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Porque motivo cooperar é melhor que competir?

Cooperação vs Competição

Jogo Finito

Jogos Desportivos

Existirá um Paralelismo entre desporto e Sociedade?

 

Podemos encontrar vários argumentos que enaltecem o jogo desportivo enquanto contexto privilegiado para formar os jovens sobre os valores da sociedade, preparando-os para uma integração plena. Porém, quando aprofundamos o tema à luz da teoria do jogo facilmente nos apercebemos que não existe paralelismo entre o jogo desportivo e a sociedade (no seu sentido mais abrangente (cultura) porque são dois Mundos completamente diferentes. O jogo da vida é infinito e integra aspetos finitos. Quais são as principais diferenças entre os jogos finitos e os jogos infinitos?

 

Jogos finitos (Desportivos):

  • São jogados por jogadores conhecidos. Há regras fixas e um objetivo previamente acordado que, ao ser atingido, faz com que o jogo termine.

  • Todos os jogadores usam um equipamento e são facilmente identificáveis.

  • Há um conjunto de regras (Mecânica) e árbitros para as aplicar.

  • Todos os jogadores concordaram jogar segundo essas regras e aceitam penalizações quando as infringem.

  • Todos concordam que a equipa que tiver conseguido mais golos no final de um período de tempo estipulado será declarada vencedora, o jogo terminará e irão todos para casa.

  • Nos jogos finitos, há sempre um princípio, um meio e um fim.

  • No jogos finitos há uma única estatística, sobre a qual todos estão de acordo, que separa o vencedor do vencido, coisas como o número de golos marcados, a velocidade ou a força.

  • Um jogo finito termina quando o seu tempo se esgota. Os jogadores continuam, para jogar noutro dia.

  • Os jogadores com uma mentalidade finita tendem a seguir padrões que os ajudam a atingir as suas metas pessoais dando menos importância aos efeitos da ondulação que isso pode causar. A pergunta é, “o que é melhor para mim?!…”.

  • Segundo a Teoria do Jogo de Nash, os atores no modelo competitivo (Jogos Finitos) procuram o Equilíbrio de Nash. O que torna este jogo tão interessante é o facto do Equilíbrio de Nash representar a decisão em que ambos os jogadores optam pela “estratégia racional” mas que os deixa numa situação mais desvantajosa do que aquela que envolve cooperação.

  • Numa situação competitiva, a teoria do jogo diz-nos como (pede-nos para) sermos espertos (inteligentes) – Dimensão Cognitiva ou Racional.

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  • Simon Sinek. O Jogo Infinito. Lua de papel.

Contínua na coluna seguinte....

Jogo Infinito

Jogo da Vida

Jogos Infinitos:

  • Envolvem jogadores conhecidos e desconhecidos.

  • Não há regras exatas ou com as quais todos tenham concordado.

  • Embora possam existir convenções ou leis que regem o comportamento dos jogadores, eles podem operar como quiserem dentro dessas fronteiras amplas.

  • A forma como cada jogador decide agir é inteiramente com ele. E também pode mudar a qualquer altura a maneira como joga, seja por que razão for.

  • Estes jogos têm horizontes temporais infinitos e como não há linha de chegada, um final real para o jogo.

  • Num jogo infinito não existe isso de “ganhar”, o objetivo essencial é continuar a jogar, perpetuar o jogo.

  • Nos jogos infinitos, os indicadores são múltiplos, e é por isso que nunca é possível declarar um vencedor.

  • Num jogo infinito é o jogo que prossegue e é o tempo dos jogadores que se esgota porque não há como ganhar ou perder, os jogadores simplesmente desistem quando se lhes acabam os recursos e/ou a vontade para continuar.

  • Neste tipo de jogo, os jogadores procuram a Solução Social Ótima: a distribuição ideal de recursos na sociedade, considerando todos os custos e benefícios externos, bem como os custos e benefícios internos. Numa situação cooperativa, a teoria do jogo diz-nos como (pede-nos para) sermos justos – Dimensão Emocional, Social e Moral.

O Sistema de Crenças dominante colonizou a mente da maioria dos indivíduos que acreditam na competição como modelo de relação social e acreditam que o seu objetivo é ganhar, ser o número um. Porém, ninguém ganha na saúde, no casamento, na carreira profissional porque são processos e não acontecimentos. Desde cedo que somos programados para participar na sociedade com uma mentalidade de jogo finito, vendo-a como um palco limitado em termos numéricos, espaciais e temporais.

