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Pedagogia da Cooperação

Nós moldamos a natureza humana moldando as instituições nas quais as pessoas vivem e trabalham. (…) nós devemos questionar (…) que tipo de natureza humana queremos ajudar a moldar? Barry Schwartz “Sabedoria Prática”

A virtude que mais precisamos, é a que Aristóteles chamou Sabedoria Prática, a qual é a "vontade de fazer o que está certo e a capacidade de distinguir o que está correto do ponto de vista moral e ético!..."

Pedagogia Cooperativa

Aprender a cooperar

Não basta colocar  os alunos num grupo de trabalho para se afirmar que existe aprendizagem cooperativa. Normalmente afirmamos que no seio de uma equipa desportiva existe cooperação, porém é necessário enfatizar que não é pelo facto de os alunos estarem num grupo/equipa, jogar jogos cooperativos ou participar em atividades de Team-Building que torna esse processo numa aprendizagem cooperativa.

Grupos de estudo, grupos de projetos, grupos de laboratório, grupos de leitura são grupos, mas não são necessariamente cooperativos. Para nos assegurarmos que um grupo é cooperativo, os professores têm que compreender as diferentes formas de aprendizagem cooperativa e que elementos devem ser cuidadosamente estruturados para que as ações sejam de facto cooperativas.

A aprendizagem cooperativa é um modelo pedagógico que pressupõe 5 elementos críticos que agem como linhas orientadoras para a implementação com sucesso da Aprendizagem Cooperativa:

  1. Interdependência positiva*, claramente percebida.

  2. Interação interpessoal considerável (literacia emocional e social).

  3. Total consciência da responsabilidade individual para se atingir o objetivo do grupo.

  4. Utilização das competências de relação interpessoal relevantes em pequenos grupos.

  5. Garantir o tempo necessário para a reflexão em grupo que permite regular e melhorar a sua eficácia.

NOTA: * existe interdependência positiva quando os alunos compreendem que estão vinculados como membros de um grupo de tal forma que o sucesso apenas é alcançado se os restantes elementos do grupo tiverem sucesso. Por outras palavras, os objetivos de todos os atores envolvidos estão de tal forma correlacionados positivamente que a probabilidade de um ator atingir os seus objetivos individuais, está totalmente relacionada e dependente da probabilidade do outro ator alcançar os seus objetivos.

Ao contrário, nos jogos desportivos verifica-se uma interdependência negativa, ou seja, os objetivos de ambos os atores envolvidos (equipa) estão inversamente correlacionados de tal forma que a probabilidade de um grupo/equipa atingir os seus objetivos individuais, pressupõe que a outro grupo/equipa tenha muito pouca ou nenhuma probabilidade em alcançar os seus objetivos.

A Pedagogia da Oposição (jogos desportivos) dominou a narrativa do século XX. A Motricidade Humana, no nosso entender, é uma ciência do século XXI e promove sobretudo a Pedagogia da Cooperação enquanto modelo de interação social que privilegia a interdependência positiva e um raciocínio moral superior.

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  • Ben Dyson and Ashley Casey. Cooperative Learning in Physical Education and Physical Activity - a practical Introduction. Routledge.

  • Maria Isabel G. S. Cochito. Cooperação e a aprendizagem - educação intercultural. ACIME: PDF

Jogos Cooperativos

Jogar uns com os outros

Os Programas de Educação Física, para serem considerados Ecléticos, também se devem organizar em torno das Ciências e Pedagogia dos Jogos Cooperativos cuja essência é a Cooperação. Grande parte dos jogos estimula o confronto e não o encontro entre os jogadores – a “repedagogização” da EF deve privilegiar o encontro e não no confronto.

Foi a partir da preocupação com a excessiva valorização do individualismo e da competição exacerbada que surgiram os jogos cooperativos, de forma que a partir deles os alunos joguem uns com os outros e não uns contra os outros. Os jogos cooperativos têm como principal proposta a procura de novas formas de jogar, com o intuito de diminuir as manifestações de agressividade durante os jogos.

A investigação mostrou que a resolução construtiva de conflitos inerente aos jogos cooperativos é superior em resultados comparativamente aos processos competitivos com o mesmo propósito. Para compreendermos a natureza dos processos envolvidos num conflito, esta última afirmação assume um grande significado em termos teóricos e práticos. Sugere que os processos construtivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos cooperativos de resolução de problemas e, em contrapartida, os processos destrutivos de resolução de conflitos são semelhantes aos processos competitivos.

