendizagem Autorregulada pelo Estudante - Perspectivas Psicológicas e educacionais".
Por outro lado, os Professores de Educação Física selecionam, em colaboração com os alunos, as estratégias mais adequadas para que os alunos desenvolvam as competências e valores previstos no PASEO e se tornem alunos Fisicamente bem Educados (Literacia Física).
Para que o aluno se Torne Fisicamente Literado, o Professor de Educação Física opta por Métodos que permitam aos alunos um correto e adequado desenvolvimento motor em função das suas necessidades individuais. O Professor deverá privilegiar as Estratégias Cooperativas, Holopraxias ou do Método de Treino Natural de Georges Hébert e recorrer a estratégias Individuais e/ou Competitivas sempre que se ache necessário para que a aprendizagem seja eclética.
Os alunos aprendem estratégias de auto regulação:
Consciência dos objetivos a atingir (aprender a definir objetivos pessoais e de grupo).
Conhecer as exigências da ação que quer realizar.
Discrimine e organize os seus recursos internos e externos para a concretização da ação.
Avalie o nível de realização atingido.
Altere os procedimentos utilizados se o resultado a que chegou não o satisfaça.
IV - QUESTÃO da AVALIAÇÃO
Avaliação Centrada nas Matérias:
Atualmente as Aprendizagens Essenciais prescrevem 3 grandes Áreas de Avaliação. Visão tradicional da organização curricular segundo a perspectiva da performance:
Áreas | A - Atividades Físicas | B - Aptidão Física | C - Conhecimentos |
Subáreas (Objetivos Programáticos: Anexo 3) | Jogos Desp. Coletivos (Oposição); Ginástica; Atletismo; Patinagem; ARE; Outras (raquetes; Luta; Orientação; natação) | Desenvolver as capacidades motoras (aptidão muscular e aeróbia) enquadradas na zona saudável | Relacionar Aptidão Física e Saúde; Benefícios do Exercício para a saúde; Dimensão sociocultural dos desportos na atualidade e ao longo dos tempos. |
Modelo Democrático:
Avaliação Centrada nas Estratégias:
A Educação Física é um recurso quase ubíquo oferecido pelas Escolas para ensinar habilidades físicas e promover a Atividade Física. A investigação que procura compreender a influência dos parâmetros de desenvolvimento Atividade Física e a constituição de hábitos duradouros na idade, adulta apresenta resultados contrastantes. Uma das razões para estes dados contraditórios está relacionado com a existência e utilização de um vasto reportório de ferramentas de avaliação vocacionadas para medir a componente das habilidades físico-motoras dos programas desenhados para promover a prática da atividade física ao longo da vida (Longevidade).
Competências - o que o aluno tem de saber / dominar:
Conhecimentos
Capacidades
Atitudes
Competências | Descritores Operativos |
Raciocínio e resolução de problemas | Gerir Projetos e tomar decisões para resolver Problemas |
Pensamento Crítico e Criativo | Convocar diferentes conhecimentos, utilizando diferentes metodologias |
Relacionamento Interpessoal | Adequar comportamentos em contextos de cooperação, partilha, colaboração e competição |
Desenvolvimento Pessoal e Autonomia | Aprendizagem autorregulada: estabelecer objetivos, traçar planos e concretizar projetos | Identificar áreas de interesse | Aprendizagem ao longo da vida. |
Bem-estar, saúde e ambiente | Estilo de Vida Saudável: Adotar comportamentos que promovem a saúde e o bem-estar |
Sensibilidade estética e Artística | Experimentar processos próprios das diferentes formas de arte (Expressão Corporal e Ritmo) |
Saber científico, técnico e tecnológico | Compreender processos e fenómenos científicos da motricidade humana | Utilizar as tecnologias para prescrever, acompanhar e avaliar o desenvolvimento motor |
Consciência e domínio do corpo | Realizar habilidades motoras básicas (locomotoras, não locomotoras e manipulativas (projeção e receção) e habilidades motoras compostas complexas | Dominar a capacidade percetiva-motora (imagem corporal, direcionalidade, afinamento percetivo e estruturação espaço-tempo) | Ter consciência de si próprio a nível emocional, cognitivo, psicossocial, estético e moral |
Gerir Projetos - Abordagem Pedagógica Centrada em Problemas:
Tudo o que as crianças devem aprender com, através e pelo movimento deve ser:
Prático.