É do interesse de uma sociedade com mentalidade finita encorajar a competição nos seus jogadores, tornando-a numa manifestação de poder. Acredita-se que o poder dos cidadãos é determinado pela sua posição conquistada (certificados, louvores, prémios, distinções, bens materiais) nos jogos em que participaram.

As convenções sociais tendem a ser repetidas no futuro e por isso a necessidade de estabilidade, de conformidade porque uma das funções da sociedade é criar mecanismos que evitem alterações às regras padronizadas e homogeneizadas. Uma sociedade programada segundo uma mentalidade finita, limita-se a seguir um guião, repetindo o passado, promovendo um empobrecimento cultural. Ou seja, utilizar jogos finitos desportivos competitivos criam uma mentalidade finita e preparam os alunos para seguirem guiões empobrecendo-os culturalmente. 

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  • Simon Sinek. O Jogo Infinito. Lua de papel.

Teoria da Cooperação e Competição

Duas realidades diferentes

A teoria apresenta duas ideias básicas, enquanto uma delas relaciona-se com o tipo de interdependência entre objetivos das pessoas envolvidas numa determinada situação, a outra relaciona-se com o tipo de ação assumida pelas pessoas envolvidas. Morton Deutsch identifica dois tipos básicos de interdependência:

  1. Interdependência Positiva – os objetivos de ambos os atores envolvidos (individual ou coletivo) estão de tal forma correlacionados positivamente que a probabilidade de um ator atingir os seus objetivos individuais está muito ligado à probabilidade do outro ator alcançar os seus objetivos. A interdependência positiva pode resultar em pessoas que se apreciam mutuamente, recompensadas pelas suas concretizações conjuntas, que advém da necessidade de partilhar um recurso ou ultrapassar um obstáculo conjuntamente, partilhando uma filiação ou identificação comum relativamente a um grupo cujo destino é importante para ambos, constando que se impossibilitaria alcançar o seu objetivo exceto se dividirem a tarefa, sentindo-se influenciados por uma orientação cultural ou pessoal, reforçando os laços para enfrentar um inimigo ou autoridade comum.

  2. Interdependência Negativa – os objetivos de ambos os atores envolvidos (individual ou coletivo) estão inversamente correlacionados de tal forma que a probabilidade de um ator atingir os seus objetivos individuais pressupõe que o outro ator tenha muito pouca ou nenhuma probabilidade em alcançar os seus objetivos. Neste caso esta interdependência negativa pode resultar de pessoas que partilham uma antipatia, ou porque estão envolvidas num sistema onde a recompensa é atribuída de forma que quanto mais um obtém, tanto menos o outro consegue.

Por outras palavras, se um ator está positivamente ligado ao outro, então nadamos, ou afundamo-nos em conjunto, porém se, por outro lado, a ligação é negativa, se o outro se afunda, nós nadamos (flutuamos) e se o outro nada, nós afundamo-nos. Os jogos desportivos apresentam-se sobretudo como uma forma de Interdependência Negativa porque os objetivos estão inversamente correlacionados (vitória vs derrota | “empate”).

A existência de um conflito implica algum tipo de interdependência porque se as pessoas forem totalmente independentes entre si não surge conflito. As assimetrias podem existir relativamente ao grau de interdependência numa relação. Vamos imaginar que o que A faz ou lhe acontece tem um impacto considerável em B, mas o que B faz ou o que lhe acontece tem um impacto mínimo em A. Ou seja B está mais dependente de A do que A de B. No caso extremo, A pode estar totalmente independente de B e B pode estar totalmente dependente de A. Como consequência desta assimetria, A possui um grande poder e influência nesta relação comparativamente a B.

Estas ideias de Morton Deutsch desencadearam um grande número de investigações que concluíram que os processos cooperativos (comparativamente aos competitivos) conduzem a uma maior produtividade do grupo, melhoram e favorecem as relações interpessoais, melhoram a saúde psicológica e elevam a auto-estima. A investigação também mostrou que a resolução de conflitos construtiva inerente aos jogos cooperativos é superior em resultados comparativamente aos processos competitivos com o mesmo propósito. Para compreendermos a natureza dos processos envolvidos num conflito, esta última afirmação assume um grande significado em termos teóricos e práticos. Sugere que os processos construtivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos cooperativos de resolução de problemas e, em contrapartida, os processos destrutivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos competitivos.