O que nos diz a investigação das neurociências relativamente aos processos cognitivos na cooperação vs competição:

  • A realização de tarefas num contexto cooperativo é mais rápida e precisa, mostrando ativações neuronais mais fortes nas redes de mentalização e nas regiões do cérebro associadas à recompensa, comparativamente às tarefas realizadas de forma individual ou em contexto competitivo.

  • Os efeitos da cooperação a nível das respostas neuronais cognitivas sociais, são mais fortes para os indivíduos com resultados mais elevados  nos traços de empatia comparativamente à competição com menores resultados nos traços de empatia. Os indivíduos mais empáticos mostram respostas empáticas mais fortes relativamente à dor dos outros num contexto cooperativo.

  • O cérebro humano é um órgão social e quando alguém é percebido como inimigo e/ou adversário, concorrente ou competidor, são utilizados circuitos diferentes e a empatia cai significativamente. Os estudos de hipervarredura baseados em EEG mostram o aparecimento de links nos cérebros dos participantes durante a cooperação, mas não durante a competição ou tarefa individuais simultâneas, mas independentes.

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  • Pedagogia da Cooperação. Fundação Vale: PDF

  • Dada Maheshvarananda. Cooperative games for a cooperative world - Facilitating trust, communication, and spiritual connection. Inner world Publications.

  • Reinaldo Soler. Educação Física uma abordagem cooperativa. Sprint.

  • Reinaldo Soler. Esporte cooperativo - uma proposta para além das quadras, campos e pátios. Sprint.

  • Fábio Otuzi Brotto. Pedagogia da cooperação - por um mundo onde todas as pessoas possam Ven-Ser. Bambual Portugal.

Game Designer

Teoria do Jogo - como criar jogos que promovam um raciocínio moral superior

A emergência das correntes cognitivistas e construtivistas, centradas no processamento de informação, tomada de decisão e na construção do conhecimento e auto-regulação da aprendizagem, têm ganho maior notoriedade uma vez que propiciam a ampliação dos modelos de investigação sobre os jogos em domínios negligenciados.

Se analisarmos as propostas de jogos considerados matérias nucleares e alternativas na EF, verificamos que todos eles apresentam semelhanças estruturais e podem agrupar-se em 4 categorias:

  1. Jogos de alvo (golfe, bowling, bilhar, tiro com arco)

  2. Jogos de rede/parede (ténis, badminton, padel, voleibol)

  3. Jogos de batimento (basebol, softball, criquet)

  4. Jogos de invasão|territorial (futebol, basquetebol, andebol, rugby, corfebol, floorbal, fresbee, etc…)

Uma análise mais detalhada permite-nos observar algumas características que se repetem:

  • São jogos finitos possuindo fronteiras numéricas, espaciais e temporais.

  • São jogos de oposição (desportivos) e por isso caracterizam-se pela interdependência negativa (atitude competitiva) onde os objetivos estão inversamente correlacionados.

  • Segundo o modelo de Norma Haan, os jogos desportos (oposição - interdependência negativa) promovem um raciocínio moral inferior.

  • Segundo as neurociências, o cérebro é um órgão social e quando processa alguém como adversário a capacidade para a empatia cai significativamente. Além disso, a sincronicidade dinâmica entre-cérebros perde-se nas situações de competição.

  • Promovem sempre o mesmo tipo de raciocínio moral e os mesmos valores.

Questões:

  • Será possível divergir dos Programas de EF (da sua homogeneização) e planear ambientes de aprendizagem inovadores e ricos onde os alunos aprendam as competências motoras, sociais e emocionais através de Percursos Curriculares Alternativos?

  • Como criar jogos que promovam um raciocínio moral superior, sincronização entre-cérebros e empatia entre os jogadores e sobretudo onde todos saiam vitoriosos?

  • Segundo o modelo da teoria do jogo, como utilizar a mecânica dos jogos para criar diferentes dinâmicas, estéticas e éticas?

  • Como criar jogos que explorem diferentes narrativas (dinâmicas) tais como o prazer sensorial, estímulo à imaginação, ligação pelo drama, recompensa por superação, contacto e interação social, estímulo à exploração, autoconhecimento e/ou tarefas automáticas?

  • Será possível promover a interdisciplinaridade com o Português, História, Matemática e outras disciplinas na conceção de jogos?

  • Como operacionalizar o modelo Game Designer assumindo a abordagem pedagógica centrada em problemas (Metodologia de Trabalho por Projetos)?