Relevante.
Útil para a vida.
Mesociclos | 1º Período | 2º Período | 2º Período | 3º Período |
Projetos | Projeto 1 | Projeto 2 | Projeto 3 | Projeto 4 |
Unidade Temática | Aptidão Física | Jogo | Consciência e Domínio do Corpo | Arte de Viver em Paz |
Fase I | Definição do Problema | Definição do Problema | Definição do Problema | Definição do Problema |
Fase II | Execução e Controlo | Execução e Controlo | Execução e Controlo | Execução e Controlo |
Fase III | Auto-reflexão e auto-reação | Auto-reflexão e auto-reação | Auto-reflexão e auto-reação | Auto-reflexão e auto-reação |
Métodos de Aprendizagem Cooperativa
FASE I - DEFINIÇÃO DO PROBLEMA:
Constituição de Grupos de Trabalho Heterogénios (Grupos Formais de 4 alunos).
O Grupo define corretamente um objetivo (Fase de antecipação e preparação) - Exemplo de 4 possíveis Projetos a desenvolver:
Projeto 1: Estou na Zona Saudável - O que é a Aptidão Física, como desenvolver e avaliar?
Projeto 4: Tenho domínio e consciência do corpo - sou ágil, coordenado e manifesto destreza motora? Como se avalia?
Projeto 3: Sei Jogar - Que tipos de Jogos existem, como se jogam e avaliam?
Projeto 4: Estilos de Vida Saudáveis e a Arte de Viver em Paz comigo, com os outros e com a natureza.
Elaboração de mapas conceptuais - pesquisa, organização e sistematização de informação.
Definição do que se vai fazer e como se vai fazer.
Dividem-se tarefas:
Atribuição de papeis (Encorajador, Moderador, Controlador/Verificador, Registador/Anotador, Capitão do Silêncio, Gestor dos Materiais)
Inventariam-se os recursos:
Gestão do Tempo - Cronograma: organizam-se os dias (microciclos), as semanas (mesociclos).
Gestão dos Espaços e Equipamentos.
Gestão das Pessoas.
Gestão dos processos.
FASE II - EXECUÇÃO E CONTROLO:
Projeto 1 - Aplica um Plano de Treino em Circuito (Plano de Aquecimento + Plano de Treino + Plano de Amplitude Articular) ao longo de um mesociclo (Escolhe os Exercícios; Escolhe o Método de Treino: calisténico; crossfit; funcional ou outro) - Monitoriza os Processos (técnicas de avaliação formativa)
Projeto 2 - Realiza Habilidades Motoras Básicas (locomotoras, não locomotoras e de manipulação) e respetivas combinações recorrendo a circuitos e/ou percursos de obstáculos para desenvolver a coordenação e a destreza motora - Monitoriza os Processos (técnicas de avaliação formativa).
Projeto 3 - Realiza Habilidades Motoras Compostas e Complexas, Desportivas e Não-Desportivas - Monitoriza os Processos (técnicas de avaliação formativa)
Projeto 4 - Realiza Atividades Holopráxicas de Educação Somática e/ou Ritmo, Expressão e Percussão Corporal - Monitoriza os Processos (técnicas de avaliação formativa)
FASE III - AUTO-REFLEXÃO E AUTO-REAÇÃO:
Partilha da Experiência e dos Resultados com os outros grupos da Turma.
O que é importante avaliar?