Relações Cooperativas:

  1. Comunicação eficaz – as ideias são verbalizadas e os membros do grupo estão atentos entre si, aceitando as ideias dos outros membros e deixando-se influenciar por eles. Manifestam poucas dificuldades em comunicar com ou compreender os outros.

  2. Simpatia, prestatividade – exprimem menos obstrução relativamente às ideias expressas nas discussões. Os membros da equipa apresentam-se mais satisfeitos com o grupo e as suas soluções e favoravelmente impressionados pelas contribuições de outros membros do grupo. Adicionalmente, os elementos de um grupo cooperativo avaliam-se positivamente no desejo de ganhar o respeito dos seus colegas e em obrigação para com outros membros.

  3. Coordenação de esforços – divisão das tarefas, orientação para a concretização das tarefas, disposição metódica nas discussões e elevada produtividade manifestam-se nos grupos cooperativos.

  4. Sentimento de acordo – concordância relativamente às ideias dos outros e um sentimento de similaridade básica nos valores e crenças, bem como confiança nas próprias ideias e nos valores que os outros membros associam a essas ideias, são uma constante nos grupos cooperativos.

  5. Reconhecimento e respeito – através de uma atitude responsiva relativamente às necessidades dos outros.

  6. Vontade em aumentar o poder do outro – valorizando o conhecimento, competências e recursos de forma que a probabilidade de alcançar os seus objetivos seja elevada. Pelo facto das capacidades dos outros saírem fortalecidas, o grupo sai beneficiado e fortalecido porque se tornam numa mais-valia para nós e para todos. De forma semelhante, o outro sai fortalecido e enriquecido pelo nosso enriquecimento e beneficia do nosso crescimento, capacidades e poder.

  7. Definir os interesses conflituantes como problemas mútuos – que devem ser resolvidos através de esforços colaborativos reconhecendo a legitimidade dos interesses de cada parte envolvida  e a necessidade em encontrar uma solução sensível às necessidades de todos. Esta abordagem tende a limitar em vez de expandir a extensão dos conflitos de interesse envolvidos. As tentativas de influência dos outros tendem a ficar confinadas ao processo de persuasão.

Contínua na coluna seguinte:

Continuação da coluna anterior...

Em contraste, um processo competitivo possui os efeitos opostos:

  1. A comunicação fica prejudicada – pelo facto das partes conflituantes procurarem tirar vantagem através do engano dos outros recorrendo à utilização de falsas promessas, táticas de insinuação e desinformação.

  2. Obstrução e falta de utilidade – conduz a atitudes mutuamente negativas e a suspeita relativamente às intenções de uns em relação aos outros. As perceções de A (indivíduo ou grupo) relativamente a B, tendem a centrar-se nas qualidades negativas e ignorar as positivas.

  3. As partes envolvidas no processo são incapazes de dividir o seu trabalho – duplicando os esforços tornando-se imagens espelho; caso dividam o trabalho, sentem a necessidade de verificar continuamente  o que o outro está a fazer (desconfiança).

  4. Experiência repetida de desacordo – e a rejeição crítica das ideias reduz a confiança em si próprio bem como nos outros.

  5. As partes conflituantes procuram aumentar o seu próprio poder – reduzindo o poder dos outros. Qualquer aumento no poder do outro é visto como uma ameaça a si próprio:

    • Jogos de Poder dentro do Jogo Desportivo:

      • Promover a rotura da organização da equipa adversária (destabilizar, desorganizar, impedir, perturbar, destruir). Anular as ações dos adversários.

      • As linhas de força do sistema de jogo: interceção das ligações dos adversários – o jogo deve ser analisado e compreendido em termos de relações de força entre as equipas (Jorge Castelo “Futebol, modelo técnico-tático do jogo”).

      • Princípios Gerais: não permitir a inferioridade numérica, evitar a igualdade numérica e procurar criar a superioridade numérica (jogos de forças/poder).

      • O espaço de jogo suporta o desenvolvimento da luta entre as duas equipas onde cada uma dela procura criar a rotura da organização da equipa adversária e/ou desequilibrar a organização da equipa adversária.