Jorge Olímpio Bento no seu livro Planeamento e avaliação em educação física afirma na página 32 que o Programa é obrigatório, mas não é nenhum dogma! (...) este está sempre ao serviço do desenvolvimento da personalidade dos alunos. A publicação do Despacho n.º 6605-A/2021 de 6 de julho revogou os Programas Nacionais de Educação Física (PNEF) constituindo uma grande oportunidade para a inovação pedagógica no campo da Educação Física.

A cooperação e a competição são dois exemplos comuns e opostos a nível da dinâmica interpessoal e os quais  assumem diferentes padrões cognitivos, neuronais e comportamentais. O Processo de Game Designer permite-nos criar jogos que promovam nos alunos a capacidade de tomar decisões sociais com atenção plena (mindfullness):

 

  • Decisões sociais com atenção plena: este tipo de decisões dirige-se à “mente social” que reconhece as necessidades e desejos dos outros antes de decidir sobre as suas ações. A atenção social plena apenas se torna possível quando as pessoas são capazes de reconhecer que as suas escolhas afetam as opções e escolhas de outros jogadores, e demonstram a vontade em agir em conformidade.

  • Decisões sociais sem atenção plena: este tipo de decisões dirige-se à “mente racional” e apenas reconhece as decisões e ações estratégias que lhe permitem ter vantagem sobre os outros ou apenas olham para os seus benefícios.  Ou seja, o seu sucesso depende desta sobreposição de interesses, “eu” ou a “minha equipa” antes do “outro” ou da  “outra equipa” - mentalidade e valores próprios dos jogos desportivos competitivos. Os níveis de raciocínio moral sobre os dilemas do desporto são significativamente mais baixos do que os níveis de raciocínio sobre os dilemas da vida. Se a estrutura do desporto competitivo, aceite na nossa cultura, encoraja a procura do interesse próprio, desencorajando o diálogo moral, então os dilemas do desporto podem provocar níveis mais baixos de raciocínio moral como respostas contextualmente apropriadas.

 

No desporto, o objetivo (ao contrário do diálogo moral de Haan) não é equalizar as relações. Isso pode ser visto como um comportamento egoísta, egocêntrico ou de interesse próprio e, como tal, é a antítese da ação moralmente madura quando analisada à luz dos níveis morais de Haan. Este é um forte argumento para que os Professores de Educação Física reequacionem o tipo de jogos e os valores que privilegiam, os quais têm um impacto na formação da personalidade dos alunos e no tipo de valores que interiorizam.

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  • Simon Sinek. O Jogo Infinito. Lua de papel.

  • James P. Carse. Finite and Infinite Games - a vision of life as play and possibility. Free Press.

  • Eric Berne. Games People Play - The psychology of human relationships. Life.

  • Morton Deutsch. The Resolution of Conflict - Constructive and destructive processes. Yale University press.

  • Jane McGonigal. Reality is Broken - Why games make us better and how they can change the world. The penguin Press.

  • Ricardo Ribeiro. Jogos Cooperativos em Educação Física, um estudo de caso. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias.

  • Sergio Rivera-Pérez et all. Effects of an 8-Week Cooperative Learning Intervention on Physical Education Students’ Task and Self-Approach Goals, and Emotional Intelligence. Int. J. Environ. Res. Public Health 2021, 18, 61

  • Carwyn Jones and Michael John McNamee. Moral Reasoning, Moral Action, and the Moral Atmosphere of Sport. Sport, Education and Society, Vol. 5, No. 2, pp. 131–146, 2000:

  • Todd K. Shackelford and Viviana A. Weekes-Shackelford. The Evolution of Morality. Springer:

  • Katerina Mouratidou, Stavroula Goutza and Dimitrios Chatzopoulos. Physical education and moral development: An intervention programme to promote moral reasoning through physical education in high school students. European Physical Education Review. Volume13(1): 41–56:

Team Building

Do Grupo à Equipa

O que é o Team Building?

  • Team = equipa | Building = prédio; Build = construir. "Construir Equipas!".

  • Dinâmica de grupo em situação de desafios físicos ou adversidades (obstáculos).

  • Espírito de equipa - grupos de pessoas que, quando juntas, trabalham em sinergia.

Fará algum sentido abordar o Team-Building nas aulas de EF?

  • As habilidades de Team Building usam tarefas colaborativas para ajudar os participantes a trabalhar em grupo de forma organizada em função de um objetivo ou propósito comum. Os membros da equipe sentem-se valorizados e são livres para partilhar as suas ideias e planos. A equipa trabalha em conjunto para atingir as metas estabelecidas através da colaboração e da compreensão e aceitação dos pontos fortes e fracos de cada um.