Margaret Whitehead no seu livro "Physical Literacy: throughout the lifecourse" citada por Susan Giblin, apresenta o seu modelo que descreve as componentes da Literacia Física:
Comportamental - definição de objetivos, visualização e reflexão, parecem desempenhar um importante papel na tomada de consciência relativamente à importância da AF, permitindo aos indivíduos investir o tempo necessário para praticar, evitar distrações e permanecer comprometido com o objetivo de alcançar a excelência pessoal em Atividades Físicas ao longo da vida.
Psicológica - crença na competência percebida relativamente ao facto de que vale a pena e é divertido participar em atividade física ao longo da vida.
Física - embora as componentes comportamental e psicológica alcançaram alguma consistência e consenso, a componente física permanece ofuscada pela variedade de medidas usadas na sua operacionalização. Margaret Whitehead categorisa as habilidades motoras da Literacia Física em três capacidades motoras:
Movimento Simples (Equivalente ao conceito de Habilidades Motoras Básicas)
Combinação de Movimentos (Equivalente ao conceito de Combinações Motoras locomotoras, não locomotoras e de manipulação)
Movimentos Complexos (Equivalente ao Conceito de Habilidades Motoras Compostas e Complexas)
Capacidade de Movimento Simples:
Estabilidade do CORE(1)
Equilíbrio.
Coordenação.
Variação da velocidade da flexibilidade.
Capacidade de Combinar Movimentos:
Estabilidade.
Fluencia.
Precisão.
Destreza.
Equilibrio.
Capacidade de Movimentos Complexos:
Coordenação Bilateral.
Coordenação Inter-segmentar.
Coordenação Óculo-manual.
Controlo da aceleração e desaceleração.
Movimentos Rítmicos de rotação e torção.
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(1) CORE: conjunto de músculos que circundam o nosso centro de massa (cintura abdominal e pélvica.
Os autores afirmam que a atual ênfase nas Habilidades Motoras Básicas (destrezas Fundamentais) pode não ser apropriado para o alcance dos alegados benefícios a nível da Literacia Física. Como tal, os Programas de Exercícios Físicos, orientados pelas evidências, devem assegurar o desenvolvimento de elementos mais sofisticados da coordenação motora, exemplificados na tabela 2 "Sumário das Capacidades Físicas do Movimento" (Summary of Physical Movement Capacities).
Ou seja, a avaliação da Literacia Física deve incidir, no domínio das Habilidades Motoras Compostas e Complexas, não sendo obrigatoriamente desportivas porque o que se avalia são Capacidades Coordenativas do Movimento e não propriamente gestos técnicos, por outras palavras, avaliam-se as praxias com finalidade transitiva, simbólica e estética.
Os autores apresentam uma tabela de sistematização com exemplos que ilustram algumas tarefas de avaliação dos movimentos no âmbito da Literacia Física.
Podemos constatar um paralelismo desta taxonomia de avaliação da Literacia Física relativamente às Habilidades Motoras Básicas (locomotoras, não locomotoras e de projeção e receção) e respetivas combinações de movimentos, às Habilidades Motoras Compostas Complexas (Não Desportivas) bem como as 7 habilidades psicomotoras fundamentais.
Habilidades Motoras Fundamentais:
Porque motivo as Habilidades Motoras Compostas e Complexas Desportivas são consideradas Muito Pouco Essenciais?