  6. Subjugação e Submissão – o processo competitivo estimula a crença de que a solução de um conflito apenas pode acontecer através da imposição dos interesses de uma das partes sobre a outra, que por sua vez conduz à utilização de táticas de coerção que podem evoluir para ameaças físicas ou psicológicas e violência. Esta abordagem tende a exacerbar a dimensão dos problemas em conflito à medida que cada uma das partes procura superioridade, em termos de poder e legitimidade. O conflito torna-se numa luta de poder ou um princípio moral e deixa de estar confinado a uma questão em particular num dado momento e lugar. A escalada do conflito aumenta o seu significado motivacional dos participantes e pode tornar uma derrota limitada menos aceitável e mais humilhante do que o desastre mútuo. À medida que o conflito sofre uma escalada, perpetua-se a si próprio através de hostilidades autistas, profecias auto-realizadas e compromissos frágeis.

    • As hostilidades autistas envolvem a rotura do contacto e comunicação entre as partes envolvidas; como consequência, as hostilidades perpetuam-se porque as partes não têm oportunidade para aprender ou consciencializar que a raiz do problema pode estar alicerçado em incompreensões mútuas ou erros de julgamento, nem permite aprender se o outro melhorou para melhor.

    • Profecias auto-realizáveis (Pigmalião) – caracterizam-se pelo envolvimento num comportamento hostil relativamente aos outros baseados numa falsa premissa que antecipa a intenção do outro, do qual se espera que tenha feito algo negativo ou prejudicial para nós, ou se prepara para o fazer; a nossa expectativa negativa torna-se realidade quando nos impulsiona no sentido de um comportamento hostil que provoca o outro levando-o a reagir de uma forma hostil relativamente a nós. A dinâmica da escalada de um conflito destrutivo possui a qualidade inerente de uma loucura a dois onde o Efeito Pigmalião de cada parte envolvida se reforçam mutuamente. Como resultado, ambos os lados estão corretos quando assumem que a outra parte é provocadora, desonesta e malevolente. Cada uma das partes tende a manifestar uma miopia relativamente à cor-responsabilidade na construção do conflito, não compreendendo o contributo individual para esse processo.

    • Compromissos frágeis – durante o processo de escalada do conflito as partes não só assumem posições rígidas, como também se podem comprometer involuntariamente com atitudes, perceções e crenças negativas, defendendo-se contra os ataques esperados dos outros, bem como os investimentos envolvidos na operacionalização das suas atividades conflituantes. Desta forma, durante a escalada do conflito, uma pessoa (um grupo, uma equipa ou uma nação) pode assumir a crença que o outro é um inimigo mau, que pretende tirar vantagem sobre nós (o nosso grupo ou nação), a convicção de que temos que estar constantemente atentos e preparados para nos defendermos contra o perigo que os outros nos podem causar relativamente aos nossos interesses vitais e também investir nos meios para nos defendermos dos outros e atacar. Depois de um conflito prolongado, é difícil renunciar a um rancor, desarmar as nossas defesas sem nos sentirmos vulneráveis, bem como prescindir da carga emocional associada à mobilização e vigilância envolvida no conflito.

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  • Eric Berne. Games People Play - The psychology of human relationships. Life.

  • Morton Deutsch. The Resolution of Conflict - Constructive and destructive processes. Yale University press.

Debates

Duas realidades diferentes

Qual a maior diferença, por exemplo, entre uma controvérsia construtiva e um debate competitivo:

  • Controvérsia construtiva – os intervenientes discutem as suas diferenças com o objetivo de as clarificar procurando encontrar soluções que integrem as melhores ideias que emergem durante a discussão, independentemente de quem as articula. Não existe um vencedor ou um perdedor porque ambos vencem porque ambos beneficiam de uma perceção mais amadurecida e aprofundada do problema. Este modelo permite gerir de forma positiva as diferenças que as pessoas trazem para  o debate cooperativo, valorizando as diferenças de compreensão, perspetivas, conhecimentos e visões de mundo enquanto recursos válidos. A cooperação induz e é induzida pelas semelhanças de crenças e atitudes percebidas, prontidão para ser útil, abertura para a comunicação, atitudes amigáveis e de confiança, sensibilidade para com os interesses comuns, evitar a crispação relativa aos interesses opostos, orientação no sentido de aumentar o poder mútuo em vez de potenciar as diferenças.