  • Geralmente as competências de Team Building são essenciais para:

    1. Alinhar os elementos de um grupo em torno de um objetivo específico comum.

    2. Construir fortes relações entre os elementos do grupo.

    3. Facilitar a resolução de conflitos dentro das equipas.

    4. Delegar tarefas para reduzir a ambiguidade nas funções da equipa.

  • Exemplos de competências próprias do Team Building:

    • Comunicação, Motivação, Liderança, Delegação, Trabalho em equipa, Empatia, Confiabilidade: digno de confiança, integridade, sinceridade, Paciência.

  • Como melhorar as competências de Team-Building:

    1. Participar em atividades cooperativas divertidas (desafios).

    2. Definir claramente metas e objetivos o que permite à equipa compreender o que se espera dela.

    3. Capacidade para receber críticas construtivas.

    4. Colaborar e ajudar a equipa estando disponível.

    5. Implementar a liderança informal e circular.

    6. Reconhecer o valor e recompensar.

    7. Investir no otimismo e valorizar os pontos fortes.

    8. Comemorar os sucessos e as conquistas.

    9. Dar espaço para as diferentes personalidades valorizando-as.

  • Cada vez mais as organizações procuram estratégias que promovam sobretudo estilos construtivos de interação nos seus operacionais porque sabem que o sucesso depende da coesão e cooperação. As próprias organizações apercebem-se que os ambientes internos competitivos, baseados nos estilos agressivo-defensivos, promovem um ambiente tóxico e comprometem o sucesso. Os estudos mostram que os grupos menos eficazes adotam uma cultura/perfil mais competitivo (agressiva/defensiva orientada para a tarefa) e passiva/defensiva (orientados para a segurança). Os Grupos/Cultura mais eficaz estão orientados para os estilos construtivos (satisfação das necessidades).

  • Muitos dos desafios que o Professor de EF enfrenta nas suas aulas estão diretamente relacionados com a gestão de conflitos, as dificuldades de comunicação com os alunos e entre eles e também a falta de coesão e organização (disciplina) dos alunos. O Team-Building é uma estratégia muito útil para facilitar a Promoção de Competências Socioemocionais nos alunos o que ajuda a implementar estilos construtivos em sala de aula.

  • Também se torna necessário redefinir a noção de sucesso:

  1. Sucesso na perspetiva da competição: ganhar, superar o adversário, imposição de força!…

  2. O sucesso na perspetiva da cooperação: contribuir, ajudar os outros a ter sucesso!…

As atividades de Team-Building articulam-se muito bem com a Aprendizagem Socioemocional (ASE) - CASEL (Consórcio Colaborative for Academic, Social and Emotional Learning)

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  • Morton Deutsch. 1973. The resolution of conflict - constructive and destructive process.Yale University press.

  • Morton Deutsch 2006. Cooperation and competition. The Handbook of conflict resolution: Theory and practice PDF

  • Michela Balconi and Maria E. Vanutelli. Cooperation and Competition with Hyperscanning Methods: Review and Future Application to Emotion Domain. Frontiers in Computational Neuroscience. eptember 2017 | Volume 11 | Article 86:

  • Jean Decety et col. The neural bases of cooperation and competition: an fMRI investigation. Neuroimage. 2004 October ; 23(2): 744–751:

  • Minhye Lee et al. Cooperative and Competitive Contextual Effects on Social Cognitive and Empathic Neural Responses. Frontiers in Human Neuroscience. June 2018 | Volume 12 | Article 218

  • Artur Czeszumsk el al. Cooperative Behavior Evokes Interbrain Synchrony in the Prefrontal and Temporoparietal Cortex: A Systematic Review and Meta-Analysis of fNIRS Hyperscanning Studie. ENEUR. March/April 2022, 9(2). pp 1–9

  • Michela Balconi and Maria E. Vanutelli. Cooperation and Competition with Hyperscanning Methods: Review and Future Application to Emotion Domain. Frontiers in Computational Neuroscience. eptember 2017 | Volume 11 | Article 86

  • Jean Decety et col. The neural bases of cooperation and competition: an fMRI investigation. Neuroimage. 2004 October ; 23(2): 744–751:

O Próximo grande salto Evolutivo da Humanidade

Será a descoberta que Cooperar é melhor

Que competir!...

Neurociências

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