Atualmente existe uma forte ligação entre Cultura, desporto e socialização. A prática desportiva favorece a aprendizagem sobre as ideias, normas, regras e expectativas que orientam os comportamentos das crianças e os comportamentos dos outros na atual sociedade. Assim o desporto tem estado ligado, historicamente (A partir de 1820), ao processo de socialização e de cultura recentes. Porém, se eliminarmos o desporto da nossa sociedade, as possibilidades de movimento e de sociabilização pelo movimento continuam a existir porque o desporto é uma interpretação cultural recente do movimento. Para que uma criança desenvolva uma boa função práxica não precisa praticar desporto porque as possibilidades de realizar e desenvolver um reportório e vocabulário motor rico, coordenado e integrado, ultrapassa a dimensão do desporto. Ela precisa sim, desenvolver uma boa Literacia Física a qual pode não incluir experiências no âmbito da Literacia Desportiva. Como tal, o Desporto não é uma Aprendizagem Essencial. Se eliminarmos a competição (Desporto), uma sociedade continua a florescer, mas se eliminarmos a cooperação, uma sociedade colapsa. Se retirarmos as Habilidades Motoras Básicas, uma criança apresenta-se iliterada do ponto de vista motor, mas se eliminarmos as Habilidades Motoras Compostas e Complexas Desportivas, a criança consegue explorar e desenvolver competências motoras compostas e complexas sem necessidade da prática desportiva.
Crença na Cultura e Sociabilização pelo Desporto: a sociabilização através do modelo (desportivo, cultural) baseia-se na premissa de que se aprende sobre a sociedade (por exemplos, valores, normas, costumes, comportamentos) através da participação em brincadeiras, jogos e atividades desportivas.
Crença na Cultura e Sociabilização pelo Método Natural: difere do modelo anterior porque se desvaloriza a competição, privilegia-se a atividades física natural e funcional, no meio da natureza, e valoriza-se a cooperação como forma de relação entre os indivíduos.
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Bibliografia:
Physical Literacy in Children Questionaire User Guide: PDF
Luis Miguel Ruiz Perez. Desarrollo Motor Y Actividades Físicas. Gymnos Editorial.
Avaliação Psicomotora
As atividades propostas pela Educação Física devem enfatizar os movimentos multiplanares (movimentos em todas as direções) através de todo o espetro da ação muscular (aceleração concêntrica, desaceleração excêntrica e estabilização isométrica) num ambiente que enriquece a propriocepção. Um ambiente rico em termos proprioceptivos desafia os mecanismos internos de equilíbrio e estabilização do corpo.
A perspetiva da Psicomotricidade afirma que os educadores devem facilitar à criança, a apropriação das adaptações adquiridas filogenéticamente, como que reaprendendo o espelho da evolução da história da humanidade. De facto, importa abordar também a atividade física numa perspetiva funcional.
7 Habilidades Psicomotoras Essenciais:
Unidade Funcional:
Tonicidade
Equilibração
Unidade Funcional
Lateralização
Noção do Corpo
Unidade Funcional
Estrutura Espacio-Temporal
Praxia Global
Praxia Fina
Praxias - as praxias são sistemas de movimentos coordenados em função de um resultado ou de uma intenção. A praxia envolve um plano, uma função psicológica, e uma execução, uma função motora (Vitor da Fonseca, 1986). O movimento práxico é de facto o produto de uma complexa atividade superior, onde muitos sistemas cerebrais se encontram hierarquicamente integrados. A praxia global (macromotricidade) e a praxia fina (micromotricidade) integram os subfatores da tonicidade, equilibração, lateralidade, noção do corpo e a estrutura espacio-temporal.
As praxias com finalidade transitiva implicam uma ação direta sobre o objeto, visando modificá-lo. As praxias de carácter transitivo podem estar muito próximas das reações instintivas ou, por outro lado muito socializadas. Na verdade, a codificação do domínio das habilidades motoras com fins estritamente técnicos (finalidade transitiva), retira a plasticidade adaptativa própria do ser humano tornando o seu comportamento linear e rígido.
As praxias simbólicas estão relacionadas com o desejo de comunicação, ou seja, de transmitir uma mensagem gestual a outrem. Nesta categoria encontramos gestos que apresentam diferentes níveis de abstração e que vão do simples mimo de um gesto a um verdadeiro código gestual puramente convencional. As praxias simbólicas e estéticas possuem sempre um alto nível de socialização, estando as suas finalidades relacionadas com a expressão e a comunicação.