  • Debate competitivo – aqui existe sempre um vencedor e um perdedor. Cada fação assume possuir as melhores ideias, capacidades, conhecimentos ou outros argumentos e tipicamente vence enquanto a outra, que é julgada ou avaliada como inferior (menos boa) perde. A competição avalia e categoriza (hierarquizar) as pessoas em função da sua capacidade para desempenhar uma determinada tarefa em vez de integrar as várias contribuições. A competição é induzida pelas táticas de coerção, ameaça, engano com o intuito de aumentar as diferenças de poder entre os adversários, sobressai uma comunicação empobrecida (ineficaz), desvalorização da consciência das semelhanças, em termos de valores e um aumento da sensibilidade relativamente a interesses opostos que fomentam atitudes hostis e de suspeição/desconfiança que, por sua vez, exageram a importância, rigidez e dimensão das questões em conflito verificando-se uma escalada de tensão.

Os efeitos superficiais da cooperação e competição devem-se ao tipo de interdependência subjacente (positiva ou negativa) ao tipo de ação (eficaz ou confusa), aos processos sociais e psicológicos básicos envolvidos na teoria (Substituibilidade, atitudes e Indutibilidade) e ao contexto social, cultural e situacional onde estes processos se exprimem. Assim, a dimensão da atitude positiva, expressa numa relação positiva e interdependente, depende do que é considerado apropriado dentro do contexto social, cultural e situacional, ou seja, presumivelmente não procuraríamos exprimi-lo de uma forma que seria humilhante ou embaraçosa ou sentida como negativa pela outra parte.

A Teoria da Resolução de Conflitos de Morton Deutsch define um processo construtivo de resolução de um conflito enquanto processo cooperativo eficaz de resolução de um problema onde o conflito corresponde ao problema comum a ser resolvido. Também relaciona o Processo Destrutivo de Resolução de Conflitos como um processo competitivo em que as partes em litígio se envolvem numa competição ou luta para determinar quem vence e quem perde, e normalmente o resultado desta luta é uma perda para ambas as partes. Consideram-se vários ingredientes que afetam o conflito tais como o poder e influência, resolução de problemas em grupo, perceção social e cognição, criatividade, conflitos intra-psíquicos e a personalidade.

O cérebro humano é um órgão social e Quando alguém é percebido como inimigo, são utilizados circuitos diferentes. Também, quando se trata alguém como competidor / concorrente, a capacidade para a empatia cai significativamente. Michela Balconi e Maria E. Vanutelli referem no seu artigo que a cooperação e a competição são dois exemplos opostos a nível da dinâmica interpessoal e os quais assumem diferentes padrões cognitivos, neuronais e comportamentais. Os estudos de hipervarredura baseados em EEG mostram que links aparecem nos cérebros dos participantes durante a cooperação, mas não durante a competição ou tarefa individuais simultâneas, mas independentes.

Contínua na coluna ao lado

 

 

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  • Carwyn Jones and Michael John McNamee. Moral Reasoning, Moral Action, and the Moral Atmosphere of Sport. Sport, Education and Society, Vol. 5, No. 2, pp. 131–146, 2000

  • Todd K. Shackelford and Viviana A. Weekes-Shackelford. The Evolution of Morality. Springer

  • Katerina Mouratidou, Stavroula Goutza and Dimitrios Chatzopoulos. Physical education and moral development: An intervention programme to promote moral reasoning through physical education in high school students. European Physical Education Review. Volume13(1):41–56

  • Michela Balconi and Maria E. Vanutelli. Cooperation and Competition with Hyperscanning Methods: Review and Future Application to Emotion Domain. Frontiers in Computational Neuroscience. eptember 2017 | Volume 11 | Article 86

  • Jean Decety et col. The neural bases of cooperation and competition: an fMRI investigation. Neuroimage. 2004 October ; 23(2): 744–751

  • Minhye Lee et al. Cooperative and Competitive Contextual Effects on Social Cognitive and Empathic Neural Responses. Frontiers in Human Neuroscience. June 2018 | Volume 12 | Article 218

  • Artur Czeszumsk el al. Cooperative Behavior Evokes Interbrain Synchrony in the Prefrontal and Temporoparietal Cortex: A Systematic Review and Meta-Analysis of fNIRS Hyperscanning Studie. ENEUR. March/April 2022, 9(2). pp 1–9

Cooperação e Competição contextual e os Processos Cognitivos Sociais

Cooperação vs Competição

Os resultados da investigação de Minhye Lee e colaboradores sobre os processos cognitivos sociais envolvidos na cooperação e na competição confirmam a hipótese que, quando os indivíduos realizam tarefas num contexto cooperativo, realizam-nas de forma mais rápida e precisa, mostrando ativações neuronais mais fortes nas redes de mentalização e nas regiões do cérebro associadas à recompensa, comparativamente às tarefas realizadas de forma individual ou em contexto competitivo. Os efeitos da cooperação, a nível das respostas neuronais cognitivas sociais, são mais fortes para os indivíduos com resultados mais elevados  nos traços de empatia comparativamente àqueles com menores resultados nos traços de empatia. Os indivíduos mais empáticos mostram respostas empáticas mais fortes relativamente à dor dos outros num contexto cooperativo.