As praxias com finalidade estética tendem a transmitir igualmente uma mensagem, mas a intenção neste caso está mais centrada na qualidade formal dessa mensagem do que na sua precisão.
Considerando as idades dos alunos do 1º, 2º e 3º ciclos, torna-se mais apelativo propor desafios organizados segundo o modelo de circuitos de combinações motoras ou percursos de obstáculos onde se consegue, de forma funcional, explorar o corpo em situações de equilíbrio, lateralidade, propriocetividade, força/resistência e destreza motora.
Exemplo de materiais que podem ajudar a criar um circuito de treino e/ou psicomotor – percurso de obstáculos:
Trave baixa: equilíbrio em pé; equilíbrio em quadrupedia; passagem ventral na trave.
Plinto: trepar; saltar; receção ao solo;
Espaldar: trepar.
Colchão de solo: rolamento; rastejar (reptação); quadrupedia.
Colchão de queda: caminhar (propriocetividade)
Pneus: equilíbrio; propriocetividade (instabilidade/flexibilidade do pneu); coordenação; agilidade.
Barreiras: saltar.
Bolas + arcos (suspensos): lançar com precisão.
Arcos: coordenação; deslocação.
Escada: coordenação
Banco sueco: saltar; equilíbrio.
Cones: Slalom.
Os conceitos que podem ser desenvolvidos pela corrida de obstáculos, incluem os seguintes:
Relações espaciais.
Memória sequencial.
Equilíbrio.
Vigilância quinestésica.
Noção do corpo.
Direcionalidade.
Lateralidade.
Habilidades locomotoras e não locomotoras.
Atividades visuo-motoras.
Localização (posicionamento)
Georges Hébert também recorria às pistas de obstáculos como forma de explorar o movimento. Os exercícios, gestos ou movimentos, praticados durante as sessões de atividade física, nada mais são do que gestos “naturais” que o homem sempre utilizou. Georges Hébert catalogou, nos seus trabalhos técnicos, cerca de 6.000 gestos naturais e utilitários! Estes diferentes gestos foram agrupados e classificados em 10 famílias, elas próprias organizadas em 3 ordens de importância:
Os deslocamentos:
Marcha - caminhada.
Corrida.
Saltos.
Os deslocamentos secundários:
Quadrúpedia.
Trepar.
Equilíbrios.
Nadar.
As manipulações e interações:
Levantar - Transportar.
Lançar.
Defesa.
__________
Bibliografia:
Temas de Psicomotricidade - Observação Psicomotora e Criança Dispráxica: PDF
Carmen Lúcia Soares. Uma educação pela natureza: o método de educação física de Georges Hébert. Rev. Bras. Ciências Esporte. 2015; 37(2): 151-157: PDF
Carolina Nascimento Jubé. Georges Hébert, o "fabricante de atletas". O esporte nas revistas e nos periódicos brasileiros (1913-1943). Desafios para a EF e Ciências do esporte na América Latina. PDF
Carolina Nascimento Jubé. Método Natural de Georges Hébert: princípios e primeiras influências (1905-1914). Revista Brasaileira de Ciências do esporte: PDF
Carolina Nascimento Jubé & André Dalben. Amid Progress and Wilderness: Early Reception of Georges Hébert's Naturist Ideas in Brazil During the First Half of the Twentieth Century. Yhe International Journal of the History of Sport. PDF
Jacques Gleyse et al. Lóeuvre de Georges Hébert au Brésil et en France dans les écrits sur lÉducation physique. Deux facettes de la nature (1909-1957)?. PDF
Pierre Philippe-Meden. Georges Hébert (1875-1957). A Naturalist's Invention of Body Ecology. PDF
Sylvain Villaret et Jean-MIchel Delaplace. La methode Naturelle de Georges Hébert ou Lécole naturiste en Éducation Physique (1900-1939). STAPS, 20041 nº 63, p. 29-44: PDF
Avaliação dos Movimentos Funcionais
Movimentos funcionais são aqueles que nos ajudam nas tarefas do dia a dia. São movimentos multi-articulares de grande amplitude executados do centro (CORE) para a periferia. Ou seja, quase todos os movimentos do dia a dia podem ser considerados funcionais, deitar e levantar, sentar, levar algo acima da cabeça, arrastar um objeto e correr, pois eles exigem movimentos amplos de várias articulações e se executados de forma correta privilegiam os músculos das áreas mais centrais do corpo que são maiores e mais fortes.
Avaliar Padrões Fundamentais de Movimento - estes padrões de movimento correspondem aos movimentos usados no dia-a-dia dos nossos antepassados (e nas atuais tribos) para a sua sobrevivência e defesa territorial. Os 7 principais Padrões Fundamentais de Movimento (Paul Chek, "Padrões Primevos"):
Agachar (levantar algo do chão)
Afundo ou passada com amplitude (Transpor um obstáculo)
Inclinar à frente (Pegar um objeto do chão)
Puxar (tração | arrastar)
Empurrar (Deslocar um objeto)
Torção – rotação (arremessar uma pedra, uma lança)
Deslocamento (Caminhar, trotar, correr)
A avaliação funcional do movimento (ou Functional Movement Screen, FMS™) é um método eficiente e credível para determinar pontos fortes e fracos nos padrões fundamentais de movimento. Isto identifica disfunções, assimetrias, inibições ou mesmo dores. Além disso, fornece resultados sobre as forças motoras da pessoa e fornece informações sobre quais os padrões que podem ser treinados sem problemas. Uma vantagem muito clara deste método de triagem corporal é o baixo gasto de tempo e material em troca de informações detalhadas sobre o estado funcional do corpo.
A FMS™ consiste num conjunto de testes de movimento que requerem mobilidade e estabilidade. Os movimentos colocam as pessoas do teste em posições nas quais deficiências, desequilíbrios, assimetrias e restrições podem ser reconhecidas por formadores treinados.
Esta bateria de exercícios foi concebida para colocar um indivíduo em posições extremas onde as limitações do movimento se tornam percetíveis se a estabilidade e a mobilidade apropriadas não forem usadas. Mesmo que os indivíduos realizem uma atividade ou desporto de rendimento (performance), observou-se que muitos desses indivíduos apresentam limitações nos movimentos fundamentais. Isso leva os indivíduos a adotar inconscientemente certos movimentos compensatórios para atingir ou manter o nível de desempenho necessário para a atividade mas com maior desgaste fisiológico e biomecânico para o corpo. O uso ineficiente da compensação durante o movimento levará a uma biomecânica deficiente que limita os ganhos no desempenho e reduz a capacidade do corpo em permanecer adaptável e durável contra os riscos de estar envolvido na atividade ou desporto. Num aluno pode-se verificar adaptações da cadeia cinética e de integridade tensional que se manifestam em eventuais problemas ortopédicos e ou músculo-articulares.
Normalmente solicitamos estes padrões de movimento, damos pontualmente algum feedback relativamente à sua correta execução durante a fase inicial da aula mas nunca investimos tempo e atenção na sua análise, correção e correto desenvolvimento e os alunos chegam à vida adulta sem nunca terem sido devidamente “corrigidos”. A nossa atenção é desviada para as subáreas das AEEF.
Depois de efetuada a análise, os exercícios são prescritos com base nos resultados dos testes para corrigir fraqueza ou desequilíbrio e esta abordagem torna-se muito mais apelativa e importante para os jovens que aprendem desta forma a utilizar baterias e/ou protocolos de teste de forma muito mais aplicada às suas necessidades individuais ao contrário dos atuais Testes de Aptidão Física que comparam os alunos a um perfil médio explícito nas Tabelas de Referência.