Desporto e raciocínio Moral!

Se a estrutura do jogo competitivo das aulas de EF, (aceite na nossa cultura física) encoraja a procura do interesse próprio ao mesmo tempo que desencoraja o diálogo moral, então os dilemas morais da formação desportiva desde idades precoces (1º ciclo) podem provocar níveis mais baixos de raciocínio moral como respostas contextualmente apropriadas.

Pelo facto dos vários domínios da experiência social gravitarem em torno das mesmas redes cerebrais utilizadas pelas necessidades primárias de sobrevivência – as necessidades sociais são ameaçadas da mesma forma, no cérebro, como a necessidade pela água e alimento. A exposição das crianças a uma situação de jogo desportivo (oposição) onde os alunos sentem que o seu estatuto, a sua segurança, autonomia, pertença e justiça são constantemente postos em causa (ameaçados), promove uma corrosão da auto-estima e criam-se mecanismos passivo-defensivos e agressivo-defensivos como resposta apropriada a uma realidade que é interpretada pelo cérebro como uma ameaça à sobrevivência.

O desporto valoriza os traços de personalidade competitivos (Jogos Finitos e mentalidade Finita), estados mentais que se orientam para a comparação social e valorizam uma atitude de superioridade do ego. Se o raciocínio moral no desporto é mais egocêntrico (menos maduro) do que o raciocínio moral sobre a vida conforme os níveis morais de Haan (1983) então, será este o melhor referencial axiológico a utilizar na formação moral dos alunos em sala de aula quando os preparamos para uma moralidade mais ampla e abrangente – a moralidade da vida quotidiana.

Os níveis de raciocínio moral sobre os dilemas do desporto são significativamente mais baixos do que os níveis de raciocínio sobre os dilemas da vida. Se a estrutura do desporto competitivo, aceite na nossa cultura, encoraja a procura do interesse próprio enquanto desencoraja o diálogo moral, então os dilemas do desporto podem provocar níveis mais baixos de raciocínio moral como respostas contextualmente apropriadas.

No desporto, o objetivo (ao contrário do diálogo moral de Haan) não é equalizar as relações. Isso pode ser visto como um comportamento egoísta, egocêntrico ou de interesse próprio e, como tal, é a antítese da ação moralmente madura quando analisada à luz dos níveis morais de Haan.

Hugo Rudolfo Luvisolo e colaboradores “competição e cooperação, na procura do equilíbrio” referem que o desporto competitivo seria um força de substituição mimética do tipo de confronto que a guerra significa, como muitos jogos tradicionais, geralmente simulando a guerra. Os desportos e jogos caracterizam-se pelas restrições à violência impostas pelo respeito obrigatório às regras que os estruturam. Para Elias (1992), o desporto moderno, controlado por regras e juízes, seria um vetor do processo civilizatório que diminui o umbral de aceitação da violência, gerando uma excitação socialmente aceitável. Ou seja, o desporto não elimina o confronto, apenas substitui uma forma violenta de confronto por uma violência que é controlada e diminuída.

Os neurocientistas concordam: os humanos e os seus cérebros e mentes são moldados, e normalmente funcionam, através da interação contínua com outras pessoas. O cérebro humano é um órgão social e Quando alguém é percebido como inimigo, são utilizados circuitos diferentes. Também, quando se trata alguém como competidor / concorrente, a capacidade para a empatia cai significativamente. Michela Balconi e Maria E. Vanutelli referem no seu artigo que a cooperação e a competição são dois exemplos opostos a nível da dinâmica interpessoal e os quais assumem diferentes padrões cognitivos, neuronais e comportamentais. Os estudos de hipervarredura baseados em EEG mostram que links aparecem nos cérebros dos participantes durante a cooperação, mas não durante a competição ou tarefa individuais simultâneas, mas independentes.

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