Agachamento: O padrão Deep Squat desafia a mecânica total do corpo e o controle neuromuscular. Usa-se para testar a mobilidade bilateral, simétrica, funcional e a estabilidade dos quadris, joelhos e tornozelos. A sobrecarga da cavilha (dowel overhead) requer mobilidade bilateral simétrica e estabilidade dos ombros, região escapular e coluna torácica. A pelve e o core devem estabelecer estabilidade e controle durante todo o movimento para atingir o padrão completo
Passo sobre a barreira: O padrão de passo sobre o obstáculo é parte integrante da locomoção e aceleração. Esse movimento desafia a mecânica do passo e do passo do corpo, enquanto testa a estabilidade e o controle da postura de uma perna. A etapa da transposição da barreira requer mobilidade bilateral e estabilidade da cintura pélvica, joelhos e tornozelos. O teste também desafia a estabilidade e o controle da pélvis e do core, pois oferece a oportunidade de observar a simetria funcional.
Afundo na linha (alinhado): O padrão Inline Lunge coloca o corpo numa posição que simula tensões durante a rotação, desaceleração e movimentos laterais. O afundo em linha coloca as extremidades inferiores em uma divisão postura enquanto as extremidades superiores estão num padrão oposto ou recíproco. Isso replica o contrapeso natural que as extremidades superiores e inferiores usam para se complementar, pois exige exclusivamente a estabilização da coluna. Este teste também desafia a mobilidade e estabilidade do quadrúpede, joelho, tornozelo e pé.
Mobilidade do Ombro: O padrão de mobilidade do ombro demonstra o ritmo complementar natural da região escapular-torácica, coluna torácica e caixa torácica durante os movimentos recíprocos do ombro da extremidade superior. Esse padrão também observa a amplitude de movimento bilateral do ombro, combinando extensão, rotação interna e adução numa extremidade e flexão, rotação externa e abdução da outra.
Elevação ativa da perna estendida: O padrão Active Straight-Leg Raise não apenas identifica a mobilidade ativa do quadril flexionado, como também analisa a estabilidade do core dentro do padrão, bem como a extensão do quadril disponível do quadril alternativo. Este não é tanto um teste de flexão do quadril de um lado, mas uma avaliação da capacidade de separar as extremidades inferiores numa posição sem carga. Esse padrão também desafia a capacidade de dissociar as extremidades inferiores, mantendo a estabilidade na pelve e no núcleo (CORE).
Estabilidade do Tronco durante a extensão de braços: O padrão Trunk Stability Push-Up é usado como uma observação básica da estabilização do núcleo (CORE) reflexo e não é um teste ou medida da força da parte superior do corpo. O objetivo é iniciar o movimento com as extremidades superiores Num padrão de flexão sem permitir o movimento na coluna ou nos quadris. O movimento testa a capacidade de estabilizar a coluna no plano sagital durante a cadeia cinética fechada, movimento simétrico da parte superior do corpo.
Estabilidade Rotativa: O padrão de estabilidade rotativa é complexo, exigindo coordenação neuromuscular adequada e transferência de energia através do tronco. Este padrão observa a estabilidade multiplanar da pelve, core e cintura escapular durante um movimento combinado das extremidades superiores e inferiores. O movimento demonstra estabilização reflexa e deslocamento de peso no plano transversal, e representa os esforços coordenados de mobilidade e estabilidade observados em padrões fundamentais de escalada.
Bibliografia
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Robert J. Butler et al. Interrater Reliability of Videotaped Performance on the Functional Movement Screen Using the 100-Point Scoring Scale. Athletic Training & Sports Health Care | Vol. 4 No. 3 2012:
Gray Cook et al. Functional Movement Screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – part 1: The International Journal of Sports Physical Therapy | Volume 9, Number 3 | June 2014 | Page 396:
Gray Cook et al. Functional Movement Screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – part 2: The International Journal of Sports Physical Therapy | Volume 9, Number 4 | August 2014 | Page 549
Gray Cook et al. Pre-participation screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – Part 1. North American Journal of Sports Physical Therapy | may 2006 | Volume 1, Number 2:
Gray Cook et al. Pre-participation screening: the use of fundamental movements as an assessment of function – Part 2. North American Journal of Sports Physical Therapy | august 2006 | Volume 1, Number 3:
An introduction to the functional movement screening.
Avaliar as Capacidades Condicionais:
Aptidão Aeróbia:
Milha
Vai-vem
Aptidão Neuromuscular
Força.
Velocidade.
Amplitude articular.
Composição Corporal.
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Bibliografia
Avaliar as Capacidades Coordenativas:
Diferenciação cinestésica.
Orientação Espacial.
Equilíbrio Dinâmico.
Reação Simples.
Ritmo.
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Bibliografia:
Testes e Exercícios para controlo das Capacidades Coordenativas. Revista Horizonte: PDF
Avaliar o Jogo - Sociomotricidade
Sociomotricidade - O que é importante avaliar no Jogo?
Importa, antes demais, distinguir dois tipos de jogos:
Jogos Cooperativos - Interdependência Positiva.
Jogos Competitivos de Oposição - Interdependência Negativa
Neste modelo de avaliação não se enfatiza a avaliação da técnica desportiva, mas sobretudo presta-se atenção às seguintes competências essenciais:
Cooperar:
Noção de Equipa e Noção de Unidade
Relacionar-se com cordialidade e respeito pelos companheiros, quer no papel de parceiros quer no de adversários.
Interessar-se e apoiar os esforços dos companheiros com oportunidade, promovendo a entreajuda.
Cooperar nas situações de aprendizagem - com os companheiros para o alcance do objetivo nos jogos desportivos coletivos, jogos não desportivos e jogos cooperativos não desportivos.
Noção de adaptabilidade:
Resposta adequada a situações diversificadas do jogo:
Competências SEL (Social and Emotional Literacy): Conhecer e lidar com as próprias emoções, motivar-se reconhecer e lidar com relacionamentos [Relacionar-se com Cordialidade e respeito pelos companheiros no papel de parceiros (jogos não desportivos e jogos cooperativos) e de adversários (Jogos desportivos)]:
Raciocínio e Resolução de Problemas (Situações de Jogo) tática "totalidade das ações individuais e coletivas dos elementos de uma equipa, selecionados, organizados e coordenados unitáriamente (Noção de Unidade), com vista á sua utilização racional e oportuna no jogo seja, Não-Desportivo, Desportivo ou Cooperativo.
Habilidades Motoras Compostas e Complexas:
Jogos Não Desportivos:
Jogos de Sensação: prazer sensorial.
Jogos de Fantasia: estímulo à imaginação.
Jogos de Narrativa: conexão pelo drama (Jogo de Psicodrama)
Jogos de Desafios: recompensa por superação
Jogos de Sociabilidade: contacto social.
Jogos de Descoberta: estímulo à exploração (Pedipaper; "Raid"; Multiatividades de ar livre; etc...).
Jogos de Expressão: autoconhecimento e exploração criativa do ritmo (Mimo; Percussão Corporal; Expressão Corporal; Teatro, etc...).
Jogos de Abnegação: tarefas automáticas de superação em equipa (Provações).
Jogos Desportivos:
Invasão Territorial.
Rede/parede.
Alvo.
batimento.
Jogos Cooperativos:
Sem perdedores.
De resultado Coletivo.
De Inversão:
Rotação dos jogadores.
Inversão do goleador.
Inversão do Placar (pontuação afeta á outra equipa)
Jogos semi-cooperativos:
Todos jogam.
Todos tocam/todos passam.
Todos marcam ponto.
Todas as posições.
Resultado misto.
Team-Building.
Conclusão:
Nós moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais as pessoas vivem e trabalham. (…) nós devemos questionar (…) que tipo de natureza humana queremos ajudar a moldar?
Barry Schwartz “Sabedoria Prática”
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